tag:blogger.com,1999:blog-25677921529828594592024-02-07T00:22:15.683-08:00Escola Austríaca de EconomiaGrupo de estudos de Brasília, Distrito Federal.Unknownnoreply@blogger.comBlogger29125tag:blogger.com,1999:blog-2567792152982859459.post-56134455589319580492013-08-02T11:57:00.000-07:002013-08-02T12:00:34.837-07:00O uso do conhecimento na sociedade<b><span style="font-size: x-small;"><i>por Friedrich A. Hayek (American Economic Review, XXXV, No. 4; Setembro de 1945, pp. 519–30. Texto extraído do site <a href="http://ordemlivre.org/">OrdemLivre.org</a>)</i></span></b><br />
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<b>I</b><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.adigaskell.org/blog/wp-content/uploads/2013/02/creativity11-e1350842733549.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="160" src="http://www.adigaskell.org/blog/wp-content/uploads/2013/02/creativity11-e1350842733549.jpg" width="200" /></a></div>
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Qual é o problema que buscamos resolver quando tentamos construir uma ordem econômica racional? Partindo de alguns pressupostos amplamente aceitos, a resposta é bastante simples. Se detivéssemos todas as informações relevantes, se pudéssemos tomar como ponto de partida um sistema de preferências estabelecido, e se tivéssemos completo conhecimento dos meios disponíveis, o resto do problema seria simplesmente uma questão de lógica. Ou seja, a resposta para a pergunta por qual é o melhor uso dos meios disponíveis está implícita em nossos pressupostos. As condições que devem ser satisfeitas para a solução desse problema ideal foram completamente analisadas e podem ser melhor expostas em um modelo matemático: sucintamente, diríamos que as taxas marginais de substituição entre quaisquer dois bens ou fatores devem ser as mesmas independentemente dos seus diferentes usos.<br />
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Este, no entanto, decididamente não é o problema econômico que a sociedade enfrenta; e o cálculo econômico que desenvolvemos para resolver esse problema lógico, embora seja um importante passo na direção da solução do problema econômico da sociedade, não oferece ainda uma resposta para ele. O motivo disto é que os “dados” totais da sociedade a partir dos quais são feitos os cálculos econômicos nunca são “dados” a uma única mente para que pudesse analisar as suas implicações – e nunca serão.<br />
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O caráter peculiar do problema de uma ordem econômica racional se caracteriza justamente pelo fato de que o conhecimento das circunstâncias nas quais precisamos agir nunca existe de forma concentrada e integrada, mas apenas como pedaços dispersos de conhecimento incompleto e freqüentemente contraditório, distribuído por diversos indivíduos independentes. O problema econômico da sociedade, portanto, não é meramente um problema de como alocar “dados” recursos – se por “dados” entendermos algo que esteja disponível a uma única mente que possa deliberadamente resolver o problema com base nessas informações. Ao invés disso, o problema é de como garantir que qualquer membro da sociedade fará o melhor uso dos recursos conhecidos, para fins cuja importância relativa apenas estes indivíduos conhecem. Ou, para dizê-lo sucintamente, o problema é o da utilização de um conhecimento que não está disponível a ninguém em sua totalidade.<br />
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O caráter fundamental desse problema tem sido, infelizmente, obscurecido, e não iluminado, por muitos dos recentes refinamentos na teoria econômica, e em particular pelos usos variados da matemática. Embora o problema de que eu queira tratar primordialmente nesse artigo seja o problema da organização de uma economia racional, para seguir esse caminho precisarei de repetidamente chamar atenção para as ligações íntimas que esse problema possui com certas questões metodológicas. Muitos dos argumentos que pretendo apresentar são, de fato, conclusões alcançadas por meio de diferentes caminhos de raciocínio que inesperadamente convergiram. Mas, do modo como eu hoje entendo essas questões, essa convergência não é uma coincidência. Parece-me que muitas das divergências que surgem tanto no campo da teoria econômica quanto no da política econômica possuem uma origem comum em uma má compreensão da natureza do problema econômico da sociedade. Essa má compreensão, por sua vez, se deve a uma aplicação indevida de hábitos mentais desenvolvidos para lidar com problemas da natureza aos fenômenos sociais.<br />
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<b>II</b><br />
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Na linguagem comum, definimos a palavra “planejar” como o conjunto das decisões inter-relacionadas relativas à alocação dos nossos recursos disponíveis. Toda atividade econômica, nesse sentido, é planejamento; e, em qualquer sociedade em que várias pessoas colaborem, o planejamento, independentemente de quem o faça, terá de basear-se em certos conhecimentos; e esses conhecimentos não estarão disponíveis em primeira instância para o planejador, mas antes para alguém que deverá retransmiti-los ao planejador. Os vários modos pelos quais o conhecimento chega às pessoas que o utilizam para elaborar seus planos é um problema crucial para qualquer teoria que almeje explicar o processo de mercado; e o problema de qual é melhor meio de utilizar o conhecimento que está inicialmente disperso entre várias pessoas independentes é pelo menos um dos principais problemas para a política econômica – ou para qualquer tentativa de conceber um sistema econômico eficiente.<br />
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A resposta para essa pergunta está intimamente relacionada com outra questão que emerge aqui: a de quem está planejando. Toda a divergência sobre “planejamento econômico” parte dessa questão. Não está em discussão se se deve planejar ou não, mas sim se o planejamento deve ser feito de forma centralizada, por uma autoridade única para todo o sistema econômico, ou se ele deve ser dividido entre vários indivíduos. No sentido específico em que o termo é utilizado nas controvérsias contemporâneas, planejamento significa necessariamente planejamento central – direcionar todo o sistema econômico de acordo com um projeto unificado. A competição, por outro lado, significa uma descentralização do planejamento, que será realizado por muitas pessoas independentes. O caminho do meio entre essas duas posições – muito falado, mas pouco apreciado quando visto em prática – é a delegação do planejamento para certas indústrias organizadas, isto é, a instituição de monopólios.<br />
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A questão de qual desses sistemas será mais eficiente depende principalmente da questão de qual deles podemos esperar um uso mais completo do conhecimento existente. E isto, por sua vez, depende de se nós temos uma probabilidade maior de conseguir colocar todo o conhecimento que está disperso entre vários indivíduos à disposição de uma autoridade central, ou de dar aos indivíduos um conhecimento adicional suficiente para que eles se tornem capazes de integrar os seus planos aos dos outros.<br />
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<b>III</b><br />
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Ficará imediatamente evidente que, neste ponto, a resposta será diferente de acordo com os diferentes tipos de conhecimento; e a resposta para a nossa pergunta irá, conseqüentemente, voltar-se para a importância relativa de diferentes tipos de conhecimento; aqueles que mais provavelmente estarão à disposição de indivíduos particulares, e aqueles que teríamos mais certeza de encontrar na posse de um órgão constituído por especialistas bem escolhidos. Se hoje em dia é tão amplamente aceito que a segunda opção é preferível, isto ocorre porque um tipo de conhecimento – o conhecimento científico – ocupa nos dias de hoje um lugar tão proeminente na imaginação pública que chegamos a esquecer que esse não é o único tipo de conhecimento relevante. Pode-se admitir que, em relação ao conhecimento científico, um órgão com um punhado de especialistas bem escolhidos seja a melhor opção para melhor dominar o conhecimento disponível – embora isso, obviamente, seja meramente trocar um problema por outro: o problema de como escolher esses especialistas. O que desejo frisar é que, mesmo presumindo que esse problema pudesse ser imediatamente resolvido, ele seria apenas parte de um problema maior.<br />
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Hoje é quase uma heresia sugerir que o conhecimento científico não corresponde à totalidade do conhecimento. Mas um pouco de reflexão irá mostrar que, sem sombra de dúvida, existe um corpo importantíssimo de conhecimento desorganizado que não pode ser chamado de científico, entendendo “científico” como o conhecimento de certas regras gerais: o conhecimento de certas circunstâncias particulares de tempo e lugar. É em relação a isso que praticamente todo indivíduo tem alguma vantagem comparativa em relação a todos os outros, pois ele possui informações únicas sobre que tipos de usos benéficos podem ser feitos com certos recursos; usos estes que só acontecerão se a decisão de como utilizá-los for deixada nas mãos desse indivíduo ou for tomada com sua cooperação ativa. Basta apenas lembrarmos o quanto precisamos aprender em qualquer profissão depois de termos completado nossa formação teórica, quão grande é a parte da nossa vida profissional em que passamos aprendendo habilidades específicas, e quão valioso, em todas as circunstâncias da vida, é o conhecimento das pessoas, das condições locais e de certas circunstâncias especiais. Conhecer e saber operar uma máquina que não estava sendo adequadamente explorada, ou a habilidade de alguém que poderia ser mais bem aproveitada, ou estar consciente de um excedente de reservas que pode ser usado durante uma interrupção temporária do fornecimento, é tão útil socialmente quanto o conhecimento das melhores técnicas alternativas. O transportador que ganha sua vida descobrindo como melhor aproveitar seu espaço de carga que ficaria vazio, o agente imobiliário cujo conhecimento consiste quase exclusivamente em encontrar oportunidades temporárias, ou o <i>arbitrageur</i>, que lucra a partir das diferenças locais entre os preços de certos bens – todos eles realizam trabalhos eminentemente úteis que são baseados em um conhecimento especial das circunstâncias de um momento fugidio, desconhecido por outros.<br />
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É curioso que nos dias de hoje esse tipo de conhecimento seja amplamente menosprezado, e que as pessoas que fazem uso dele para alcançarem privilégios sobre pessoas com melhor preparo teórico ou técnico sejam vistas quase como se estivessem fazendo algo desonrado. Mas, embora conquistar privilégios usando um conhecimento superior quanto às condições de comunicação e transporte seja visto como algo quase desonesto, a verdade é que, para a sociedade, é quase tão importante fazer o melhor uso possível dessas oportunidades quanto das últimas descobertas científicas.<br />
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Esse preconceito tem uma influência considerável sobre o fato de as pessoas costumarem adotar uma atitude mais desfavorável em relação ao comércio do que em relação às atividades produtivas. Mesmos os economistas que se crêem totalmente imunes às rasas falácias materialistas do passado constantemente cometem os mesmos erros em relação às atividades relacionadas à aquisição de conhecimento prático – e o motivo disso parece ser que, segundo o modo como eles vêem o mundo, esse tipo de conhecimento já deveria estar “dado” em vez de ser algo que precise ser buscado. A idéia mais comum na atualidade parece ser a de que todo conhecimento desse tipo deveria estar constantemente disponível para todo mundo e, como isso não ocorre, critica-se a ordem econômica atual por ser supostamente irracional. Essa concepção ignora o fato de que o método de tornar esse conhecimento amplamente disponível é precisamente o problema que precisamos resolver.<br />
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<b>IV</b><br />
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Se hoje em dia está na moda minimizar a importância do conhecimento das circunstâncias particulares de tempo e espaço, isso se deve em grande medida a pouca importância dada à questão da incerteza em si mesma. De fato, parte dos pressupostos (que geralmente estão apenas implícitos) adotados pelos “planejadores” diferem dos seus oponentes tanto em relação à capacidade de mudanças imprevistas causarem alterações substanciais nos planos de produção quanto em relação à freqüência com que isso ocorre. Evidentemente, se fosse possível fazer previamente planos econômicos detalhados para períodos significativamente longos, e depois segui-los à risca, de modo que nenhuma outra decisão econômica importante fosse necessária, a tarefa de elaborar um planejamento completo para toda a atividade econômica não seria algo tão inatingível.<br />
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Talvez valha a pena frisar que os problemas econômicos surgem sempre e exclusivamente em decorrência de mudanças. Enquanto as coisas continuam exatamente como estavam antes – ou ao menos quando elas prosseguem de acordo com o que se esperava delas – então não surgirão novos problemas que exijam soluções, não havendo, portanto, necessidade de que se elabore um novo planejamento. A crença de que a mudança – ou ao menos os pequenos ajustes cotidianos – se tornou menos importante nos tempos modernos parte do princípio de que a contenção dos problemas econômicos também se tornou menos importante. Por esse motivo, as pessoas que costumam menosprezar a importância da incerteza são as mesmas que argumentam que as questões econômicas já não são tão importantes quanto o conhecimento tecnológico.<br />
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Será verdade que, graças ao sofisticado aparato da indústria moderna, só é preciso tomar decisões econômicas em intervalos longos; como na hora de decidir se uma nova fábrica deve ser construída, ou um novo procedimento deve ser introduzido? É verdade que, uma vez que uma fábrica tenha sido construída, o resto é mais ou menos mecânico, determinado por suas características, deixando pouco a ser mudado para adaptar-se às eternas flutuações de cada momento?<br />
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A experiência prática dos homens de negócios, até onde eu a conheço, não sustenta essa crença amplamente aceita. Pelo menos nas áreas de negócios que são competitivas – e apenas essas áreas servem de modelo para essa questão – a tarefa de impedir os custos de subir exige um luta constante, que absorve grande parte da energia do administrador. É fácil para um administrador ineficiente gastar as pequenas sobras de onde saem os lucros; é um lugar-comum da experiência empresarial que, com as mesmas condições técnicas, a mesma produção pode ser feita dentro de uma variedade enorme de custos – mas isso não é igualmente conhecido pelos que estudam apenas economia. O próprio desejo – freqüentemente declarado pelos produtores e engenheiros – de ser autorizado a fazer seus projetos sem considerações financeiras é um testemunho eloqüente do poder que esses fatores exercem sobre seu trabalho diário.<br />
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Um dos motivos para a crescente incapacidade dos economistas de atentarem para as constantes pequenas mudanças que compõem o todo da atividade econômica é provavelmente que eles estão cada vez mais preocupados com dados estatísticos, que passam uma imagem muito mais estável da economia do que os pequenos movimentos diários. No entanto, a relativa estabilidade dos grandes dados estatísticos não pode ser explicada – como os estatísticos freqüentemente querem fazer crer – pelas “leis dos grandes números” ou pela mútua compensação de pequenas mudanças aleatórias. O número dos elementos com que eles lidam não é grande o suficiente para que essas forças acidentais produzam estabilidade. O continuo fluxo de bens e serviços é mantido por ajustes deliberados e constantes, por novas decisões tomadas diariamente à luz de circunstâncias que eram desconhecidas até o dia anterior, pela decisão de B de entrar em cena quando A deixa de executar o seu papel. Mesmo a maior e mais mecânica das fábricas segue adiante em grande parte por causa de um ambiente que pode lhe prover todas as suas demandas inesperadas: novas telhas para seu telhado, papéis para seus documentos, e todos os mil e um tipos de equipamentos que não podem ser produzidos pela própria fábrica, mas que, para que ela continue a funcionar, precisam estar facilmente disponíveis no mercado.<br />
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Nesse instante, devo brevemente observar que o tipo de conhecimento de que tenho tratado é de um tipo que, por sua própria natureza, não pode ser transposto para dados estatísticos e que, por isso, não pode ser colocado à disposição de uma autoridade central que delibere a partir de levantamentos estatísticos. As estatísticas que essa autoridade teria de utilizar surgiriam exatamente por meio das abstrações das pequenas diferenças entre as coisas, juntando como se fossem elementos de um só tipo itens com diferentes características de lugar, qualidade e outras características particulares, que seriam muito importantes para tomar uma decisão específica. Conseqüentemente, planejamento central baseado em informações estatísticas, por sua própria natureza, não pode levar em consideração diretamente as circunstâncias de tempo e lugar, precisando encontrar algum jeito de essas decisões serem deixadas para alguém que esteja no local.<br />
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<b>V</b><br />
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Se pudermos convir que o problema econômico da sociedade é basicamente uma questão de se adaptar rapidamente às mudanças das circunstâncias particulares de tempo e lugar, parece ser evidente que, por conseqüência, as decisões fundamentais devem ser deixadas a cargo de pessoas que estejam familiarizadas com essas circunstâncias, que possam conhecer diretamente as mudanças relevantes e os recursos imediatamente disponíveis para lidar com elas. Não podemos esperar que essa problema seja resolvido por meio da transmissão de todo esse conhecimento para um diretório central que, depois de ter integrado todo esse saber, emita uma ordem. Precisamos da descentralização porque apenas assim podemos garantir que o conhecimento das circunstâncias particulares de tempo e lugar sejam prontamente utilizados. Mas o homem que está dentro de uma situação particular não pode tomar decisões com base apenas em seu conhecimento dos fatos relativos aos seus arredores imediatos, pois, apesar de este ser um conhecimento íntimo, é também limitado. No entanto, persiste o problema de como transmitir a esse homem informações suficientes para que ele seja capaz de encaixar suas decisões no padrão geral das mudanças do sistema econômico como um todo.<br />
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De quanto conhecimento ele precisa para ser bem sucedido nisso? Quais dos eventos que acontecerão além do seu horizonte imediato de conhecimento são relevantes para sua decisão imediata, e quão bem ele precisa conhecer esses eventos?<br />
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Praticamente não há nada que ocorra no mundo que não possa influenciar a decisão que ele precisa tomar. Mas ele não precisa conhecer esses eventos em si mesmos, nem precisa conhecer todos os seus efeitos. Para ele, não é importante saber o porquê de um certo tipo de parafuso estar sendo mais procurado em uma época específica, ou porque os sacos de papéis estão mais facilmente disponíveis que os sacos de lona, ou porque trabalhadores especializados ou máquinas específicas momentaneamente se tornaram difíceis de encontrar. Tudo que ele precisa saber é quão mais ou menos difícil está a aquisição de certas coisas em relação a outras coisas que também lhe interessam, ou se a demanda por outras coisas que ele produz ou usa é mais ou menos urgente. Ele sempre está preocupado com a importância relativa de coisas particulares, enquanto os fatores que alteram essa importância relativa não lhe interessam de forma alguma, exceto na medida dos próprios efeitos causados sobre as coisas concretas do seu ambiente.<br />
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É em relação a isso que aquilo que chamei de “cálculo econômico” nos ajuda, ao menos por analogia, a entender como esse problema pode ser resolvido – na verdade, como ele já está sendo resolvido – pelo sistema de preços. Mesmo se existisse uma única mente controladora que possuísse todos os dados sobre um sistema econômico pequeno e restrito, ela não iria dar-se ao trabalho de repassar por todas as relações entre fins e meios que talvez possam ser afetadas a cada vez que algum pequeno ajuste na alocação recursos fosse feito. De fato, uma das grandes contribuições da lógica pura da escolha é ter demonstrado conclusivamente que mesmo uma única mente onisciente só poderia resolver esse tipo de problema por meio da construção e da constante utilização de taxas de equivalência (ou “valores” ou “taxas marginais de substituição”), ou seja, por meio da atribuição de um índice numérico a cada tipo de recurso que, sem ser derivado de nenhuma propriedade dessa coisa em particular, ainda refletisse ou condensasse sua relevância na estrutura total dos meios e fins. Para cada pequena mudança, ela teria que considerar apenas esses índices quantitativos (ou “valores”), no qual a informação relevante estaria concentrada; e, ao ajustar as quantidades uma a uma, ela poderia reorganizar todos os elementos sem precisar retomar todo o quebra-cabeça desde o início nem precisar parar a cada etapa para analisar novamente todos os elementos e suas ramificações.<br />
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Basicamente, em um sistema no qual o conhecimento dos fatos relevantes está disperso entre várias pessoas, os preços podem servir para coordenar as diferentes ações de várias pessoas do mesmo modo como os valores subjetivos ajudariam aquela mente onisciente a coordenar as diferentes partes do seu plano. Vale a pena contemplar por um instante um exemplo muito simples e comum do sistema de preços em ação para ver exatamente o que ele pode fazer. Suponha por um instante que, em algum lugar do mundo, uma nova oportunidade de usar alguma matéria prima surgiu – tomemos o estanho como exemplo – ou então que alguma das fontes de estanho tenha sido eliminada. Para o nosso exemplo não importa – e é muito significativo que isso não importe – qual dessas duas causas tenham aumentado a escassez de estanho. Tudo que os usuários de estanho precisam saber é que parte do estanho que eles costumavam consumir agora está sendo usado com mais proveito em outro lugar e, em decorrência disto, eles precisam ser mais econômicos em seu uso.<br />
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Não é preciso nem que boa parte deles saiba de onde essa demanda mais urgentemente surgiu, nem mesmo em prol de quê eles irão poupar esses recursos. Basta que alguns deles saibam diretamente da existência da nova demanda e transfiram recursos para ela, que algumas outras pessoas percebam o vazio que foi então criado e ajam para preenchê-lo com recursos de outras fontes, e então o efeito irá rapidamente se espalhar por todo o sistema econômico, influenciando não apenas todos os usos do estanho, mas também os usos dos seus substitutos, e dos substitutos desses substitutos, assim como a oferta de todas as coisas feitas de estanho, e a dos seus substitutos dessas coisas, e assim por diante; e tudo isso ocorre sem que a grande maioria daqueles que realizam essas substituições saiba nada sobre a causa original dessas mudanças. O todo age como se fosse um único mercado, mas isso não ocorre porque cada um dos seus membros pôde analisá-lo como um todo, mas sim porque os campos limitados da visão de cada um tinham alcance suficiente para que, através de inúmeros intermediários, a informação relevante fosse comunicada para todos. O mero fato de que há um preço para cada bem – ou, melhor dizendo, que cada preço local está ligado de certa forma com o custo de transportá-lo para esse local, e assim por diante – traz a mesma solução que uma única mente dotada de todas as informações (embora ela seja apenas uma possibilidade imaginária) teria alcançado, ainda que essas informações na verdade estejam dispersas entre todas as pessoas envolvidas no processo.<br />
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<b>VI</b><br />
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Precisamos entender o sistema de preços como um mecanismo de transmissão de informações para podermos entender sua verdadeira função – uma função que ele cumpre evidentemente com menos perfeição na medida em que os preços se tornam mais rígidos. (Mas mesmo quando preços tabelados se tornam extremamente rígidos, as forças que normalmente atuariam causando mudanças no preço permanecem agindo, exercendo uma influência considerável sobre as mudanças em outros aspectos dos contratos). O principal aspecto desse sistema é a economia de conhecimento com que ele opera; ou, em outros termos, é quão pouco os participantes individuais precisam saber para ser capazes de tomar as decisões corretas. De forma abreviada, por meio de um certo tipo de símbolo, apenas a informação mais essencial é transmitida adiante, e apenas para aqueles que estão interessados nela. Não seria apenas uma metáfora se disséssemos que o sistema de preços é tipo um caixa registrador, ou um sistema de telecomunicações que permite aos produtores individuais observar apenas o movimento de alguns fatores – do mesmo modo como um engenheiro pode se concentrar apenas nos consoles de alguns mostradores – para adaptar as suas atividades às mudanças que eles conhecem apenas a partir do que é mostrado pelo movimento dos preços.<br />
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Evidentemente, esses ajustes provavelmente nunca são “perfeitos” no sentido de perfeição que os economistas utilizam em suas análises sobre o equilíbrio econômico. No entanto, temo que nosso hábito teórico de abordar cada problema com a presunção de um conhecimento mais ou menos perfeito da parte de quase todos os envolvidos quase nos tenha cegado para a verdadeira função do mecanismo de preço, levando-nos a aplicar de forma enganosa padrões inadequados para julgar sua eficiência. É maravilhoso que em uma situação na qual haja escassez de um tipo de matéria prima, sem que nenhuma ordem seja dada, sem que talvez não mais que um punhado de pessoas saibam a causa dessa escassez, dezenas de milhares de pessoas cujas identidades jamais serão conhecidas, mesmo depois de meses de investigação, começam então a utilizar essa matéria ou seus subprodutos de maneira mais econômica; ou seja, todas elas agem na direção correta. Isto, em si mesmo, é suficientemente maravilhoso; mesmo que, em um mundo de incertezas constantes, nem tudo consiga se organizar tão perfeitamente para que suas porcentagens de lucros se mantenham constantemente no mesmo nível considerado “normal”.<br />
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Usei deliberadamente a palavra “maravilha” para chocar o leitor e retirá-lo da complacência com que costumamos dar como certo o funcionamento desse mecanismo. Estou convencido de que se isso fosse o resultado de um projeto humano consciente, e que as pessoas guiadas pelas mudanças dos preços soubessem que suas decisões possuem uma importância muito maior do que a realização dos seus fins imediatos, então esse mecanismo seria louvado como um dos maiores triunfos da mente humana. O seu azar é duplo: nem ele é o fruto de um projeto humano, nem as pessoas guiadas por ele costumam entender porque elas fazem as coisas que são levadas a fazer. Mas aqueles que clamam por uma “direção consciente” – e que não podem acreditar que algo que tenha sido criado sem um planejamento (e, de fato, sem que nem mesmo alguém o compreendesse como um todo) possa resolver problemas que nós mesmos não podemos resolver conscientemente – devem lembrar-se do seguinte: o problema é precisamente de como expandir a extensão da utilização dos recursos além da extensão do entendimento de um único indivíduo; e, portanto, trata-se de um problema de como administrar a necessidade de controle consciente, e de como dar incentivos para os indivíduos tomarem as decisões desejáveis sem que alguém lhes diga o que fazer.<br />
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O problema de que estamos tratando aqui de forma alguma diz respeito exclusivamente à economia, pois ele surge junto com quase todos os outros verdadeiros fenômenos sociais, com a linguagem e boa parte da nossa herança cultural, constituindo de fato o problema central de toda ciência social. Como Alfred Whitehead disse, em relação a outra coisa, “Um truísmo profundamente falso, repetido por todos os manuais e nos discursos das pessoas eminentes, diz que devemos cultivar o hábito de pensar sobre o que estamos fazendo. O oposto é que é verdadeiro. A civilização progride quando aumentamos o número de trabalhos importantes que podemos realizar sem pensar neles”. Isso possui uma profunda importância no campo social. Usamos constantemente fórmulas, símbolos e regras cujo significado não entendemos, mas por meio dos quais podemos ter acesso a conhecimentos que, individualmente, não possuímos. Criamos essas práticas e instituições tomando como base os hábitos e instituições que se mostraram bem sucedidos em suas próprias esferas e que se tornaram a fundação em cima da qual construímos a civilização.<br />
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O sistema de preços é apenas uma dessas criações que o homem aprendeu a usar (embora ele ainda esteja longe de ter aprendido a usá-lo perfeitamente), depois que se deparou com ele, mesmo antes de entendê-lo. Por meio dele não apenas a divisão de trabalho, mas também o uso coordenado de recursos baseado em conhecimentos amplamente divulgados se tornam possíveis. As pessoas que gostam de ridicularizar qualquer sugestão de que é assim que as coisas funcionam distorcem nosso argumento ao insinuar que estamos dizendo que é por algum milagre que um sistema como esse se desenvolveu espontaneamente, tornando-se o mais adequado para a civilização moderna. Trata-se exatamente do contrário: o homem pode criar essa divisão do trabalho sobre a qual a nossa civilização se sustenta justamente porque ele se deparou com um método que a tornou possível. Caso isso não tivesse ocorrido, ele talvez tivesse desenvolvido um tipo inteiramente diferente de civilização, talvez o “Estado” dos cupins, ou outra coisa totalmente inimaginável. Tudo que podemos dizer é que até agora ninguém conseguiu produzir um sistema alternativo no qual certas características do sistema existente – que são respeitadas mesmo por aqueles que o atacam violentamente – possam ser preservadas, especialmente em relação à capacidade do indivíduo de escolher seus objetivos e, conseqüentemente, de dispor livremente de suas habilidades e conhecimento.<br />
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<b>VII</b><br />
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Por vários motivos, é ótimo que a necessidade do sistema de preços para qualquer cálculo racional em uma sociedade complexa já não seja mais objeto de discussão apenas entre grupos com opiniões políticas distintas. A tese segundo a qual sem o sistema de preços nós não poderíamos preservar uma sociedade baseada numa divisão de trabalho tão extensiva quanto a nossa foi recebida com gritos de chacota quando Mises a apresentou há vinte e cinco anos. Hoje os argumentos que alguns ainda apresentam para rejeitar essa tese não são mais exclusivamente políticos, e isso cria uma atmosfera muito mais receptível a discussões ponderadas. Quando vemos Leon Trostky argumentando que o “cálculo econômico é inimaginável sem as relações de mercado”; quando o professor Oscar Lange promete ao professor von Mises uma estátua de mármore no futuro Diretório de Planejamento Central, e quando o professor Abba P. Lerner redescobre Adam Smith, enfatizando que a utilidade essencial do sistema de preços consiste em induzir o indivíduo a fazer aquilo que é do interesse geral no instante em que busca realizar seus próprios interesses, então, as divergências já não podem ser atribuídas a preconceitos políticos. Os dissidentes restantes parecem claramente divergir dessa posição por motivos puramente intelectuais e, mais particularmente, por causa de diferenças metodológicas.<br />
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Uma declaração recente do professor Joseph Schumpeter em seu “Capitalismo, socialismo e democracia” fornece um exemplo perfeito dessas diferenças metodológicas que tenho em mente. O autor é um dos economistas mais proeminentes entre aqueles que analisam o fenômeno econômico a partir de algum ramo do positivismo. Para ele, esses fenômenos surgem por conseqüência do mútuo efeito exercido por certas quantidades objetivas de bens, quase como se não houvesse intervenção alguma de mentes humanas. Apenas por causa desses pressupostos, posso compreender a declaração seguinte – e, para mim, espantosa. O professor Schumpeter argumenta que a possibilidade do cálculo racional na ausência de um mercado para os fatores de produção é uma decorrência da proposição teórica segundo a qual “os consumidores que estão avaliando (demandando) os bens de consumo ipso facto também estão avaliando os meios de produção que entram na produção daqueles bens” (1).<br />
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Tomada literalmente, essa declaração é simplesmente falsa. Os consumidores não fazem nada disso. O que o "ipso facto" do professor Schumpeter provavelmente significa é que a avaliação dos fatores de produção está implícita, ou que se segue necessariamente, da avaliação dos bens de consumo. Mas isso também não é verdadeiro. A implicação é uma relação lógica que só pode ser afirmada com segurança a partir de pressupostos que estejam para o mesmo indivíduo. É evidente, no entanto, que os valores dos fatores de produção não dependem exclusivamente da avaliação dos bens de consumo, mas também das condições de fornecimento dos vários fatores de produção. Apenas um único indivíduo que conhecesse todos esses fatores simultaneamente poderia encontrar uma resposta derivada diretamente desses dados. O problema prático surge, no entanto, precisamente porque esses dados nunca estão inteiramente disponíveis para um único indivíduo, e porque, por conseqüência, é necessário para resolver esse problema a utilização de conhecimentos que estão dispersos por vários indivíduos.<br />
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O problema, portanto, não estaria de forma alguma resolvido se demonstrássemos que todos os dados, se estivessem disponíveis para uma única mente (como hipoteticamente estariam para o economista que observasse o problema), iriam por si mesmos determinar a solução; ao invés disso, precisaríamos demonstrar como uma solução poderia ser produzida pela interação entre as pessoas que, individualmente, possuem apenas um conhecimento parcial. Presumir que todo o conhecimento possa ser colocado à disposição de uma única mente, do modo como presumimos que ele pode estar disponível para nós, como economistas dedicados a analisar uma questão, equivale a fugir do problema e menosprezar tudo que é importante e relevante no mundo real.<br />
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Que um economista da estatura do professor Schumpeter tenha caído em tal armadilha por causa da ambigüidade que o termo “dado” tem para os incautos dificilmente poderia ser considerado um simples erro. Isto sugere, de fato, que há algo de fundamentalmente errado com uma abordagem que freqüentemente despreza uma parte essencial dos fenômenos com os quais temos que lidar:a inevitável imperfeição do conhecimento humano e a necessidade decorrente de um processo por meio do qual o conhecimento seja constantemente adquirido e transmitido. Qualquer abordagem – como grande parte da economia matemática com suas várias equações simultâneas – que parta do pressuposto de que o conhecimento das pessoas corresponde aos fatos objetivo de cada situação, irá sistematicamente deixar de lado aquilo que é a nossa principal tarefa explicar. Estou longe de negar que, em nosso sistema, a análise do equilíbrio econômico tem uma atividade útil a desempenhar, mas quando chega o ponto em que ela ofusca nossos principais intelectuais, fazendo-os acreditar que a situação que estão descrevendo tem uma relevância direta para a solução de problemas práticos, está mais que na hora de nos lembrarmos que esse tipo de análise não lida com o processo social de forma alguma, e de que isso não é mais do que uma etapa preliminar para a investigação do problema principal.<br />
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<i>Notas</i><br />
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(1) Schumpeter, Capitalismo, Socialismo e Democracia [Capitalism, Socialism, and Democracy (New York; Harper, 1942), p. 175]. O professor Schumpeter é, me parece, o responsável pela criação do mito segundo o qual Pareto e Barone teriam “resolvido” o problema do cálculo econômico no socialismo. O que eles e muitos outros fizeram foi apenas elencar as condições que deveriam ser satisfeita para uma alocação racional de recursos, e observar que essas condições eram essencialmente as mesmas do estado de equilíbrio de um mercado competitivo. Isso é inteiramente diferente de saber como a alocação de recursos segundo essas condições pode ser observada na prática. O próprio Pareto (de quem Barone praticamente tomou quase tudo que tinha a dizer), longe de declarar ter resolvido esse problema prático, de fato, negou explicitamente que ele poderia ser resolvido sem o auxílio do mercado. Vejam o seu Manuel d'économie pure (2d ed., 1927), pp. 233–34, [“Manual de economia pura”]. As passagens relevantes estão citadas em uma tradução inglese no início do meu artigo Socialist Calculation: The Competitive ‘Solution’ [“O cálculo socialista: a ‘solução’ competitiva”] in Economica, New Series, Vol. VIII, No. 26 (May, 1940), p. 125.].<br />
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<b>Friedrich A. Hayek</b> (1899-1992) foi um membro fundador do Mises Institute. Ele dividiu seu Prêmio Nobel de Economia, em 1974, com seu rival ideológico Gunnar Myrdal "pelos seus trabalhos pioneiros sobre a teoria da moeda e das flutuações econômicas e por suas análises perspicazes sobre a interdependência dos fenômenos econômicos, sociais e institucionais".Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2567792152982859459.post-53638995546615329592013-07-29T12:45:00.002-07:002013-07-29T12:56:01.330-07:00Dilapidação do capital, capacidade ociosa e mau investimento dos recursos produtivos<b><span style="font-size: x-small;"><i>por Jesus Huerta de Soto (extraído do livro <a href="http://www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=65" target="_blank">Moeda, Crédito Bancário e Ciclos Econômicos</a>)</i></span></b><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.bloomberg.com/image/iVntvy5q3E0k.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><br /></a><a href="http://www.bloomberg.com/image/iVntvy5q3E0k.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="216" src="http://www.bloomberg.com/image/iVntvy5q3E0k.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
A consequência essencial da expansão de crédito sobre a estrutura produtiva consiste, em última instância, na descoordenação do comportamento dos diferentes agentes econômicos. De fato, os empresários começam a ampliar as etapas produtivas tornando-as mais intensivas em capital, ao passo que os demais agentes econômicos não estão dispostos a segui-los sacrificando o consumo e aumentando o volume global da poupança voluntária. Este desajuste ou descoordenação, que tem origem numa agressão sistemática ao processo de interação social (constituída pelo privilégio concedido pelos governos aos bancos para que atuem com um coeficiente de reserva fracionária no contrato de depósito à vista), gera inevitavelmente um processo de crise que, mais cedo ou mais tarde, põe fim aos erros empresariais cometidos. Contudo, o processo exige tempo e é inevitável que, quando termine, tenha havido equívocos significativos que se tornaram <i>irreversíveis</i>.<br />
<br />
Os erros consistem no empreendimento e na tentativa de culminação de um conjunto de projetos de investimento que envolvem um alongamento e um alargamento da estrutura de bens de capital que, no entanto, não é possível concluir por falta de recursos reais poupados. Além disso, uma vez que os recursos e fatores de produção originais se materializem em bens de capital, estes se tornam, em maior ou menor grau, <i>inconvertíveis</i>. Isto significa que muitos bens de capital passarão a ter um valor nulo assim que se torne evidente que não existe demanda por eles, que foram elaborados por erro e que nunca deveriam ter sido produzidos. Será possível continuar a utilizar outros, mas só depois de serem submetidos a uma remodelação dispendiosa. É ainda possível que se consiga terminar a produção de outros, mas dada a <i>complementaridade </i>exigida pela estrutura de bens de capital, podem nunca chegar a entrar em funcionamento, se os recursos complementares necessários não chegarem a ser produzidos. Por fim, pode também ocorrer o caso de ser possível reconverter os bens de capital por um custo relativamente reduzido, embora esses casos sejam, sem dúvida, uma minoria.[1] Nasce assim, como sabemos, um mau investimento generalizado (<i>malinvestment</i>) dos escassos recursos produtivos da sociedade e, por conseguinte, uma perda dos escassos bens, que tem origem na <i>informação distorcida</i> recebida durante um determinado período de tempo pelos empresários na forma de obtenção mais fácil de créditos a taxas de juro relativamente mais reduzidas.[2] Também é possível que muitos processos de investimento iniciados fiquem a meio, dado o abandono a que são votado antes de serem terminados, quando os promotores percebem que não poderão continuar a obter novos recursos financeiros necessários para seu término, ou quando reconhecem que, embora possam continuar a obter créditos, esses processos de investimento não têm viabilidade econômica. Em suma, o mau investimento generalizado se manifesta na não utilização de muitos bens de capital, na não finalização de muitos processos de investimento iniciados, ou na utilização dos bens de capital produzidos de uma forma diferente da prevista originalmente. Dilapida-se, desta forma, grande parte dos recursos escassos da sociedade, pelo que esta empobrece generalizadamente e vê o nível de vida diminuir em termos reais.<br />
<br />
Muitos economistas interpretaram erradamente o fato de uma parte significativa dos erros cometidos se materializar em bens de capital já terminados, que, porém, não podem ser utilizados por falta dos correspondentes bens complementares de capital ou do capital circulante necessário. De fato, muitos consideram que este fenômeno de "capacidade ociosa" é uma demonstração prima facie de que é necessário aumentar o consumo global para pôr em funcionamento a capacidade ociosa que foi desenvolvida, mas ainda não é utilizada. Não notam que, como refere Hayek,[3] a existência de "capacidade ociosa" em muitos processos produtivos (mas, especialmente, nos mais afastados do consumo, como as indústrias de construção, telecomunicações, alta tecnologia e, em geral, de bens de capital) não prova, de forma alguma, que exista um excesso de poupança e que o consumo seja insuficiente. Pelo contrário, é um <i>sintoma </i>de que não podemos utilizar o capital produzido por erro na sua totalidade, uma vez que a procura imediata de bens e serviços de consumo é tão urgente que não nos podemos dar ao luxo de produzir os bens de capital complementares ou o capital circulante necessários para aproveitar e pôr em funcionamento essa capacidade ociosa. Em síntese, a crise acontece como resultado de um excesso relativo de consumo, ou, por outras palavras, de uma escassez relativa de poupança, que não permite terminar os processos iniciados, nem produzir bens complementares de capital nem o capital circulante necessários para pôr em funcionamento os processos de investimento e os bens de capital que, por qualquer razão, tenha sido possível terminar durante o processo de expansão.[4]<br />
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<i>NOTAS</i><br />
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[1] Em princípio, e como regra prática, pode ser dito que quanto mais perto estiver do bem final de consumo, mais difícil de reconverter será um bem de capital. De fato, todas as ações humanas são tão mais irreversíveis quanto mais perto se encontrarem do bem final de consumo: uma casa produzida por erro será uma perda quase irreversível, ao passo que o uso dos tijolos é mais facilmente alterado, caso se torne evidente, durante a construção, que utilizá-los na construção da casa é um erro.<br />
<br />
[2] Confirma-se assim que a teoria do ciclo não é mais do que a aplicação, ao caso particular do impacto da expansão de crédito sobre a estrutura produtiva, da teoria sobre os efeitos descoordenadores da coação institucional apresentada no meu livro Socialismo, cálculo económico e función empresarial (ob. cit., e em especial as pp. 111-118). À mesma conclusão chega Ludwig M. Lachmann quando afirma que o mau investimento é <i>"the waste of capital resources in plans prompted by misleading information"</i>, acrescentando que, embora se consiga terminar muitos bens de capital, estes <i>"will lack complementary factors in the rest of the economy. Such lack of complementary factors may well express itself in lack of demand for its services, for instance where these factors would occupy 'the later stages of production'. To the untrained observer it is therefore often indistinguishable from 'lack of effective demand'."</i> Ludwig M. Lachmann, Capital and its Structure, ob. cit., pp. 66 e 117-118.<br />
<br />
[3] Nas palavras do próprio F. A. Hayek: <i>"The impression that the already existing capital structure would enable us to increase production almost indefinitely is a deception. Whatever engineers may tell us about the supposed immense unused capacity of the existing productive machinery, there is in fact no possibility of increasing production to such an extent. These engineers and also those economists who believe that we have more capital than we need, are deceived by the fact that many of the existing plant and machinery are adapted to a much greater output than is actually produced. What they overlook is that durable means of production do not represent all the capital that is needed for an increase of output and that in order that the existing durable plants could be used to their full capacity it would be necessary to invest a great amount of other means of production in lengthy processes which would bear fruit only in a comparatively distant future. The existence of unused capacity is, therefore, by no means a proof that there exists an excess of capital and that consumption is insufficient: on the contrary, it is a symptom that we are unable to use the fixed plant to the full extent because the current demand for consumers' goods is too urgent to permit us to invest current productive services in the long processes for which (in consequence of 'misdirections of capital') the necessary durable equipment is available." </i>F.A. Hayek, Prices and Production, ob. cit., pp. 95-96.<br />
<br />
[4] <i>"After the boom period is over, what is to be done with the malinvestments? The answer depends on their profitability for further use, i.e., on the degree of error that was committed. Some malinvestments will have to be abandoned, since their earnings from consumer demand will not even cover the current costs of their operation. Others, though monuments of failure, will be able to yield a profit over current costs, although it will not pay to replace them as they wear out. Temporarily working them fulfils the economic principle of always making the best of even a bad bargain. Because of the malinvestments, however, the boom always leads to general impoverishment, i.e., reduces the standard of living below what it would have been in the absence of the boom. For the credit expansion has caused the squandering of scarce resources and scarce capital. Some resources have been completely wasted, and even those malinvestments that continue in use will satisfy consumers less than would have been the case without the credit expansion." </i>Murray N. Rothbard, Man, Economy and State, ob. cit., p. 863.<br />
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<b>Jesús Huerta de Soto</b>, professor de economia da Universidade Complutense de Madri, é o principal economista austríaco da Espanha. Autor, tradutor, editor e professor, ele também é um dos mais ativos embaixadores do liberalismo no mundo.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2567792152982859459.post-50956865283556525312013-06-08T15:14:00.002-07:002013-06-08T15:15:24.142-07:00Vídeos II Encontro de Escola Austríaca de Brasília<a href="http://www.mises.org.br/FileUp.aspx?id=261"><b>CLIQUE AQUI</b></a> para acessar as palestras do II Encontro de Escola Austríaca de Brasília, realizado entre os dias 19 e 20 de abril de 2013.<br />
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O GEEA-DF agradece a todos que estiveram presente.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2567792152982859459.post-54241296848623458852013-04-02T19:35:00.002-07:002013-04-21T19:19:09.965-07:00II Encontro de Escola Austríaca de Brasília<br />
O Grupo de Estudos da Escola Austríaca de Brasília e o Instituto Mises Brasil apresentam o II Encontro de Escola Austríaca de Brasília.<br />
<br />
Contribuindo com o contínuo esforço de divulgar as ideias liberais e os conhecimentos da Escola Austríaca de Economia, o II Encontro contará com a presença de grandes nomes da tradição liberal-austríaca no Brasil: Helio Beltrão, Bruno Gaschagen, Ubiratan Iorio e Leandro Roque.<br />
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Programação:<br />
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<b><i>EVENTO 1</i></b><br />
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19 de abril | sexta-feira, 19h30<br />
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Local: IESB Asa Norte, L2 Norte<br />
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"Liberdade, revolução cultural e universidade". Palestra com Bruno Garschagen (Podcaster do IMB, colunista dos sites OrdemLivre.org e O Insurgente).<br />
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*Evento aberto ao público<br />
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<b><i>EVENTO 2</i></b><br />
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20 de abril | sábado<br />
<br />
Local: IESB Asa Norte, L2 Norte<br />
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8h30 - 9h20: Credenciamento e café de recepção.<br />
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9h20 - 10h30: Prof. Ubiratan Iorio (UERJ, IMB)<br />
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A Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos.<br />
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10h30 - 10h50: Coffee Break<br />
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10h50 - 12h00: Leandro Roque (Editor do IMB)<br />
<br />
Análise da economia brasileira à luz da EA: dados e insights teóricos.<br />
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*Vagas Limitadas! Valor: R$80,00<br />
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<form action="https://pagseguro.uol.com.br/checkout/v2/payment.html" method="post" target="pagseguro">
<br /></form>
<b><i>EVENTO 3</i></b><br />
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20 de abril | sábado<br />
<br />
Local: Teatro Eva Herz, Livraria Cultura Shopping Iguatemi<br />
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14h30 às 16h30: Mesa-debate com Helio Beltrão, Bruno Garschagen, Ubiratan Iorio e Leandro Roque<br />
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TEMA: A Crise Financeira Internacional em Perspectiva: Exclamações e Interrogações 5 Anos Depois.<br />
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Quatro analistas ligados à Escola Austríaca de Economia e ao Instituto Mises Brasil falarão – cerca de 10 min. cada um – sobre os desdobramentos da crise financeira internacional deflagrada em 2008, especialmente sobre as medidas tomadas pelos governos e bancos centrais. No radar, também, as expectativas de curto e médio prazo para o Brasil e as principais economias mundiais. Em seguida, rodada livre de debate com os palestrantes.<br />
<br />
*Evento aberto ao público<br />
<br />
<b>Informações:</b> danielmarchi@gmail.com<br />
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<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Trebuchet MS', Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
<b>Realização</b></div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Trebuchet MS', Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
<br /></div>
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<div style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;">
<div style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: left;">
<img alt="geea-df.jpg" border="0" height="67" src="http://www.mises.org.br/images/articles/banners/geea-df.jpg" width="200" /> <img alt="logo_novo_pequeno.jpg" border="0" src="http://www.mises.org.br/images/articles/logo/logo_novo_pequeno.jpg" /> </div>
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</div>
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<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Trebuchet MS', Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
<b><br /></b>
<b><br /></b>
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<b>Apoio</b></div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Trebuchet MS', Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'Trebuchet MS', Verdana, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 20px;">
<img alt="iesb.jpg" border="0" height="196" src="http://www.mises.org.br/images/articles/2012/Imagens%20Site/Eventos/iesb.jpg" width="200" /> <img alt="logo-livraria-cultura-rgb_azul2-300x183.jpg" border="0" height="120" src="http://www.mises.org.br/images/articles/2013/Eventos/logo-livraria-cultura-rgb_azul2-300x183.jpg" width="200" /> </div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2567792152982859459.post-71914028715732717602013-02-04T08:11:00.002-08:002013-02-04T08:11:44.139-08:00Examinando os ciclos econômicos<br />
<i><b><span style="font-size: x-small;">por Daniel Marchi</span></b></i><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://img.ehowcdn.com/article-new/ehow/images/a06/0c/fg/models-business-cycles-1.1-800x800.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="225" src="http://img.ehowcdn.com/article-new/ehow/images/a06/0c/fg/models-business-cycles-1.1-800x800.jpg" width="320" /></a></div>
E lá se vão mais de cinco anos desde a eclosão da crise financeira internacional, quando instituições bancárias norte-americanas começaram a enfrentar sérias dificuldades em função dos títulos hipotecários <i>subprime</i>. Um ano depois do início da crise, a 15 de setembro de 2008, tem-se aquela que é considerada a maior concordata da história americana, pedida pelo banco de investimento Lehman Brothers. Diversos setores da economia dos EUA foram afetados; as taxas de desemprego na maior economia do mundo atingiram níveis recordes em mais de vinte anos. Por tabela, toda a dinâmica de produção e comércio no globo foi afetada. A crise chegou e ficou.<br />
<br />
Um efeito colateral dessa crise – positivo no meu entender – foi a retomada do debate acerca da ocorrência dos ciclos econômicos, períodos em que se observa notável expansão dos negócios seguida de declínio da atividade como um todo. Fenômenos esses que, sim, precisam de uma rigorosa investigação científica sobre suas causas. Pela simples observação, vemos que em economias minimamente regidas pelas leis do mercado é muito comum que empresas nasçam e outras vão à falência. Os empresários não são seres dotados de inteligência super-humana; podem cometer erros de avaliação de demanda, de gestão interna etc. É o sistema de lucros e prejuízos em funcionamento, nada mais. Agora, que estranhas forças são essas que levam muitos homens de negócios, amiúde atuando nos mais diversos setores da economia, a registrarem fraco retorno sobre seus investimentos ou mesmo resultados negativos?<br />
<br />
Essa pergunta é ponto central dos debates envolvendo ciclos econômicos e ela não pode ficar sem resposta satisfatória. A título de exemplo, se você vai a um médico e ele diz que pouco sabe sobre sua doença, mas argumenta convictamente que conhece a cura, é bem provável que à sua frente esteja um perigoso charlatão. Essa é a razão dos bons profissionais sempre se apoiarem em exames. É a arte do diagnóstico. Sabem que é preciso conhecer as causas primeiras, para que elas sejam atacadas, e não apenas os sintomas. De fato, muitos dos economistas que aparecem quase todos os dias na TV e nos jornais apresentando as mais criativas soluções não têm a menor idéia de onde surgem os ciclos de negócios. Neste artigo tentarei abordar o problema, de forma sucinta, tomando como referencial analítico a Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos. Para uma abordagem mais detalhada, inclusive sobre outros tópicos da Escola Austríaca, recomendo a leitura do livro <a href="http://www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=60">“Ação, Tempo e Conhecimento”</a> do professor Ubiratan Iorio, entrevistado da última edição de Vila Nova. Não menos imperdível é o documentário <a href="http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1427">“Fraude: Explicando a grande recessão”</a>, facilmente acessível na internet.<br />
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Voltando àquela que foi descrita como a pergunta central: quais elementos - estranhos ao regime normal de uma economia de mercado - se fazem presentes para que muitos negócios entrem em decadência num espaço de tempo relativamente curto? Os candidatos naturais para se iniciar a investigação são a moeda e o crédito, pelo simples fato de perpassarem toda a economia. Um jovem empreendedor, um presidente de uma gigantesca corporação, aquele que intenciona comprar um imóvel, o estudante a procura de financiamento para seus estudos, todos estes recorrem ao mercado de crédito para iniciar ou ampliar seus negócios ou mesmo proceder a aquisição de um bem. Tomam recursos emprestados e pagam juros por isso. Da mesma forma, indivíduos e empresas que procuram valorizar seus excedentes (aquilo que não foi consumido) também procuram o mercado de crédito. Estes fornecem fundos que serão emprestados; como prêmio por isso, recebem juros, de acordo com cada modalidade de investimento que escolherem.<br />
<br />
Prossigamos com essa imagem: fornecedores de fundos emprestáveis de um lado (os poupadores) e tomadores de empréstimos do outro. Suponhamos que numa determinada sociedade o esforço de poupança feito pelas pessoas é bastante grande. Elas são muito comedidas no consumo presente em prol de uma renda melhor no futuro. Isso implica que o montante de fundos disponíveis para empréstimos é relativamente abundante. Como conseqüência direta da lei da oferta e procura, as taxas de juros (o “preço” dos empréstimos) serão baixas. Juros baixos fazem com que investimentos de longa maturação se tornem viáveis. Recursos reais da economia são gradativamente direcionados dos setores mais próximos da fabricação de bens finais para os setores produtores de bens de capital, que serão utilizados nos negócios de maturação mais longa.<br />
<br />
Percebam a harmonia presente na situação descrita. Os poupadores reduzem o consumo presente, aumentam seu esforço de poupança e esperam colher os frutos desse esforço no futuro. Por meio desse poderoso instrumento impessoal de coordenação, as taxas de juros, os empresários reagem de modo coerente, deslocando a estrutura produtiva para um esquema voltado mais para o longo prazo. Contrário senso, a mesma lógica se faz presente. Num cenário em que livremente as pessoas decidem por uma menor poupança (baixa quantidade de fundos disponíveis para empréstimos), os investimentos com maior prazo de maturação se mostram financeiramente inviáveis. A estrutura de produção da economia se adapta então para atender o desejo dos consumidores: consumir mais no presente.<br />
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Quando o mercado de crédito é alimentado pela decisão das pessoas em poupar, não existem razões que catalisem quebradeiras generalizadas. As mudanças ocorrem de forma gradual, com tempo suficiente para que os empresários ajustem o curso de suas firmas. Obviamente erros de avaliação ocorrerão, mas nada que detone processos insustentáveis. Com elevado ou reduzido esforço de poupança pelas pessoas, são elas que no final das contas determinam como será a estrutura de produção do sistema.<br />
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No entanto não é assim que as coisas funcionam. Se estivéssemos num consultório médico, nesse momento o distinto doutor diria aquela célebre frase: “sente aqui, preciso falar algo muito importante”. Atualmente, e isso vale para a esmagadora maioria dos países, aquilo que as pessoas poupam é diferente daquilo que o sistema financeiro disponibiliza como empréstimo. O segundo prato dessa balança é superior à primeira. Isso implica que as taxas de juros vigentes não se formam de uma interação de mercado, ou seja, carregam pouca informação acerca da relação consumo/poupança presente na sociedade. Como mostrarei abaixo, é o estado o principal responsável por danificar a bússola de todo o mercado, as taxas de juros.<br />
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O estado detém o monopólio da emissão de moeda e é portador de uma dívida monumental. Essas duas características permitem que seus títulos sejam carinhosamente denominados de “ativos livres de risco”, uma vez que pode tranquilamente recorrer ao recolhimento compulsório de recursos da sociedade (impostos) ou à pura e simples impressão de moeda para saldar seus compromissos. Nenhuma outra instituição ou indivíduo goza desse privilégio. E mais, o estado permite e dá garantias para que os bancos comerciais transformem seus depósitos à vista em “múltiplos” empréstimos, num montante muito superior àquilo que foi depositado. Trocando em miúdos, os bancos comerciais têm a faculdade de criar dinheiro a partir do... nada! Se o leitor que sobreviveu até este ponto do texto criar moeda a partir do nada, será enquadrado no Código Penal por falsificação de moeda. Quando o governo faz isso é política monetária ou está apenas operando dentro do sistema bancário de reservas fracionárias, no caso de um banco.<br />
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Sob esse arranjo – dirigido, baseado em monopólios e concessão de privilégios a determinados agentes do sistema financeiro – a sociedade é um ente passivo na determinação das taxas de juros. Qualquer decisão de política monetária ou alteração do percentual de reservas que os bancos devem manter é capaz de mudar <i>ad hoc</i> os valores dos juros praticados na economia. Considerando que o montante de crédito será superior ao volume poupado, os juros básicos estarão num patamar artificialmente baixo. Isso faz com que investimentos de longo prazo se tornem, também artificialmente, viáveis. Como os juros são uma espécie de prêmio para os que deixam de consumir, baixas taxas desestimulam as pessoas a pouparem, aumentado assim o diferencial entre poupança real e fundos para investimento.<br />
<br />
Notem como a orquestra entra em desarmonia. Os empresários, mal orientados pelos juros manipulados, começam a investir em negócios de longo prazo. As pessoas ficam menos incentivadas a poupar, o que é equivalente a um maior direcionamento de recursos para o consumo (curto prazo). Com o passar do tempo, começa uma disputa por recursos reais (e finitos) entre os setores voltados para o consumo imediato e setores que reúnem investimentos de maior maturação. Da mesma forma, com o avançar dos anos, os negócios de longo prazo começam a se mostrar inviáveis pelo simples fato de não haver demanda para eles. Tais empreendimentos surgiram a partir de uma sinalização equivocada e financiados por poupança artificial, não pela escola dos consumidores interagindo livremente nos mercados. Quando a contabilidade dessas empresas, espalhadas pela economia, passam a registrar prejuízos, tem-se o início do fim de mais um ciclo econômico. O período de euforia provocado pelo crédito farto e irreal necessariamente é seguido pela amarga, mas necessária, recessão. É nela que os investimentos errôneos são corrigidos; capital físico e capital humano são realocados para a verdadeira demanda dos consumidores. Numa rápida observação, economias desreguladas são fundamentais para que o processo recessivo seja rápido e menos dolorido para a sociedade.<br />
<br />
De novo no consultório, a situação ficará cada vez pior enquanto os sintomas, e não as verdadeiras causas, forem atacados. Não é com mais crédito artificial e investimentos dirigidos pelo estado que a economia retomará seu curso de desenvolvimento sustentável. De qualquer forma, é preciso ficar claro que os ciclos econômicos não são fenômenos inerentes ao livre mercado. Pelo contrário, são interferências no livre mercado que provocam os ciclos. Estaremos sujeitos às oscilações destruidoras de recursos enquanto o mercado de crédito e os juros forem manipulados. É fundamental que o monopólio da emissão monetária seja quebrado e que os bancos comerciais não criem recursos para empréstimos a partir do nada. A doença é profunda e demanda medidas drásticas.<br />
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<br />
<i>* Publicado originalmente na 5a. edição da <a href="http://revistavilanova.com/">Revista Vila Nova</a>, sob o título "Intervencionismo: o grande vilão causador de crises" (Janeiro de 2013).</i><br />
<i><br /></i>
<i>Daniel Marchi </i>é economista e membro-fundador do Grupo de Estudos da Escola Austríaca de Brasília. E-mail: danielmarchi@gmail.com<br />
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2567792152982859459.post-21191275902761200992013-01-03T12:07:00.000-08:002013-01-03T12:07:00.168-08:00A atividade empresarial no processo de mercado<br />
<span style="font-size: x-small;"><b><i>por Israel M. Kirzner (extraído do livro <a href="http://www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=67">Competição e Atividade Empresarial</a>)</i></b></span><br />
<span style="font-size: x-small;"><b><i><br /></i></b></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://images.whereilive.com.au/images/uploads/2010/07/16/b621ef59bba046024584086455b4c9dd_resized.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://images.whereilive.com.au/images/uploads/2010/07/16/b621ef59bba046024584086455b4c9dd_resized.jpg" width="320" /></a></div>
Para a noção de processo de mercado (...) é essencial a aquisição de informações de mercado através da experiência de participação no mercado. O padrão sistemático de ajustes nos planos de mercado que compõe o processo de mercado decorre (...) da descoberta, pelos participantes do mercado, de que suas expectativas eram exageradamente otimistas ou indevidamente pessimistas. É possível demonstrar que nossa confiança na capacidade do mercado de aprender e utilizar o fluxo contínuo de informações de mercado para gerar o processo de mercado depende crucialmente da nossa crença na presença saudável do elemento empresarial.<br />
<br />
Para isso, imaginemos um mercado onde todos os participantes atuais são de fato incapazes de aprender com sua experiência de mercado. Compradores em potencial que vêm voltando para casa de mãos vazias (porque não vêm oferecendo preços suficientemente altos) não aprenderam que é necessário oferecer lances mais altos que outros compradores; vendedores em potencial que voltam para casa com bens ou recursos não vendidos (porque vêm pedindo preços que são altos demais) não aprenderam que devem, se desejam vender, ficar satisfeitos com preços mais baixos. Compradores que pagaram preços altos não descobrem que poderiam ter obtido os mesmos bens a preços mais baixos; vendedores que venderam por preços baixos não descobrem que poderiam ter obtido preços mais altos. Nesse mundo imaginário de homens incapazes de aprender com sua experiência de mercado, introduzamos um grupo de forasteiros que não são nem vendedores em potencial, nem compradores em potencial, mas que são capazes de perceber oportunidades para lucros empresariais; quer dizer, eles são capazes de perceber onde um bem pode ser vendido a um preço mais alto do que aquele pelo qual foi comprado. Esse grupo de empresários iria, no nosso mundo imaginário, perceber imediatamente as oportunidades de lucro que passaram a existir por causa da ignorância inicial dos participantes originais do mercado, e que persistiram por causa da sua incapacidade de aprender com a experiência deles. Eles iriam comprar a preços baixos dos vendedores que não descobriram que alguns compradores estão pagando preços altos. E eles iriam depois vender esses bens a preços altos ao compradores que não descobriram que alguns vendedores andam vendendo por preços baixos.<br />
<br />
É fácil perceber que, enquanto esse grupo de empresários está ativo no mercado, e enquanto eles estão vigilantes para as mudanças de preços que sua própria atividade provoca, o processo de mercado pode continuar de uma maneira inteiramente normal. Esses empresários comunicarão aos outros participantes do mercado as informações de mercado que estes outros participantes são, por si mesmos, incapazes de obter. A competição entre os diversos empresários os levará a oferecer, aos que vendem a preços baixos, preços mais altos do que os que esses vendedores pensavam ser possíveis; empresários em competição também venderão — a compradores que pagam preços altos — a preços mais baixos do que os que esses compradores pensavam ser possíveis. Gradualmente, a competição, entre os empresários, como compradores e de novo como vendedores, conseguirá comunicar aos participantes do mercado uma estimativa correta da avidez em comprar ou vender dos outros participantes do mercado. Os preços caminharão exatamente da mesma maneira como caminhariam num mundo em que compradores e vendedores fossem capazes de aprender com sua experiência do mercado.<br />
<br />
Fica então claro que não é necessário, ao construir o modelo analítico de um mercado em processo, postular uma compartimentação de papéis assim tão rígida. Em vez de um grupo de participantes do mercado que não aprendem com sua experiência, e um outro grupo (empresarial) que aprende, podemos trabalhar com participantes do mercado que estão alerta para as mudanças nas possibilidades de comprar e vender. O processo ainda continuará a ser essencialmente empresarial, mas em vez de trabalhar com um grupo de empresários "puros", poderíamos simplesmente reconhecer a existência de um elemento empresarial nas atividades de cada participante do mercado.<br />
<br />
O resultado final é sempre o mesmo: o processo competitivo de mercado é essencialmente empresarial. O padrão de decisões em qualquer período dado difere do padrão no período anterior à medida que os participantes do mercado se tornam conscientes de novas oportunidades. À medida que eles exploram essas oportunidades, seus concorrentes empurram os preços em direções que gradualmente estreitam as oportunidades para obtenção de mais lucros. O elemento empresarial no comportamento econômico dos participantes do mercado consiste, como veremos mais tarde em detalhe, no seu estado de alerta, para mudanças anteriormente não notadas nas circunstâncias que podem tornar possível conseguir, em troca do que quer que seja que eles têm a oferecer, muito mais do que era até então possível.<br />
<br />
Nossos insights quanto ao caráter competitivo do processo de mercado e seu caráter empresarial nos ensinam que as duas noções de competição e atividade empresarial são, ao menos no sentido usado aqui, analiticamente inseparáveis. (E independentemente de que termos se escolhe usar, essas duas noções devem ser reconhecidas, e devem ser vistas, como sendo, sempre, simplesmente as duas faces de uma mesma moeda.) O ponto chave é que a atividade empresarial pura só é exercida na ausência da posse inicial de cabedais. Outras funções no mercado envolvem invariavelmente uma busca das melhores oportunidades de troca para traduzir um ativo inicialmente possuído em alguma coisa mais avidamente desejada. O empresário "puro" observa a oportunidade de vender alguma coisa a um preço mais alto do que aquele a que ele a pode comprar. Decorre daí que qualquer um é um empresário potencial, já que o papel puramente empresarial não pressupõe nenhuma grande fortuna inicial sob a forma de cabedais valiosos. Portanto, embora a participação de proprietários de ativos no mercado seja sempre até certo ponto protegida (pelas qualidades peculiares dos ativos possuídos), a atividade de mercado do empresário não está nunca protegida de nenhuma forma. A oportunidade oferecida no mercado por um proprietário de ativo não pode ser livremente reproduzida ou superada por qualquer um; só pode ser reproduzida por outro proprietário de um ativo semelhante. Num mundo no qual não existem dois ativos exatamente iguais, nenhuma oportunidade oferecida por um proprietário de ativo pode ser reproduzida exatamente. Mas se um empresário percebe a possibilidade de obter lucro oferecendo para comprar a um preço atraente para os vendedores e oferecendo para vender a um preço atraente para os compradores, as oportunidades que ele assim oferece ao mercado podem, em princípio, ser oferecidas por qualquer um. A atividade do empresário é essencialmente competitiva. Logo, a competição é inerente à natureza do processo empresarial de mercado. Ou, para dizer de outra maneira, a atividade empresarial é inerente ao processo competitivo de mercado.<br />
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<b>Israel M. Kirzner</b> é professor emérito de economia da New York University, um líder da geração de austríacos após Mises e Hayek, e um scholar adjunto do Mises Institute. Ele escreveu sua tese de doutoramento sob a orientação de Mises, mais tarde publicada como o livro <i>The Economic Point of View </i>(1960). Depois, abriu novos caminhos teóricos com seu livro <i>Competição e Atividade Empresarial</i> (1973). Kirzner também é o autor de mais sete livros e dúzias artigos, incluindo vários na Austrian Economics Newsletter e também na The Review of Austrian Economics.<br />
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2567792152982859459.post-83281391994399377302012-12-23T05:27:00.000-08:002012-12-23T05:28:54.951-08:00Prêmio Nobel para a praxeologia<i><span style="font-size: x-small;"><b>por Tullio Bertini (publicado originalmente no <a href="http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1464">Instituto Mises Brasil</a>)</b></span></i><br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFMrK5eTSBdbplCorRkolft23q3QRcpDzcECn_7KH1f-BCBcefk_-hKArgR_4EhwMgAJ_ueiGbMTqVupIWYsnp10Vr1uQ_jm6g6LTgp-FsvvSYtmCI5bW7DmFikSanFBtNTHMcYhr3u8M/s1600/ManClockRunningMed.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="169" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFMrK5eTSBdbplCorRkolft23q3QRcpDzcECn_7KH1f-BCBcefk_-hKArgR_4EhwMgAJ_ueiGbMTqVupIWYsnp10Vr1uQ_jm6g6LTgp-FsvvSYtmCI5bW7DmFikSanFBtNTHMcYhr3u8M/s320/ManClockRunningMed.jpg" width="320" /></a></div>
<b>Introdução</b><br />
<br />
A praxeologia ou a ciência da ação humana é o método cientifico utilizado pelos economistas austríacos no estudo da economia. Ela é uma ferramenta poderosa que decorre de um sistema apriorístico de causa e efeito, baseado em categorias da ação humana[1], a qual nos permite analisar todos os fatos e teoremas econômicos. Nesse artigo, enfatizo a importância e a superioridade do método praxeológico como ferramenta de análise e derivação de teoremas econômicos. Descrevo os processos de derivação da lei da utilidade marginal decrescente, preferência temporal, juros e custo de oportunidade, com ênfase no caráter subjetivo dessas categorias da ação humana. Na última parte, levanto argumentos mostrando a inadequação do uso da psicologia experimental para a contribuição à teoria econômica e apresento a derivação praxeológica da Teoria do Prospecto[2], dos psicólogos laureados em economia Kehneman e Tversky (2002).<br />
<br />
<b>O que é praxeologia e porque utilizá-la?</b><br />
<br />
A praxeologia foi sistematizada por Ludwig von Mises. Ele realizou um grande feito ao inferir que todas as categorias de ação sobre bens econômicos estão assentadas numa proposição verdadeira a priori sobre a realidade, denominada por ele de "o axioma da ação". Este axioma baseia-se na proposição auto evidente de que os humanos agem de forma proposital, para sair de uma situação de menor conforto para maior conforto. Todo individuo que tentar negá-la por meio de qualquer ação entrará em contradição, acabando por confirmá-la. Por exemplo, ao tentar negar "o axioma da ação", um indivíduo necessariamente estará se utilizando de argumentos (ação meio) para atingir um objetivo ou um fim desejado, qual seja: refutar o axioma da ação. Porém, ao tentar refutá-lo entrará em contradição, pois estará empreendendo uma ação humana proposital para sair de uma situação de desconforto.<br />
<br />
Hoppe[3] vai mais longe ao retratar a importância e as consequências do feito de Mises para a epistemologia:<br />
<blockquote class="tr_bq">
"(...) Com seu reconhecimento de que a ação é o elo entre a mente e a realidade exterior, ele encontrou a solução do problema kantiano de como é possível a existência de proposições sintéticas a priori verdadeiras. E ele ofereceu alguns insights extremamente valiosos relativos às fundamentações definitivas de outras proposições epistemológicas centrais, como identificar a lei da contradição como o pilar essencial da lógica. E deste modo ele abriu caminho para investigações filosóficas futuras que, pelo que me consta, permanece praticamente inexplorado."</blockquote>
De acordo Selgin[4], com a priori, Mises não quis defender a possibilidade de proposições verdadeiras independentemente de qualquer tipo de "experiência" — ainda que independam de qualquer experiência sensorial, do tipo daquelas enfatizadas por empiristas e positivistas — mas, sim, que as proposições desse tipo são independentes de qualquer tempo ou lugar em particular. Assim, um teorema econômico deduzido praxeologicamente deve ser válido tanto para o Egito antigo quanto para a economia brasileira.<br />
<br />
Já para Rothbard[5], as proposições praxeológicas estão assentadas na experiência interior e não simplesmente em experiência exterior, sendo evidenciadas de forma reflexiva mais do que física. É a consciência individual sobre a capacidade de agir e a consequente percepção humana sobre as categorias de ação que devem servir de base para a derivação de sistemas praxeológicos de causa e efeito, que por sua vez são capazes de fornecer insights para a dedução de todos os teoremas econômicos.<br />
<br />
O sistema praxeológico é como a lógica e a matemática. Da mesma forma que o teorema pitagórico é uma relação geométrica inerente a todos os triângulos retângulos, os teoremas econômicos já estão contidos nas categorias de ação de um sistema praxeológico. Dessa forma, qualquer experiência de cunho empirista é incapaz de refutar teorias econômicas derivadas praxeologicamente. Seria como sair por aí medindo os lados dos triângulos retângulos a fim de encontrar falhas no Teorema de Pitágoras. Algo impensável.<br />
<br />
Somente é possível refutar uma teoria praxeológica por meio da descoberta de falhas na cadeia de raciocínio empregada pelo praxeologista. De acordo com Mises[6], evidências empíricas não "falseiam" a teoria, apenas servem para estabelecer o quão apropriada é uma aplicação teórico-praxeológica para a análise de um evento em particular.<br />
<br />
Como bem destaca Mises, a derivação de teoremas econômicos a partir da história é um procedimento inadequado, podendo levar a erros graves. A história econômica só pode ser entendida com base numa teoria pré-concebida. Não há uma via de mão dupla quando se fala em derivação de teorias econômicas. O caminho flui da teoria concebida para a história. E nesse processo, o entendimento da praxeologia é fundamental:<br />
<blockquote class="tr_bq">
A praxeologia não é uma ciência histórica, mas uma ciência teórica e sistemática. Seu escopo é a ação humana como tal. Independentemente de quaisquer circunstâncias ambientais, acidentais ou individuais que possam influir nas ações efetivamente realizadas. Sua percepção é meramente formal e geral, e não se refere ao conteúdo material nem às características particulares de cada ação. Seu objetivo é o conhecimento válido para todas as situações onde as condições correspondam exatamente àquelas indicadas nas suas hipóteses e inferências. Suas afirmativas e proposições não derivam da experiência. São como a lógica e a matemática. Não estão sujeitas a verificação com base na experiência e nos fatos. São tanto lógica como temporalmente anteriores a qualquer compreensão de fatos históricos. É um requisito necessário para qualquer percepção intelectual dos eventos históricos. Sem sua ajuda, nossa percepção do curso dos eventos históricos ficaria reduzida ao registro de mudanças caleidoscópicas ou de uma desordem caótica. [7]</blockquote>
<br />
<b>Derivações Praxeológicas</b><br />
<br />
O apriorismo, ou a cognição a partir de raciocínio meramente dedutivo, nos fornece insights antes inacessíveis sobre as categorias da ação humana[8], entretanto, a derivação de teoremas econômicos a partir da identificação de categorias implícitas no "axioma da ação" não é um trabalho fácil. As categorias e suas derivações não são evidentes. Para a análise de um caso em particular é necessário realizar um exercício reflexivo por meio de um encadeamento lógico-dedutivo entre categorias de ação (ex: causa e efeito).<br />
<br />
Dentre as categorias derivadas a partir do "axioma da ação" podemos destacar[9]: meios, fins, custos, benefícios, compra e venda, lucro e prejuízo, valores, escolha, preferência, tempo, causalidade. Importante ressaltar que as categorias "tempo" e "causalidade" já se encontram implícitas em qualquer sistema praxeológico. Qualquer ação humana pressupõe a ideia de mais cedo ou mais tarde e de causa e efeito. É exatamente isso, de acordo com Mises[10], o que difere epistemologicamente o sistema praxeológico do sistema lógico:<br />
<blockquote class="tr_bq">
"(...). A diferença entre um e outro reside no fato de a praxeologia ter a mudança como um de seus elementos; as noções de mais cedo ou mais tarde e de causa e efeito fazem parte do sistema. Anterioridade e consequência são conceitos essenciais no raciocínio praxeológico; o mesmo ocorre com a irreversibilidade dos eventos. No contexto do sistema praxeológico, qualquer referência à correspondência funcional é tão metafórica e ilusória quanto a referência à anterioridade e consequência no sistema lógico."</blockquote>
Como se vê, o tempo e a causalidade da ação exercem um papel preponderante na análise de um sistema praxeológico. A percepção humana sobre o tempo é inerente à ação humana. Toda ação objetiva um fim, uma situação mais confortável, um futuro desejado, que pode ou não ser atingido. A ação empreendida ocorre em algum momento no tempo e rapidamente vira passado. Ela se confunde com o tempo, com a percepção de presente. E leva-se algum tempo até a verificação do sucesso ou insucesso da ação empreendida. Mas o tempo passa, é finito. Assim, dado a escassez do tempo, o agente homem busca economizá-lo por meio da priorização de ações numa escala de valores. Podemos dizer, a partir do axioma da ação, que toda ação realizada no momento é aquela a qual se atribui maior valor. Ela é considerada a mais urgente, simplesmente porque é a ação que está sendo executada no momento.<br />
<br />
Nesse contexto, e considerando o fato de sermos incapazes de realizar tudo ao mesmo tempo, chegamos ao conceito de utilidade marginal decrescente. Esse teorema decorre do fato de que, ao escolhermos entre produtos homogêneos, a primeira unidade consumida ser considerada mais urgente (de maior utilidade) do que a segunda, e assim sucessivamente. Nota-se aqui a influência do tempo; a antecedência temporal da primeira unidade ou porção em relação à segunda. Podemos dizer que à ação do momento é sempre atribuída um maior valor (utilidade) em comparação às ações do mesmo tipo que estão por vir e, em decorrência disso, a utilidade marginal é o valor subjetivo atribuído a um bem pela necessidade menos urgente que ainda resta a ser satisfeita por esse bem.<br />
<br />
Também em decorrência do axioma da ação humana, que como dito pressupõe a escassez do tempo, surge o conceito de preferência temporal. Este conceito está relacionado ao fato de preferirmos eliminar um dissabor futuro o quanto antes, por meio de ações que atribuímos um maior valor, e assim economizarmos tempo. É por isso que preferimos bens presentes a bens futuros, ou seja, para desistirmos de uma satisfação presente, geralmente exigimos uma recompensa, pois consideramos um sacrifício o fato de adiarmos essa satisfação. Daí a existência da taxa de juros, que é o preço resultante da relação entre o valor atribuído à satisfação imediata e à satisfação futura. Numa determinada economia, quanto mais os indivíduos valorizarem as satisfações imediatas em relação às futuras, maior tenderá a ser a recompensa para que desistam da satisfação presente em troca da satisfação futura.<br />
<br />
E ao realizarmos o quanto antes ações que atribuímos um maior valor, estamos automaticamente desistindo o quanto antes daquelas ações que nos satisfazem menos. Assim, pela impossibilidade de exercermos todas as ações ao mesmo tempo, estamos constantemente abandonando o que nos satisfaz menos com o intuito de atingir o fim que julgamos ser mais valioso. E o valor subjetivo atribuído ao fim que estamos abandonando é o preço pago ou o custo incorrido para atingir o objetivo desejado. Eis aqui a derivação do conceito econômico de custo de oportunidade.<br />
<br />
Já à diferença entre o valor do que se abandona (custo de oportunidade) e o valor do fim obtido, após um cenário de incerteza, chamamos de lucro ou prejuízo. Podemos também dizer que, por meio da ação humana, estamos constantemente incorrendo em custos subjetivos com o intuito de obter benefícios subjetivos[11].<br />
<br />
<b>Psicologia, Economia e a Derivação Praxeológica da "Teoria do Prospecto"</b><br />
<br />
Como visto acima, em nenhum momento foi necessário recorrer a conceitos psicológicos ou fisiológicos no processo de derivação dos teoremas econômicos. Para isso, bastou partirmos do "axioma da ação" de Mises e das categorias de ação subjacentes a ele. Economia e psicologia são diferentes, tratam de objetos diferentes. Enquanto a psicologia está preocupada com o porquê dos fins objetivados, a economia está preocupada em compreender as relações de causa e efeito no âmbito da ação humana sobre bens econômicos, sem qualquer julgamento de valor sobre os fins almejados.<br />
<br />
Os problemas praxeológicos não têm relação com os aspectos psicológicos, apesar de ser possível encontrar explicações psicológicas para o problema da preferência temporal, por exemplo. Mas de acordo com Mises[12]: "É preciso conceber e não apenas compreender. É preciso conceber que um homem que não prefira uma satisfação mais cedo à mesma satisfação mais tarde jamais chegará a consumir e a desfrutar." Nesse caso, a ação humana seria eternamente postergada. Algo fora da realidade.<br />
<br />
A economia lida com a ação em si e não com as motivações psíquicas que as justificam. É nesse sentido que Mises[13] ressalta que:<br />
<blockquote class="tr_bq">
"...a psicologia jamais poderá demonstrar a validade de um teorema praxeológico. Poderá demonstrar que algumas pessoas ou muitas se deixam influenciar por certos motivos, mas jamais poderá evidenciar que em cada ação humana há necessariamente certo elemento categorial que, sem qualquer exceção, está presente em todas as ações."</blockquote>
Um exemplo interessante sobre essa inadequação do uso da psicologia e do empirismo para a derivação de teoremas econômicos e, ao mesmo tempo, da superioridade da Praxeologia, pode ser demonstrada ao analisarmos o fenômeno descrito pela "teoria da perspectiva" ou "teoria do prospecto"[14], dos psicólogos laureados em economia Kehneman e Tversky. A Teoria do Prospecto está inserida no âmbito da contribuição da chamada economia comportamental (experimental) aplicada ao mercado financeiro, chamada de finanças comportamentais, que estuda o comportamento dos agentes no mercado financeiro quando da tomada de decisões.<br />
<br />
Apesar de toda ação humana ser racional, o mérito da Teoria do Prospecto foi descobrir que os agentes não agiam racionalmente, segundo a teoria da utilidade esperada de Bernoulli e Von Neumann?Morgenstern[15]. Ou seja, a teoria mostrou que os agentes se comportavam de maneira diferente quando estavam em situações de ganho e em situações de perda. A teoria da utilidade esperada não incorpora o fato de que, por exemplo, a desutilidade de perder 200 reais pode ser maior do que a utilidade de ganhar a mesma quantia. E foi essa incapacidade da Teoria adotada pelo mainstream que os laureados identificaram: que os agentes apresentam uma aversão ao risco quando estão ganhando e uma propensão ao risco quando estão perdendo.<br />
<br />
Para sustentar a Teoria do Prospecto, lançaram mão de "três características cognitivas"[16]: ponto de referência neutro (água na tigela), sensibilidade decrescente a incremento de luz (lei da psicofísica) e aversão à perda (histórico evolucionário dos organismos). Tudo isso para traduzir uma tendência que esse fenômeno exerce sobre os investidores no momento da tomada de decisão no mercado de ações; uma venda muito rápida de ações com desempenho positivo (vencedoras) e a manutenção por muito tempo de ações com desempenho negativo (perdedoras).<br />
<br />
Ao analisar a teoria acima, cabe perguntarmos: como poderemos entendê-la por meio da praxeologia? Afinal, se a Teoria do Prospecto, empiricamente "testada e aprovada", se encontrar no campo da ação humana, a praxeologia deve ser capaz de decifrá-la sem grandes problemas. Ao enquadrarmos o fenômeno acima nas categorias de ação meio (comprar e vender ações) e fim (lucro ou prejuízo), considerando a passagem do tempo, podemos ter uma clara noção do fenômeno econômico envolvido.<br />
<br />
Primeiramente, nos parece evidente que os agentes ao comprarem e venderem ações objetivam um lucro. Ou seja, podemos visualizar de forma clara que os agentes se utilizam de meios (no caso, negociar ativos por meio da "manutenção" e "realização" de suas posições durante um período de tempo) objetivando um fim; a obtenção de lucro num ambiente de incerteza genuína. O insight é entender, por meio do axioma da ação, que todo ser humano busca sair de uma situação de menor conforto — no caso a situação financeira de entrada no mercado — para entrar numa situação de maior conforto; no caso o lucro, ou, de outra forma, o valor de venda desejado.<br />
<br />
Com esse encadeamento praxeológico em mente, podemos compreender porque há uma tendência para que os agentes, no terreno das perdas, "segurem" por mais tempo (vendam mais tarde) suas posições perdedoras e, no terreno dos ganhos, para que "realizem" ou vendam suas posições o quanto antes. Não obstante os agentes estarem agindo racionalmente — objetivando um lucro — a expectativa de realização do objetivo final (realização de lucros) faz com que eles se comportem de forma diferenciada no terreno das perdas e dos ganhos, com diferentes propensões ao risco. Quando no terreno das perdas, há uma maior tendência de manutenção das posições do que de realização (venda) delas, simplesmente pelo fato do objetivo final (o lucro ou os ganhos desejados) ainda não ter sido atingido. O investidor permanece em situação de prejuízo a espera do seu objetivo principal; o lucro. Já no campo dos ganhos, há uma maior tendência para a venda das posições o quanto antes, pelo fato de já estarem operando próximo ou ter atingido o nível desejado de lucro.<br />
<br />
De fato, a Teoria do Prospecto trata de um fenômeno econômico que se verifica independentemente de tempo e lugar. Onde quer que tenhamos investidores comprando e vendendo ações com o objetivo de lucro, haverá uma tendência para que eles sejam propensos ao risco no campo das perdas e avessos ao risco no campo dos ganhos. Assim, de uma vez por todas — o que serve para todos os teoremas econômicos derivados praxeologicamente — teses e monografias que busquem testar empiricamente a Teoria do Prospecto, em determinado tempo e lugar, não fazem sentido lógico.<br />
<br />
<b>Conclusão</b><br />
<br />
Neste artigo procurei mostrar a importância e a vantagem da utilização da praxeologia para a análise de teoremas econômicos. Observamos que a derivação praxeológica dos teoremas econômicos não é uma questão trivial, apesar de num primeiro momento nos parecer simples. Para compreendermos e derivarmos os teoremas econômicos é necessário um trabalho de reflexão sobre o evento econômico que se pretende analisar, de modo a enquadrá-lo num sistema praxeológico, ou seja, em um sistema de categorias de ação logicamente encadeadas (causa e efeito), derivado a partir do axioma da ação humana. Não precisamos lançar mão de argumentos fisiológicos ou psicológicos como níveis de saciedade e intensidade de resposta humana a estímulos físicos, tão aludidos em sala aula pelos acadêmicos experimentalistas e do mainstream. Será principalmente por meio do exercício constante da praxeologia que os economistas austríacos disseminarão o sólido conhecimento econômico em que estão assentados.<br />
<br />
<b>Notas</b><br />
<br />
[1] Exemplos de categorias de ação: meios, fins, custos, benefícios, compra e venda, lucro e prejuízo, valores, escolha, preferência, tempo, causalidade.<br />
<br />
[2]http://en.wikipedia.org/wiki/Prospect_theory; http://vocesa.abril.com.br/blog/opcoes-sem-misterio/2011/01/26/a-aversao-as-perdas-e-a-propensao-ao-risco/<br />
<br />
[3] HOPPE, H.H.A Ciência Econômica e o Método Autríaco. São Paulo: Instituto Mises Brasil, 2010. 1ª Edição(pg. 19)<br />
<br />
[4] SELGIN, G.A. Praxeology and Undertanding: An Analysis of the Controversy in Austrian Economics. Ludwig von Mises Institute, Auburn University, Auburn, Alabama, 1990. (Pag. 14).<br />
<br />
[5] ROTHBARD, M. In defense of "Extreme Apriorism". Southern Economic journal XXIII (3) (January 1957), pp. 314-20.<br />
<br />
[6] MISES,LvM. Epistemological Problems of Economics, p. 30.<br />
<br />
[7] MISES, L. Ação Humana. São Paulo: Instituto Mises Brasil, 2010. 3ª Edição (pg. 59)<br />
<br />
[8] MISES, L. Ação Humana. São Paulo: Instituto Mises Brasil, 2010. 3ª Edição (pg. 66)<br />
<br />
[9] HOPPE, H.H. A Ciência Econômica e o Método Autríaco. São Paulo: Instituto Mises Brasil, 2010. 1ª Edição<br />
<br />
[10] MISES, L. Ação Humana. São Paulo: Instituto Mises Brasil, 2010. 3ª Edição (pg. 134)<br />
<br />
[11] MISES, L. Ação Humana. São Paulo: Instituto Mises Brasil, 2010. 3ª Edição (pg. 130 e 131)<br />
<br />
[12] MISES, L. Ação Humana. São Paulo: Instituto Mises Brasil, 2010. 3ª Edição (pg. 563)<br />
<br />
[13] MISES, L. Ação Humana. São Paulo: Instituto Mises Brasil, 2010. 3ª Edição (pg. 565)<br />
<br />
[14] http://vocesa.abril.com.br/blog/opcoes-sem-misterio/2011/01/26/a-aversao-as-perdas-e-a-propensao-ao-risco/<br />
<br />
[15] http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/1961/000362539.pdf?sequence=1<br />
<br />
[16] KAHNEMAN,D. Rápido e Devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.(pg.350/51)<br />
<br />
- - -<br />
<br />
<i>Tullio Bertini</i> é economista e membro do Grupo de Estudo de Escola Austríaca do Distrito Federal (GEEA-DF).<br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2567792152982859459.post-75932599758927351692012-10-01T13:00:00.001-07:002012-10-01T13:00:58.218-07:00Amizade colorida<br />
<b><i><span style="font-size: x-small;">por Daniel Marchi (publicado originalmente no blog da <a href="http://revistavilanova.com/category/blog/">Revista Vila Nova</a>)</span></i></b><br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.mirecc.va.gov/VISN16/images/handshaking2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="216" src="http://www.mirecc.va.gov/VISN16/images/handshaking2.jpg" width="320" /></a></div>
Uma das indústrias nacionais mais pujantes nos últimos tempos é a dos “pacotes”. O governo, claro, é o principal responsável por isso. Percebam que toda semana é anunciado um novo modelo desse produto. Pacotes de estímulo ao consumo, de fomento do turismo, de construção de imóveis, de aumento de tarifas de importação, de redução de encargos, de apoio aos produtores de própolis orgânica de Potirendaba, etc etc. Nunca antes… bom, vocês já sabem.<br />
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Na última quinta-feira nossos guias de Brasília apresentaram um pacote de desoneração da folha de pagamento para 25 setores (<a href="http://www.valor.com.br/brasil/2828720/governo-anuncia-desoneracao-de-25-novos-setores">ler notícia aqui</a>), enquanto na semana passada os consumidores brasileiros foram brindados com o aumento das tarifas de importação de 100 produtos (<a href="http://g1.globo.com/economia/noticia/2012/09/camex-sobe-imposto-de-importacao-de-100-produtos.html">ler notícia aqui</a>). Dentre eles a batata, atividade agrícola a qual muitos políticos e burocratas possuem incrível talento enrustido.<br />
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Sem muitas delongas, o fato é que o governo dos trabalhadores descobriu o óbvio. Construiu-se no Brasil, desde tempos imemoriais, um fabuloso sistema de intervencionismo econômico. Todos os setores são alvos dos mais variados tipos de regulações e devem decifrar os bizantinos códigos tributários, contratações e demissões, sempre à mercê de um sistema de leis e tribunais cuja mentalidade anti-capitalista é inegável.<br />
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E o mais importante, empresários são seres humanos, e estes não gostam muito de concorrência. No livre mercado, sem essa pletora de normas a cumprir e impostos a pagar, eles tentam minimizar a concorrência pela via da inovação e do bom atendimento. No intervencionismo, é mais fácil contratar meia dúzia de lobbistas e mandá-los à Capital participar de alguma “câmara setorial” ou coisa do gênero, a fim de elaborar o próximo pacote. Qualquer grupo político está incentivado a proceder dessa forma, mas nota-se que o partido oficial aprendeu isso como ninguém. Uma mão lava a outra e as duas se cumprimentam na próxima campanha.<br />
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Voltando ao tema inicial, todos esses conjuntos de medidas que o governo vem tomando decorre do fino aprendizado rapidamente descrito acima. Para dirigir a economia, colocar o empresariado sob as rédeas do interesse oficial e, por tabela, beneficiá-los, não é necessário nenhum procedimento extravagante. A receita é simples: bastam alguns procedimentos de cunho “administrativo”, devidamente dourados com os velho lero-lero desenvolvimentista e nacionalista. No plano econômico, os consumidores mal perceberão que as lojas estarão sempre com os mesmos produtos, caros e de qualidade inferior. No plano político, nada terá se alterado com as regras formas do tal estado democrático de direito.<br />
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Benito Mussolini, grande mestre do intervencionismo, foi muito feliz ao afirmar que “o fascismo deveria ser justamente chamado corporativismo, porque é a concentração do poder corporativo e governo”. É sob o signo das piores práticas econômicas, sociais e políticas que se desenvolve a amizade colorida entre grandes empresas e governo federal, relacionamento que se fortalecerá com o próximo pacote.<br />
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<i>Daniel Marchi </i>é economista e membro-fundador do Grupo de Estudos da Escola Austríaca de Brasília. E-mail danielmarchi@gmail.com<br />
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2567792152982859459.post-3870650241214619222012-09-21T12:51:00.002-07:002012-09-21T12:51:30.451-07:00Economia e imaginação<br />
<i><b><span style="font-size: x-small;">por Daniel Marchi (publicado originalmente na 3a. edição da <a href="http://revistavilanova.com/">Revista Vila Nova</a>)</span></b></i><br />
<i><b><span style="font-size: x-small;"><br /></span></b></i>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.specialistpainphysio.com/wp-content/uploads/2012/08/thinking-pic.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="216" src="http://www.specialistpainphysio.com/wp-content/uploads/2012/08/thinking-pic.jpg" width="320" /></a></div>
É difícil existir outra área do conhecimento mais aberta que as ciências econômicas. Nenhuma surpresa. Várias vezes ao dia nos vemos engajados em algum negócio, seja tomando um cafezinho seja fechando grandes transações financeiras. E mais, somos bombardeados com notícias sobre economia o tempo todo. É um convite irresistível para debates, às vezes bem acalorados, envolvendo as teses e opiniões de cada um acerca desse instigante assunto. Afinal de contas, todo brasileiro é Ministro da Fazenda e técnico da seleção nacional de futebol.<br />
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Nas discussões um pouco mais sofisticadas, as pessoas frequentemente utilizam argumentos racionais (teoria) ilustrados por exemplos práticos. É pré-requisito indispensável em qualquer exercício racional que os interlocutores sejam capazes de construir relações abstratas, erguidas sobre os alicerces dos princípios lógicos, especialmente da lógica da ação humana quando o assunto é Economia. Em outras palavras, é preciso pensar, elucubrar. Nos parágrafos posteriores tentarei enfatizar o quão importante é o uso da imaginação nas análises econômicas.<br />
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Frédéric Bastiat, jornalista e economista francês do século XIX, brilhantemente apontou a importância daquilo que não é captado imediatamente pelos olhos. Em seu famoso ensaio O que se vê e o que não se vê, facilmente acessível na internet, Bastiat explora a chamada “falácia da vidraça quebrada”. Diante de uma vitrine quebrada por um enfant terrible, um grupo de adultos consola o dono da loja, argumentando que aquele incidente, à primeira vista negativo, seria convertido em benefícios para a comunidade. O proprietário compraria uma nova vidraça, beneficiando o vidraceiro, que por sua vez teria sua renda aumentada, podendo gastá-la com outros bens e serviços, provocando uma espécie de reação em cadeia positiva para todos. O garoto, aproveitando um termo muito em voga em nosso tempo, teria gerado um “estímulo” à economia local, segundo as testemunhas.<br />
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Eis que Bastiat desmonta a pegadinha. Sim, é verdade que o vidraceiro foi beneficiado com um novo pedido, e que esta renda pôde ser gasta com outros produtos, de outros indivíduos. Isso é o que se vê. Mas o lojista perdeu uma vidraça... Caso ela não fosse quebrada, o proprietário poderia desembolsar aquele valor em outras benfeitorias, por exemplo instalando mais prateleiras no estabelecimento. O mesmo processo de circulação de recursos seria desencadeado, com a diferença que a comunidade teria mais bens disponíveis. Isso é o que não se vê. O autor francês mostra, no final das contas, o quão importante são as abstrações do tipo “e se...”, sempre apoiadas pela lógica da ação, essa magnífica ferramenta da razão humana.<br />
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Vejamos outra aplicação da mesma técnica. Quando os mercados são entendidos como processos dinâmicos, impulsionados pelo incansável trabalho dos empresários, a mera capacidade de abstrair fenômenos é fundamental para compreender as forças importantíssimas numa economia livre. Por exemplo, é pertinente dizer que não é satisfatório enxergar a concorrência nos mercados apenas pelo número de empresas neles atuantes, ou seja, por aquilo que se vê. Existem setores com vários ofertantes e baixa concorrência; por outro lado, há casos com apenas uma firma em campo e que constantemente procura melhorar seus produtos e atender melhor seus clientes, comportamento típico de mercados com acirrada competição. Nesse sentido, uma abordagem que contemple a idéia de concorrência potencial tem maior capacidade descrever a realidade.<br />
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A possibilidade de ter seu quinhão contestado leva os empresários a agirem como se estivessem sob competição efetiva. Lucros altos e consumidores relativamente insatisfeitos funcionam como sinalizadores para que empreendedores e investidores direcionem recursos para o setor em questão. Um caso emblemático é o famoso site de pesquisas Google. Apesar de concentrar mais de 90% das pesquisas feitas na rede, a empresa continuamente procura melhorar seus produtos e serviços. Benevolência? Não, concorrência potencial. Como a internet é um dos últimos rincões de plena liberdade de investimento, quem faz dela seu ganha-pão sabe que deve estar um passo à frente de seus concorrentes, ainda que efetivamente eles possam não existir.<br />
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Os resultados esperados da competição (preços declinantes, incremento na qualidade etc) dependem, nesse sentido, mais da possibilidade de entrada de novos investidores nos mercados do que o número de empresas em si. A liberdade de realização de novos investimentos, por sua vez, relaciona-se com a ausência de barreiras institucionais e burocráticas. Num breve parêntese, é interessante notar como grandes empresas estabelecidas não veem com maus olhos a progressiva regulamentação que os governos mundo a fora têm promovido. A regulamentação dos mercados acaba por protegê-las, dificultando a entrada de novos concorrentes. Mais uma vez, é preciso considerar aquilo que não se vê.<br />
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Henry Hazlitt, em seu clássico Economia Numa Única Lição, de forma muito perspicaz postulou que “a arte da economia está em considerar não só os efeitos imediatos de qualquer ato ou política, mas, também, os mais remotos; está em descobrir as consequências dessa política, não somente para um único grupo, mas para todos eles.” No atual cenário de crescente intervencionismo e de noticiário econômico muitas vezes confuso, os ensinamentos de Bastiat e Hazllitt são cada vez mais importantes. Na próxima conversa com seus amigos, fique atento com aquilo que os olhos não enxergam. Pense nisso e use sua imaginação.<br />
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<i>Daniel Marchi</i> é economista e membro-fundador do Grupo de Estudos da Escola Austríaca de Brasília, DF. E-mail: danielmarchi@gmail.com<br />
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Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2567792152982859459.post-74587447772589650742012-04-01T08:50:00.000-07:002012-04-01T09:29:19.816-07:00Eventos em Brasília ~ Abril de 2012<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.mises.org.br/images/articles/2012/Imagens%20Site/Eventos/banner_bsb2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="111" src="http://www.mises.org.br/images/articles/2012/Imagens%20Site/Eventos/banner_bsb2.jpg" width="400" /></a></div>
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<b><span style="font-size: large;">"O papel do Banco Central em uma economia de livre mercado". Palestra de Helio Beltrão, presidente do Instituto Ludwig von Mises Brasil (IMB). </span></b><br />
Data: 13/04/2012, sexta-feira, 19:30<br />
Local: IESB Asa Norte, auditório principal (SGAN Quadra 609, L2 Norte)<br />
Entrada Franca<br />
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Página de divulgação no IMB: <a href="http://www.mises.org.br/Event.aspx?id=40">http://www.mises.org.br/Event.aspx?id=40</a><br />
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<b><span style="font-size: large;">I Encontro de Escola Austríaca de Brasília</span></b><br />
Data: 14/04/2012, sábado, das 9:00 às 18:00<br />
Local: IESB Asa Norte (SGAN Quadra 609, L2 Norte)<br />
Inscrições: geeabsb@gmail.com<br />
<br />
Página de divulgação no IMB: <a href="http://www.mises.org.br/Event.aspx?id=43">http://www.mises.org.br/Event.aspx?id=43</a><br />
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<i>Leitura prévia sugerida para o I Encontro EA BSB</i><br />
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<b>Princípios básicos:</b><br />
<br />
Boettke, P. A Escola Austríaca de Economia<br />
<a href="http://escolaaustriacadf.blogspot.com.br/2011/06/escola-austriaca-de-economia-por-peter.html">http://escolaaustriacadf.blogspot.com.br/2011/06/escola-austriaca-de-economia-por-peter.html</a><br />
<br />
Soto, J. H. A Escola Austríaca<br />
Cap. 1 - <a href="http://www.mises.org.br/EbookChapter.aspx?id=216">http://www.mises.org.br/EbookChapter.aspx?id=216</a><br />
Cap. 2 - <a href="http://www.mises.org.br/EbookChapter.aspx?id=217">http://www.mises.org.br/EbookChapter.aspx?id=217</a><br />
<br />
<b>Teoria do Processo de mercado:</b><br />
<br />
Hayek, F.A. Economia e Conhecimento<br />
<a href="http://www.libertarianismo.org/livros/eecfah.pdf">http://www.libertarianismo.org/livros/eecfah.pdf</a><br />
<br />
Barbieri, F. Filosofia da Ciência como Ferramenta Microeconômica<br />
<a href="http://www.scielo.br/pdf/neco/v16n3/a06v16n3.pdf">http://www.scielo.br/pdf/neco/v16n3/a06v16n3.pdf</a><br />
<br />
Barbieri, F. O Ressurgimento da Escola Austríaca e a Teoria do Processo de Mercado<br />
<a href="http://www.proppi.uff.br/revistaeconomica/sites/default/files/V.10_N.2_Fabio_Barbieri.pdf">http://www.proppi.uff.br/revistaeconomica/sites/default/files/V.10_N.2_Fabio_Barbieri.pdf</a><br />
<br />
<b>Socialismo:</b><br />
<br />
Caldwell, B. Hayek and Socialism<br />
<a href="http://cob.jmu.edu/rossermv/Caldwell.pdf">http://cob.jmu.edu/rossermv/Caldwell.pdf</a><br />
<br />
<b>Intervencionismo:</b><br />
<br />
Mises, L. Uma Crítica ao Intervencionismo<br />
Cap. 1 - <a href="http://www.mises.org.br/EbookChapter.aspx?id=354">http://www.mises.org.br/EbookChapter.aspx?id=354</a><br />
<div>
<br />
Barbieri, F. A teoria austríaca do intervencionismo<br />
<a href="http://mises.org.br/Article.aspx?id=1123">http://mises.org.br/Article.aspx?id=1123</a><br />
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<b>Sinceros agradecimentos a:</b>
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<a href="http://www.iesb.br/" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://www.iesb.br/repiesb/noticias/2009_1/logo-iesb.jpg" /></a> <a href="http://www.mises.org.br/Default.aspx"><img border="0" height="80" src="http://www.mises.org.br/logo/lowres_horizontal.jpg" width="320" /></a> </div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2567792152982859459.post-40213699300700958502012-02-25T14:01:00.001-08:002012-02-25T14:02:20.441-08:00Individualismo e Coletivismo<div>
<span style="font-size: x-small;"><b><i>por Friedrich A. Hayek </i>(extraído de <a href="http://www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=31">O Caminho da Servidão</a>, capítulo 3)</b></span></div>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.wired.com/images/article/magazine/1706/nep_newsocialism_f.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="218" src="http://www.wired.com/images/article/magazine/1706/nep_newsocialism_f.jpg" width="320" /></a></div>
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<i>Os socialistas acreditam em duas coisas absolutamente diversas e talvez até contraditórias, liberdade e organização. ~ </i>Elie Halévy</div>
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Antes de prosseguir na análise de nosso tema principal, resta-nos um obstáculo a transpor: esclarecer um equívoco responsável em grande parte pelo modo como estamos sendo levados a situações não desejadas por ninguém. Esse equívoco, na realidade, diz respeito ao próprio conceito de socialismo. Tal conceito pode significar simplesmente os ideais de justiça social, maior igualdade e segurança que são os fins últimos do socialismo - e é muitas vezes usado nesse sentido.</div>
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Mas significa também o método específico pelo qual a maior parte dos socialistas espera alcançar esses fins, e que para muitas pessoas inteligentes são os únicos métodos pelos quais esses fins podem ser plena e rapidamente alcançados. Nesse sentido, socialismo equivale à abolição da iniciativa privada e da propriedade privada dos meios de produção, e à criação de um sistema de "economia planificada" no qual o empresário que trabalha visando ao lucro é substituído por um órgão central de planejamento.</div>
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Muitos se definem socialistas, embora considerem apenas a primeira acepção do termo, isto é, o socialismo representado pela justiça social, e acreditam profundamente nos fins últimos do socialismo sem contudo cogitar nem entender a maneira de alcançá-los - sabem apenas que devem ser alcançados a qualquer custo. Mas para quase todos os que não consideram o socialismo uma simples esperança e sim um objeto da política prática, os métodos característicos do socialismo moderno são tão essenciais quanto seus próprios fins. Por outro lado, muitos que, como os socialistas, prezam os fins últimos dessa doutrina, recusam-se a apoiá-la por estarem convencidos de que os métodos propostos pelos socialistas põem em perigo outros valores. O debate em torno do socialismo tornou-se dessa forma em grande parte um debate sobre meios e não sobre fins - embora a questão implique também saber se os diferentes fins do socialismo poderão ser alcançados simultaneamente.</div>
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Isso já seria suficiente para criar confusão. E a confusão aumentou porque em geral não se admite que os que repudiam os meios apreciem os fins. E ainda não é tudo. A situação torna-se mais complexa porque o mesmo meio - a "planificação econômica", principal instrumento da reforma socialista - pode ser utilizado para vários outros fins. Se quisermos realizar uma distribuição da renda conforme as ideias correntes de justiça social, torna-se imperativo centralizar a direção da atividade econômica. Consequentemente, a "planificação" é desejada por todos os que exigem que a "produção para o consumo" substitua a produção orientada para o lucro. Mas essa planificação não será menos indispensável se a distribuição da renda for efetuada de modo oposto ao que reputamos justo. Se pretendêssemos, por exemplo, que uma elite racial, os nórdicos, os membros de um partido ou uma aristocracia fossem beneficiados por uma maior parcela de bens e amenidades, os métodos que seríamos obrigados a empregar seriam os mesmos que empregaríamos para assegurar uma distribuição igualitária.</div>
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Talvez possa parecer injusto empregar o termo "socialismo" para designar os métodos e não as suas finalidades, ou aplicar a um determinado método o termo que para muitos exprime um ideal último. Seria preferível talvez chamar de coletivismo os métodos que podem ser usados para uma grande variedade de fins, e considerar o socialismo uma espécie desse gênero. No entanto, ainda que para a maioria dos socialistas somente uma espécie de coletivismo represente o verdadeiro socialismo, não devemos esquecer que o socialismo é uma espécie de coletivismo e que, portanto, tudo o que se aplica ao coletivismo se aplica também ao socialismo. Quase todos os pontos de divergência entre socialistas e liberais referem-se aos métodos comuns a todas as formas de coletivismo e não aos fins específicos para os quais os socialistas desejam empregá-los; e todas as consequências de que trataremos neste livro decorrem dos métodos coletivistas, independentemente dos fins para os quais são usados. Também não devemos esquecer que o socialismo não é apenas a espécie mais importante de coletivismo ou de "planificação"; é também a doutrina que persuadiu inúmeras pessoas de tendências liberais a se submeterem mais uma vez ao rígido controle da vida econômica que haviam abolido, pois, segundo Adam Smith, tal controle faz com que os governos, "para se manterem, sejam obrigados a tornar-se opressores e tirânicos".</div>
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Os problemas causados pela ambiguidade na linguagem política comum não desaparecerão, mesmo que passemos a aplicar o termo "coletivismo" para indicar todos os tipos de "economia planificada", seja qual for a finalidade do planejamento. O significado do termo tornar-se-á mais preciso se deixarmos claro que por ele entendemos a espécie de planejamento necessário à realização de qualquer ideal distributivo. Mas como a ideia de planejamento econômico central seduz em grande parte pela própria indefinição de seu significado, é indispensável estabelecer-lhe o sentido preciso antes de discutirmos suas consequências.</div>
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O conceito de "planejamento" deve sua popularidade em grande parte ao fato de todos desejarmos, obviamente, tratar os problemas ordinários da forma mais racional e de para tanto precisarmos utilizar toda a capacidade de previsão possível. Neste sentido, se não for um completo fatalista, todo indivíduo será um planejador; todo ato político será (ou deveria ser) um ato de planejamento, de sorte que só haverá distinção entre o bom e o mau planejamento, entre um planejamento sábio e previdente e o míope e insensato. Um economista, que estuda a maneira como os homens de fato planejam suas atividades e como deveriam planejá-las, seria a última pessoa a opor-se ao planejamento em tal acepção genérica. Mas não é nesse sentido que nossos entusiastas de uma sociedade planejada empregam atualmente esse termo; tampouco é apenas nesse sentido que será necessário planejar se desejarmos a distribuição da renda ou da riqueza conforme determinado padrão. Segundo os modernos planejadores, e os objetivos que eles perseguem, não basta traçar uma estrutura permanente, a mais racional possível, dentro da qual cada pessoa conduza suas várias atividades de acordo com seus planos individuais. Este plano liberal, segundo eles, não é um plano e, de fato, não tem por objetivo satisfazer qualquer ideia relativa à parcela da renda que caberá a cada indivíduo. O que nossos planejadores exigem é um controle centralizado de toda a atividade econômica de acordo com um plano único, que estabeleça a maneira pela qual os recursos da sociedade sejam "conscientemente dirigidos" a fim de servir, de uma forma definida, a finalidades determinadas.</div>
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O debate entre os planejadores modernos e os seus adversários, por conseguinte, não visa a estabelecer se devemos ou não escolher racionalmente entre as várias formas possíveis de organização da sociedade; não diz respeito à necessidade de recorrermos à previsão e ao raciocínio sistemático no planejamento de nossos assuntos ordinários. Gira em torno da maneira de proceder nesse sentido. Busca determinar se os detentores do poder coercitivo devem limitar-se em geral a criar condições em que os próprios indivíduos disponham de um grau de conhecimento e iniciativa que lhes permita planejar com o maior êxito; ou se a utilização racional dos nossos recursos exige uma direção e organização central de todas as nossas atividades segundo algum "projeto" elaborado para este fim. Os socialistas de todos os partidos apropriaram-se do termo "planejamento" para designar este último tipo de organização, e a palavra passou a ser empregada usualmente nesse sentido. Mas embora com isso se pretenda sugerir que o planejamento central é a única maneira racional de conduzirmos os nossos negócios, nada fica provado, é claro. E esta permanece a questão sobre a qual discordam planejadores e liberais. É importante não confundir a oposição a essa espécie de planejamento com uma dogmática atitude de laissez-faire. A doutrina liberal é a favor do emprego mais efetivo das forças da concorrência como um meio de coordenar os esforços humanos, e não de deixar as coisas como estão. Baseia-se na convicção de que, onde exista a concorrência efetiva, ela sempre se revelará a melhor maneira de orientar os esforços individuais. Essa doutrina não nega, mas até enfatiza que, para a concorrência funcionar de forma benéfica, será necessária a criação de uma estrutura legal cuidadosamente elaborada, e que nem as normas legais existentes, nem as do passado, estão isentas de graves falhas. Tampouco deixa de reconhecer que, sendo impossível criar as condições necessárias para tornar efetiva a concorrência, seja preciso recorrer a outros métodos capazes de orientar a atividade econômica. Todavia, o liberalismo econômico é contrário à substituição da concorrência por métodos menos eficazes de coordenação dos esforços individuais. E considera a concorrência um método superior, não somente por constituir, na maioria das circunstâncias, o melhor método que se conhece, mas, sobretudo por ser o único método pelo qual nossas atividades podem ajustar-se umas às outras sem a intervenção coercitiva ou arbitrária da autoridade. Com efeito, uma das principais justificativas da concorrência é que ela dispensa a necessidade de um "controle social consciente" e oferece aos indivíduos a oportunidade de decidir se as perspectivas de determinada ocupação são suficientes para compensar as desvantagens e riscos que a acompanham.</div>
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A centralização absoluta da gestão da atividade econômica ainda atemoriza a maioria das pessoas, sobretudo pela ideia em si mesma, mas também devido à tremenda dificuldade que isso implica. Se, todavia, estamos nos aproximando rapidamente de tal situação, é porque muitos ainda acreditam que seja possível encontrar um meio-termo entre a concorrência "atomística" e o dirigismo central. Com efeito, à primeira vista nada parece mais plausível, ou tem maior probabilidade de atrair as simpatias dos homens sensatos, do que escolher como meta não a extrema descentralização da livre concorrência nem a centralização completa representada por um plano único, mas uma judiciosa combinação dos dois métodos. Não obstante, o simples senso comum não se revela um guia seguro neste campo. Embora a concorrência consiga suportar certo grau de controle governamental, ela não pode ser harmonizada em qualquer escala com o planejamento central sem que deixe de operar como guia eficaz da produção. Tampouco é o "planejamento" um remédio que, tomado em pequenas doses, possa produzir os efeitos esperados de sua plena aplicação. Quando incompletos, tanto a concorrência como o dirigismo central se tornam instrumentos fracos e ineficientes. Eles constituem princípios alternativos usados na solução do mesmo problema e, se combinados, nenhum dos dois funcionará efetivamente e o resultado será pior do que se tivéssemos aderido a qualquer dos dois sistemas. Ou, em outras palavras, planificação e concorrência só podem ser combinadas quando se planeja visando à concorrência, mas nunca contra ela.</div>
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<b>Friedrich A. Hayek</b> (1899-1992) foi um membro fundador do Mises Institute. Ele dividiu seu Prêmio Nobel de Economia, em 1974, com seu rival ideológico Gunnar Myrdal "pelos seus trabalhos pioneiros sobre a teoria da moeda e das flutuações econômicas e por suas análises perspicazes sobre a interdependência dos fenômenos econômicos, sociais e institucionais".</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2567792152982859459.post-49548516398607986652012-02-18T07:49:00.001-08:002012-02-18T07:49:08.437-08:00A economia de mercado controlada<span style="font-size: x-small;"><b><i>por Ludwig von Mises </i>(extraído de "</b><a href="http://www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=55" style="font-weight: bold;">Uma Crítica ao Intervencionismo</a><b>")</b></span><br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://media.tumblr.com/tumblr_lgh76aK5cW1qamjdr.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="225" src="http://media.tumblr.com/tumblr_lgh76aK5cW1qamjdr.jpg" width="320" /></a></div>
<i>A doutrina dominante na economia de mercado controlada</i><br />
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Com poucas exceções, os comentaristas contemporâneos dos problemas econômicos estão defendendo a intervenção econômica. Essa unanimidade não significa, necessariamente, que eles aprovem as medidas intervencionistas do governo ou outras forças coercitivas. Autores de livros, ensaios e artigos sobre economia e plataformas políticas exigem medidas intervencionistas antes que sejam tomadas, mas, uma vez impostas, ninguém as aprecia. Então, todos - e até mesmo as autoridades responsáveis por elas - qualificam-nas de insuficientes e insatisfatórias. Geralmente, a partir daí, surge a exigência da substituição das intervenções insatisfatórias por outras medidas mais eficientes. E, assim que as novas exigências são atendidas, a mesma cena se repete. O desejo universal do sistema intervencionista tem como contrapartida a rejeição de todas as medidas concretas da política intervencionista.<br />
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Às vezes, durante a discussão sobre a revogação parcial ou total de uma medida de controle, alguns se opõem à mudança, embora, via de regra não aprovem tal medida. Seu desejo é impedir medidas ainda piores. Por exemplo, raramente agradam aos pecuaristas as tarifas e normas de inspeção sanitária, adotadas a fim de restringir a importação de animais, carnes e gorduras do exterior. Mas, tão logo os consumidores exigem a revogação ou relaxamento dessas restrições, os fazendeiros levantam-se em sua defesa. Os maiores defensores da legislação trabalhista têm rotulado todas as medidas de controle adotadas até agora de insatisfatórias - no melhor dos casos, são aceitas como parte do que precisa ser feito. No entanto, se qualquer uma dessas medidas vier a ser revogada - por exemplo, o limite legal de oito horas para a jornada de trabalho - eles se levantam em sua defesa. <br />
<br />
Qualquer pessoa compreenderá de imediato esse posicionamento diante de determinadas intervenções ao admitir que a intervenção seja sempre ilógica e impertinente, uma vez que nunca chega a atingir os objetivos que seus defensores e autores, perseguiam. É, contudo, digno de nota que se defenda obstinadamente o intervencionismo, apesar de suas deficiências e do fracasso de todas as tentativas de demonstrar a lógica teórica desse sistema. Para a maioria dos observadores, a ideia de voltar aos princípios liberais clássicos parece tão absurda, que raramente se preocupam com ela. <br />
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Os defensores do intervencionismo frequentemente apelam para a tese de que o liberalismo clássico pertence ao passado. Hoje, eles nos dizem, estamos vivendo numa era de "política econômica construtiva", ou seja, na era do intervencionismo. O curso da história não pode voltar atrás, e aquilo que passou não pode ser restaurado. Quem invoca o liberalismo clássico e, desta forma, alardeia que a solução é a "volta a Adam Smith" está pedindo o impossível.<br />
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Não é absolutamente verdadeiro que o liberalismo contemporâneo seja idêntico ao liberalismo britânico dos séculos XVIII e XIX. Certamente, o liberalismo moderno baseia-se nas grandes ideias desenvolvidas por Hume, Adam Smith, Ricardo, Bentham e Wilheim Humboldt. Liberalismo, porém, não é doutrina fechada e dogma rígido. É uma aplicação dos princípios da ciência à vida social do homem, a política. A economia e as ciências sociais deram largos passos desde que se introduziu a doutrina liberal. Assim, também o liberalismo teve de mudar, embora seu ideário básico tenha permanecido inalterado. Quem estudar o liberalismo moderno, logo descobrirá as diferenças entre os dois. Concluirá que o conhecimento do liberalismo não pode provir apenas de Adam Smith, e que o pedido de revogação das medidas intervencionistas não corresponde ao movimento chamado "volta a Adam Smith".<br />
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O liberalismo moderno difere do liberalismo dos séculos XVIII e XIX, no mínimo tanto quanto o intervencionismo moderno difere do mercantilismo dos séculos XVII e XVIII. Não faz sentido chamar de anacronismo o retorno ao livre comércio, se o retorno ao sistema de proteção e proibição não for também, considerado um anacronismo.<br />
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Escritores que atribuem a mudança na política econômica somente ao espírito da época certamente não admitem explicação científica para o intervencionismo. Dizem que o espírito capitalista foi substituído pelo espírito da economia obstruída. O capitalismo envelheceu e, consequentemente, deve render-se ao novo. E dizem que esse novo é a economia obstruída pela intervenção do governo ou por qualquer outro fator. Quem acreditar, seriamente, que estas afirmações podem refutar as conclusões da economia, com relação aos efeitos dos impostos de importação e controles de preços, certamente estará perdido.<br />
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Há outra doutrina popular baseada no conceito equivocado de "livre concorrência". A princípio, alguns autores criam um ideal de competição livre, em igualdade de condições - como os postulados das ciências naturais. Descobrem, depois, que a ordem da propriedade privada não corresponde absolutamente a esse ideal. Mas, por acreditarem que a realização deste postulado de "competição realmente livre e em igualdade de condições" seja a mais elevada meta da política econômica, eles sugerem várias reformas. Em nome do ideal, alguns exigem uma espécie de socialismo que chamam de "liberal" porque percebem, visivelmente, neste ideal a essência do liberalismo. Outros exigem várias outras medidas intervencionistas. Contudo, a economia não é um grande prêmio em que os participantes competem de acordo com as regras do jogo. Caso se tenha de determinar qual o cavalo que consegue correr certa distância em menos tempo, as condições devem ser iguais para todos os cavalos. Entretanto, será válido tratarmos a economia como um teste de eficiência para determinar qual dos concorrentes, em condições idênticas, pode produzir a preços mais baixos?<br />
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A competição como fenômeno social nada tem em comum com as competições esportivas. Transferir o postulado da "igualdade de condições" das regras do esporte ou da organização de experiências científicas e tecnológicas para a política econômica é um equívoco terminológico. Na sociedade, não apenas sob o sistema capitalista, mas sob qualquer sistema social imaginável, existem competições entre os indivíduos. Os sociólogos e economistas dos séculos XVIII e XIX demonstraram como funciona a competição no sistema social baseado na propriedade privada dos meios de produção. Esta foi a parte essencial da crítica que fizeram às medidas intervencionistas da política mercantilista e do estado voltado para o bem-estar. Esses cientistas demonstraram como as medidas intervencionistas eram ilógicas e inadequadas. Aprofundando-se ainda mais nas pesquisas, verificaram que a ordem econômica que melhor atende aos objetivos econômicos do homem é a que tem por base a propriedade privada. Certamente, os mercantilistas indagavam como o povo se arranjaria se o governo o abandonasse. Os liberais clássicos respondiam que a competição entre negociantes acabaria suprindo os mercados com os bens de consumo necessários aos consumidores. De um modo geral, para pedir o fim do intervencionismo, expressavam-se da seguinte forma: a liberdade de concorrência não deve sofrer limitações. Com o slogan da "livre concorrência" exigiam que a função social da propriedade privada não fosse obstruída pela intervenção do governo. Assim, era possível que, equivocadamente, se pensasse que a essência dos programas liberais não era a propriedade privada, mas a "livre concorrência". Os críticos sociais começaram a perseguir um fantasma nebuloso, a "concorrência genuinamente livre", que nada mais era que o produto de um estudo insuficiente do problema e uma preocupação exagerada com lemas [1].<br />
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A apologia do intervencionismo e a refutação da crítica ás intervenções, por parte da teoria econômica, são expressas de modo muito superficiais. Tomemos como exemplo a afirmação de <b><a href="http://www.eumed.net/economistas/06/lampe.htm">Lampe</a> </b>de que essa crítica<br />
<blockquote class="tr_bq">
<i>só se justifica quando se demonstra, ao mesmo tempo, que a ordem econômica existente corresponde ao ideal da livre concorrência. Apenas sob total condição é que toda intervenção feita pelo governo corresponde a uma redução da produtividade econômica. Hoje em dia, porém, nenhum cientista social sério se arriscaria a mencionar tal harmonia econômica preestabelecida da forma como os economistas clássicos e seus discípulos otimistas liberais a concebem. Existem tendências no mecanismo de mercado que proporcionam um ajuste nas relações econômicas rompidas. Mas essas forças prevalecem apenas "a longo prazo", ao passo que o processo de reajuste é interrompido por atritos mais ou menos acentuados. Isso dá origem a situações em que a intervenção pelo "poder social" pode ser não só politicamente necessária, mas também economicamente conveniente ... desde que haja, e que sejam seguidas, recomendações técnicas, disponíveis para o poder público, fundamentadas em análise estritamente científica [2]. </i></blockquote>
É extraordinário que esta tese não tenha sido escrita durante as décadas de 1870 ou 1880, quando os Socialistas de Cátedra ofereciam às altas autoridades seus remédios infalíveis para o problema social e suas promessas para a aurora de dias gloriosos. Foi escrita em 1927. Lampe ainda não compreende que a crítica científica ao intervencionismo nada tem a ver com um "ideal de livre competição" e "harmonia preestabelecida" [3]. Os que analisam cientificamente o intervencionismo não chegam a afirmar que a economia não controlada é de algum modo ideal, boa ou isenta de atrito. Não defendem a tese de que toda intervenção corresponde a uma "redução da produtividade econômica". Com sua crítica apenas demonstram que as intervenções não podem atingir os objetivos traçados por seus autores e promotores, e que elas devem ter consequências indesejadas mesmo para seus autores e patrocinadores, por lhes contrariarem as intenções. É assim que os defensores do intervencionismo devem responder. Todavia, não apresentam nenhuma resposta.<br />
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Lampe apresenta um programa de "intervencionismo produtivo", que consiste em três pontos [4]. O primeiro é que a autoridade pública "deve, dentro do possível, insistir na redução lenta do nível salarial". Pelo menos, Lampe não nega que qualquer tentativa, por parte da "autoridade pública", no sentido de manter os níveis salariais acima daqueles que a ação do mercado teria estabelecido deve, certamente, gerar desemprego. No entanto, negligencia o fato de que sua própria proposta levaria - num grau menor e por um período de tempo limitado - à intervenção que ele próprio sabia ser inconveniente. Em relação a essas propostas vagas e incompletas, os defensores de controles totais levam a vantagem de parecerem lógicos. Lampe critica-me por eu não me preocupar com a duração do desemprego sazonal transitório, que provoca atritos, nem com a, gravidade que este poderá atingir [5]. Ora, sem intervenção, o desemprego.não durará muito tempo nem afetará a muitos. Contudo, não há dúvida de que a proposta de Lampe, se posta em prática, causaria um desemprego prolongado, com sérias e graves consequências. Isso não pode ser negado nem mesmo por Lampe, à luz de sua análise.<br />
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De qualquer forma, devemos ter em mente que uma crítica ao intervencionismo não deixa de lado o fato de que, quando algumas intervenções na produção são eliminadas, surgem atritos específicos. Se, por exemplo, todas as restrições à importação fossem suspensas hoje, grandes dificuldades, causadas por essa revogação, se fariam sentir durante algum tempo. Logo depois, porém, haveria uma elevação sem precedentes da produtividade da mão de obra. Esses atritos inevitáveis não podem ser amenizados por um prolongamento regular do tempo destinado à redução da proteção, nem são sempre agravados por tal prolongamento. Contudo, no caso de interferências governamentais nos preços, uma redução lenta e gradual, em vez da abolição imediata, apenas prolonga o tempo em que as consequências indesejáveis da intervenção continuam a ser sentidas.<br />
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Os dois outros pontos do "intervencionismo produtivo" de Lampe não requerem crítica especial. Aliás, um deles nem é intervencionista e o outro na verdade, visa à abolição da intervenção. No segundo ponto de seu programa, Lampe exige que a autoridade pública elimine os numerosos obstáculos institucionais que reprimem a mobilidade ocupacional e regional da mão de obra.<br />
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Mas isso significa a eliminação de todas as medidas governamentais e sindicalistas que impedem a mobilidade e corresponde, basicamente, à antiga exigência do laissez passer, exatamente o oposto do intervencionismo. E, no terceiro ponto, Lampe sugere que a autoridade política central faça "um exame antecipado e fidedigno da situação econômica geral", o que certamente não é intervenção. Um exame geral da situação econômica pode ser útil para todos, até mesmo para o governo, na medida em que, a partir dele, se pode chegar à conclusão de que não deve, de modo algum, haver interferência.<br />
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Quando comparamos o programa intervencionista de Lampe com outros de alguns anos atrás, reconhecemos como as reivindicações de sua escola se tornaram modestas. Esse é um progresso do qual os críticos do intervencionismo podem se orgulhar.<br />
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<b>Notas</b><br />
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[1] Ver a crítica desses equívocos em Halm, Die Konkurrenz (A concorrência), Munique e Leipzig, 1929, principalmente p. 131 et seq.<br />
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[2] Lampe, Notstandarbeiten oder Lohnabbau? (Serviços públicos ou reduções de salários?) Iena, 1927, p. 104 et seq.<br />
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[3] Quanto à "harmonia preestabelecida", ver, adiante, o ensaio "<a href="http://www.mises.org.br/EbookChapter.aspx?id=357">Antimarxismo</a>", de minha autoria.<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2567792152982859459.post-46211277290620937302012-01-31T09:20:00.000-08:002012-01-31T09:21:28.702-08:00Matemática na economia: bom ou ruim?<b><span style="font-size: x-small;"><i>por Bernardo Emerick</i> (publicado originalmente no Caderno <a href="http://precodosistema.blogspot.com/">Preço do Sistema</a> - Julho de 2008)</span></b><br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://img0.etsystatic.com/il_fullxfull.243779508.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="http://img0.etsystatic.com/il_fullxfull.243779508.jpg" width="200" /></a></div>
Como o termo “matemática” é muito amplo, é melhor restringirmos o seu significado para essa discussão. Evidentemente, ninguém acha que matemática básica é algo inútil para a economia. Se A tem dois reais e B tem três, ninguém condenará a conclusão de que A e B juntos têm cinco reais.<br />
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O que se questiona é o uso do “cálculo” – ou, mais precisamente, das ferramentas que a física clássica utilizava – para a economia. Ou seja, aqueles que atacamos o uso da matemática na economia estamos contra a aplicação do cálculo diferencial e infinitesimal, das equações diferenciais e de métodos geométricos na praxeologia.<br />
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A minha defesa dessa tese – de que essa parte da matemática é inútil à economia quando não positivamente prejudicial – será feita em diversos níveis de abstração.<br />
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<b>Economia e física</b><br />
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É inegável que a aplicação dos métodos matemáticos usados pelos físicos na economia tem como inspiração o próprio triunfo da física como modelo de ciência. A aplicação de poucas leis gerais traduzíveis em equações muito simples e que davam imensa capacidade preditiva mostravam ao mundo as vantagens de uma ciência ancorada no cálculo diferencial e infinitesimal.<br />
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Não se deve esquecer que o título da maior obra de física de todos os tempos era Princípios Matemáticos de Filosofia Natural. A física antiga, aristotélica, não era ancorada em equações. As idéias eram colocadas em linguagem natural. A partir de Galileu, sobretudo com Newton, os avanços da física foram sem precedentes.<br />
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A física agora tinha uma visão unificada da natureza – até porque eletromagnetismo na época era um fenômeno mais ou menos irrelevante -, em que se explicava desde o movimento de pêndulos simples às leis de Kepler; da engenharia básica à estabilidade do sistema solar. Laplace chegou a afirmar que bastava que lhe dessem as condições iniciais do universo para que ele desvendasse tudo que ocorreria no universo. O poeta Alexander Pope, parodiando a Bíblia, disse algo assim: “E Deus disse: haja Newton. E houve luz”.<br />
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Havia, pois, uma confiança natural nos poderes da mecânica newtoniana. É claro que, inspirado nisso, os homens do saber começaram a tentar estender as idéias matemáticas de Newton a todos os outros campos do conhecimento humano. Mesmo quando não aplicavam diretamente a matemática, era a filosofia geral de Newton que dominava. David Hume, por exemplo, diz explicitamente no prefácio do Tratado da Natureza Humana que a sua filosofia é uma tentativa de aplicar os grandes princípios de Newton ao homem.<br />
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A essa suposição de que todo o conhecimento humano deva ser baseado nos métodos da mecânica clássica chamaremos de cientificismo.<br />
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A pergunta natural que devemos responder é: o cientificismo está certo?<br />
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Para responder essa questão, é necessário investigar, ainda que brevemente, o tipo de objeto de conhecimento da economia e compará-lo com o da física. Basicamente, a física se preocupa com a matéria e seu movimento. Donde se conclui que a fonte primária de informações do físico necessariamente é o mundo exterior. A matéria, enquanto tal, não pensa, não tem motivos. Então só observamos o seu comportamento a partir da observação, só após o seu movimento ter ocorrido.<br />
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Na praxeologia, a questão é fundamentalmente distinta. O que importa não é o movimento do corpo do agente, o seu gasto de energia nos processos metabólicos e na sua locomoção. O que importa para a ciência da ação humana é a estrutura formal por trás da própria noção do que é ação.<br />
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Ação é comportamento teleológico, é a busca de um fim empregando meios que o agente acredita que levarão ao objetivo desejado. A fonte do conhecimento do que é uma ação, portanto, não está na observação do mundo exterior, mas no próprio sujeito de conhecimento.<br />
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De um lado, causalidade determinística e observação exterior; do outro, ação motivada e observação interior.<br />
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Há ainda uma outra diferença. O mundo natural exterior é marcado por uma observável regularidade. Isso significa que a descrição dos fenômenos é invariável. Um resultado observado no laboratório X será o mesmo observado no laboratório Y. E esses resultados podem ser descritos imediatamente como dados matemáticos. Pois, sendo a preocupação da física o movimento – em sentido restrito – da matéria, os seus dados podem ser analisados via a atribuição de um sistema de referência que possibilite imediatamente uma métrica, i.e., uma noção de distância. Para diferenças de posições, podemos atribuir números.<br />
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Portanto, a atribuição quantitativa aos fenômenos físicos surge naturalmente. E a regularidade quantitativa dos fenômenos é o que permite a elaboração de equações para a descrição do mundo natural – mesmo na mecânica quântica, na qual importam mais distribuições de probabilidade.<br />
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Essa atribuição quantitativa não é formal, mas material. Por exemplo, se eu sei qual é o coeficiente de atrito cinético de um determinado plano e faço deslizar sobre ele um objeto com determinadas aceleração e velocidade iniciais, a equação que descreve o movimento desse objeto me dirá explicitamente o ponto em que o objeto ficará parado – se é que isso irá ocorrer.<br />
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Não há a mesma espécie de regularidades nas ações humanas. As pessoas possuem preferências e estas são modificadas sem nenhum padrão. Dependem da vontade de cada indivíduo. Ao contrário dos experimentos laboratoriais da física, indivíduos diferentes agem de forma diferente em experimentos em condições semelhantes. Um mesmo indivíduo pode agir de forma distinta em experimentos semelhantes. Como dizia Ludwig von Mises, “não existem constantes na ação humana”.<br />
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A regularidade nos fenômenos da ação humana é formal, não material – como na física. Trata-se meramente de regularidades qualitativas, não quantitativas. Os dados relevantes da praxeologia são juízos de valor. E a juízos de valor não é possível dar uma medida quantitativa objetiva. Logo, o uso de equações não é útil na descrição dos fenômenos da ação humana, exatamente por essa não ser a linguagem apropriada ao objeto de estudo.<br />
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<b>Ciência</b><br />
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Toda ciência possui dois aspectos. Uma ciência, para ser ciência, tem que possuir uma qualidade explicativa, na qual se tenta demonstrar o nexo causal dos fenômenos. Por outro lado, a ciência deve ter um aspecto preditivo. Essa é a idéia básica do que seja uma ciência.<br />
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A sociedade americana de econometria adotava como lema a frase que dizia que “ciência é fazer previsões”. Nessa visão, portanto, o caráter explicativo da ciência é reduzido ao seu aspecto quantitativo. O que implica, por sua vez, uma visão muito restrita da ciência. Aqui, ciência não seria o conhecimento do seu objeto de estudo, mas o conhecimento que se revela por relações quantitativas.<br />
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Pelo que foi dito acima, esse ponto de vista implica a inexistência de uma ciência da ação humana, pois esta não pode ser encarada do mesmo modo que a física. O caráter explicativo da praxeologia não é quantitativo, mas qualitativo; é teleológico.<br />
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Então, se a econometria é uma pseudociência que só teria uma aspecto (falho) preditivo, poder-se-ia objetar que a praxeologia peca pelo oposto: ao possuir apenas um lado explicativo, não teria à sua disposição a predição. Donde a praxeologia não seria também uma ciência no sentido que usualmente é atribuído a este termo.<br />
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O erro de tal objeção é confundir predição com predição quantitativa. Predição pode ser tanto quantitativa quando qualitativa. A redução que se faz do caráter preditivo de uma ciência a aspectos quantitativos – donde a ferramenta imprescindível de toda ciência ser a matemática, que é a ciência que trata das quantidades por excelência, embora não se reduza a isto – advém precisamente do cientificismo, que, como foi argumentado acima, é uma filosofia falsa.<br />
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Portanto, a praxeologia é uma ciência cujo aspecto qualitativo reside na estrutura formal da ação humana – não matematizável – e cujo lado preditivo é qualitativo, não quantitativo.<br />
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<b>O uso da matemática na economia</b><br />
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Como foi observado na seção 1, a física tornou-se modelo de ciência pelo seu aspecto preditivo. E o seu aspecto preditivo foi tomado com seu poder explicativo, na medida em que os resultados eram generalizados para uma quantidade enorme de casos. Assim, os próprios princípios da física tornaram-se equações.<br />
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Se na praxeologia começamos dizendo que os homens agem, na física começamos dizendo que tais e tais objetos satisfazem determinada equação. É mais do que evidente a diferença qualitativa das ciências, que reflete a diferença dos objetos das respectivas disciplinas e da forma como conhecemos esses objetos.<br />
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Porém, uma vez que tentemos matematizar a praxeologia e reduzi-la a uma espécie de mecânica da ação humana, que resultados efetivos poderíamos mencionar em defesa desse procedimento? Se a física como matemática aplicada é imediatamente justificada por seus resultados preditivos, podemos invocar os resultados da economia matemática como defesa da sua existência como ciência?<br />
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Antes de tudo, é necessário observar que nem mesmo os economistas levam a sério na prática a economia matemática, mesmo quando são economistas matemáticos. O sistema de equações fundamental do equilíbrio do consumidor diz que o indivíduo maximiza sua utilidade quando a razão entre a utilidade marginal à quantidade consumida de um bem e o seu preço é igual a essa mesma razão para todos os outros bens. Ou seja, se houver n bens, então haverá um sistema de n(n-1)/2 equações diferenciais parciais. Ninguém nunca viu um economista tentando resolver essas equações.<br />
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O que significa que os economistas, ao usar a matemática e lhe tentarem dar um aparato preditivo quantitativo, abandonam a fundamentação explicativa da teoria via teoria do comportamento para focar em grandes agregados, aos quais ele não consegue dar uma explicação razoável. Isto é, parte-se para a estatística e para as milhões de regressões.<br />
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Pois bem, a estatística funciona muito bem para o passado, mas o fato é que durante um século os economistas tentaram na prática aplicar as suas conclusões econométricas para controlar a economia e falharam.<br />
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Em suma, a economia matemática não se justifica do mesmo modo que a física matemática, na medida em que não possui poder preditivo.<br />
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<b>A matemática, o espaço e a economia</b><br />
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Conforme já foi dito, o cálculo é muito apropriado à física, pois é possível estabelecer muito naturalmente duas das unidades fundamentais desta ciência: tempo e espaço. Nós sentimos o tempo passar continuamente, de modo que estabelecemos com fundamentação que o tempo corre continuamente. Por outro lado, os matemáticos fazem a suposição de que o conjunto dos reais pode ser representado como uma reta.<br />
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Assim, o físico tem bons motivos para considerar o movimento como função em espaços vetoriais reais, que é o ambiente mais apropriado para a formulação do cálculo diferencial e infinitesimal.<br />
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O físico, então, interpreta o movimento dos objetos como sendo variações das posições de pontos num espaço. Ou seja, ele iguala o espaço real com o espaço matemático. Portanto, uma vez fixada a unidade de medida do espaço, as descrições matemáticas correspondem – caso estejam corretas – aos fenômenos reais observados. Isso acontece porque, como já foi colocado antes, os próprios princípios da física são equações básicas nesse próprio espaço em que ele trabalha.<br />
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Na economia, as coisas não são assim. Por exemplo, se estamos tratando da teoria de produção, as unidades não são divisíveis. As quantidades devem ser sempre números naturais, de modo que não se tem um ambiente favorável ao cálculo diferencial e infinitesimal. As funções de produção não contínuas na topologia usual do espaço euclidiano n-dimensional, não sendo, pois, diferenciáveis, e tampouco são integráveis (à Lebesgue), uma vez que o conjunto dos pontos de descontinuidade não tem medida nula.<br />
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O caso da produção numa economia monetária seria o mais favorável possível à formulação matemática, mas, como acabamos de mostrar, os métodos do cálculo diferencial e infinitesimal são simplesmente inaplicáveis. A única forma de usá-los seria não com uma simplificação da realidade, mas por uma deliberada falsificação dela. Nenhuma ciência pode ser considerada como tal se busca a mentira por vontade própria.<br />
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O caso é ainda mais dramático no caso da teoria do consumidor – ou, se fôssemos generalizar, para a teoria da ação humana em geral –, já que é simplesmente estabelecer as relações algébricas usuais para utilidade. Não faz sentido adicionar, subtrair, multiplicar ou dividir utilidades. Não se pode sequer atribuir uma estrutura de espaço vetorial – ou, ainda mais geralmente, de módulo – ao conjunto das utilidades, muito menos tentar criar cálculo diferencial.<br />
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<b>Matemática como ilustração</b><br />
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Complementando o argumento acima, não se pode criar uma álgebra com as operações usuais para utilidade. Qualquer um que se aventure a pegar um livro-texto de microeconomia, encontrará no começo, provavelmente no primeiro capítulo, alguma seção explicando que utilidade é ordinal, não cardinal; que não faz sentido fazer comparações interpessoais de utilidade. No entanto, provavelmente na seção seguinte, ele encontrará alguma curva de indiferença, que supõe que as pessoas não ordenam os bens numa escala de preferência.<br />
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Sem discutir esse procedimento ilegítimo que é o uso de curvas de indiferença, o autor do livro-texto basicamente atribuirá níveis de utilidade, aos quais fará corresponder algum número. Ou seja, primeiro ele diz que não é possível atribuir uma medida à utilidade, mas logo em seguida finge esquecer o que disse e atribui medida, mesmo sem lhe dar um significado realista. A justificativa é que é mera ilustração.<br />
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Antes de tudo, é preciso notar que ilustrar uma teoria não pode ser feita através de algo falso. Ilustrar uma teoria é dar-lhe um exemplo em que ela realmente seja aplicável, embora num contexto bastante simplificado. Por exemplo, quando um físico quer explicar o princípio da relatividade, ele cita o caso de uma pessoa no leito de uma ferrovia e outra dentro de um trem. Agora, não faria sentido dizer que o movimento de carro é uma ilustração da dualidade matéria/onda da luz.<br />
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Quando o economista utiliza o cálculo, ele não está fazendo uma ilustração, mas está jogando fora as proposições verdadeiras anteriores para adotar algo que ele sabe ser falso. Ele está substituindo uma teoria por outra, uma teoria melhor por uma pior.<br />
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E qual não será a surpresa do leitor atento ao perceber que, de repente, toda a teoria que é desenvolvida nos capítulos ulteriores será justamente a aplicação daquela “ilustração”! Por fim, não será raro encontrar até comparações interpessoais de utilidade. A chamada economia do bem-estar, por exemplo, tem como seu fundamento essa suposição, embora ela seja sempre tomada implicitamente.<br />
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<b>A linguagem matemática como forma de evitar erros</b><br />
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Uma defesa dos métodos matemáticos na economia é que a linguagem matemática, por ser mais formal, acabaria facilitando a identificação de erros no raciocínio, de modo que seria uma forma de evitar erros lógicos. Esse argumento não deixa de ser irônico. Para evitar um erro acidental, justifica-se um erro essencial!<br />
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No entanto, sendo este argumento de ordem pragmática, não precisamos mostrar o seu descabimento filosófico. Na prática, a economia matemática tem sido fonte de acertos ou de erros? Bem, a maior parte das políticas econômicas adotadas no século XX tiveram como base de sustentação teorias econômicas fortemente calcadas em equações. Como essas políticas, em geral, foram desastrosas, podemos dar duas explicações diferentes – apesar de não serem mutuamente exclusivas: i) houve erros matemáticos ou ii) houve erros nos fundamentos da teoria.<br />
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Já sabemos que as teorias econômicas matemáticas são falsas por falsificarem deliberadamente a realidade. O melhor, então, que a economia matemática pode fazer é nos assegurar que provavelmente os erros da sua fundamentação serão carregados nas deduções das equações!<br />
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<b>Equilíbrio de Nash</b><br />
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Por último, comentarei um pouquinho sobre teoria dos jogos, que, aparentemente, estaria livre de alguns excessos da economia matemática. A teoria dos jogos não é exatamente uma teoria que usa os métodos matemáticos aplicados à física. Então poderia ser um ramo da economia válido que exigiria um maior conhecimento de matemática.<br />
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O resultado mais importante da teoria dos jogos é o Teorema de Nash, que diz que em todo jogo não-cooperativo com um número finito de jogadores com estratégias mistas há pelo menos um equilíbrio de Nash.<br />
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Do ponto de vista matemático, eu não tenho nada a objetar. A demonstração feita por Nash na sua tese de doutorado me parece válida. Não encontrei nenhum erro e, tendo ela sido aprovada, devemos considerar aqui que realmente ela esteja correta do princípio ao fim.<br />
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Então qual seria a minha “implicância” com o equilíbrio de Nash? Na verdade, nenhuma. A minha implicância é com o uso que se faz desse resultado em teoria econômica. O problema do teorema de Nash é que ele não é aplicável à realidade.<br />
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A demonstração do Teorema feita por Nash utiliza noções de topologia. O que nos interessa aqui é uma observação. Suponha que haja n estratégias puras disponíveis a um jogador. Então o espaço de todas as estratégias para esse jogador é o conjunto S = {(p_1,p_2,...,p_n): p_1+p_2+...+p_n = 1 e p_i >=0, para todo i e p_i sendo número real}. Atribuindo a cada eixo de um espaço real euclidiano n-dimensional uma estratégia pura, então isso será um politopo n-dimensional. Por exemplo, se n=2, haverá um triângulo de vértices (0,0), (1,0) e (0,1) e as estratégias do jogador será qualquer ponto na reta que liga os vértices (1,0) e (0,1). A partir daí, define-se uma função pay-off para cada jogador P : S --> R, R é o conjunto dos reais.<br />
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Qual a importância disso? Além do problema óbvio de que a função pay-off terá que ser uma função de utilidade caso tenha alguma aplicação praxeológica – e isso não faz sentido –, existe uma suposição que é “ilegítima” de que as probabilidades podem ser números reais quaisquer entre 0 e 1. Por exemplo, se num jogo, eu escolho as minhas estratégias mistas apostando dinheiro em cada uma delas, então as probabilidades estão condicionadas pela divisibilidade do dinheiro.<br />
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Se eu tenho que apostar 1 real em três estratégias, eu posso fazer uma escolha de apostar 10 centavos em uma, 28 centavos em outra e 62 centavos na restante. É claro, o número de apostas possíveis é imenso – mas é finito. Então, nesse caso, o Teorema de Nash é inaplicável.<br />
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Não custa nada dizer: só se pode garantir a conclusão de um teorema de as hipóteses dele forem satisfeitas. Ora, em economia, dinheiro sempre tem divisibilidade finita. Logo, a hipótese de Nash nunca é satisfeita e, assim, o teorema nunca é aplicável na realidade.<br />
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O que estamos ressaltando aqui é que o uso da matemática na economia é totalmente inválido. Nenhum economista discute o que eu acabei de colocar. Procurem nos livros de economia se há alguma discussão sobre a validade do Teorema de Nash na economia. Simplesmente ninguém fala disso. A matemática é uma ciência rigorosa.<br />
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O que os economistas têm feito é agir como sanguessugas da matemática. Como esta é uma ciência prestigiada, o economista pega um teorema que possui uma demonstração rigorosa, no entanto aplicando-o a uma situação sobre a qual ele não diz respeito!<br />
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Alguém poderia objetar: “ora, mas nós podemos pensar nisso como um caso limite da realidade!” Mas isso é uma palavra de ordem, não um argumento... Porque, antes de tudo, a demonstração do teorema depende essencialmente da topologia que é utilizada – que se compromete com a forma específica dada ao conjunto S. E, além disso, seria preciso uma análise matemática para saber se realmente esse procedimento de ser “caso limite” realmente se aplica. É dizer, é preciso esquecer o teorema tal como ele e desenvolver uma teoria totalmente diferente e, só depois, ver como se dá essa relação.<br />
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<b>A função da matemática para os economistas</b><br />
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A matemática tornou-se uma forma de intimidação retórica dos economistas. Podemos até dizer que essa é a sua grande função. Não é uma utilização meramente científica, é um uso da arrogância. É a fonte dos discursos “técnicos”, em que são ditas mil bobagens aplaudidas, reverenciadas e temidas. Quem se atrever a discutir com a matemática?<br />
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A matemática é a ciência mais segura que existe. Se temos uma “demonstração” matemática, somos os donos da verdade. Ninguém discute que 2+2=4. Por que discutiriam as medidas que os burocratas tecnicistas advogam?<br />
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Em suma, a matemática tornou-se, na mão dos economistas, uma arma para autolegitimização de um discurso pseudocientífico.Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2567792152982859459.post-44658573415491888372011-11-23T10:11:00.001-08:002013-06-14T10:55:04.714-07:00Escola Austríaca de Economia segundo Ubiratan Iorio<br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><b><i>por Ubiratan Jorge Iorio </i>(extraído do livro <a href="http://www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=60">Ação, Tempo e Conhecimento</a>)</b></span><br />
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<a href="http://images.mises.org/DailyArticleBigImages/3731.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://images.mises.org/DailyArticleBigImages/3731.jpg" /></a></div>
A economia da Escola Austríaca, assim como a epistemologia e a filosofia política, também deriva do que denominamos de tríade básica — ação, tempo e conhecimento — e se propaga por meio dos conceitos de utilidade marginal, subjetivismo e ordens espontâneas, que são os seus elementos de propagação.<br />
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Com base no núcleo seminal e nesses elementos propagadores, os economistas austríacos, desde os primórdios com Menger, erigiram uma obra extraordinariamente rica sob o ponto de vista científico, mas que funciona perfeitamente — evidentemente, naquilo que se pode chamar de "perfeição" em uma ciência social — quando tenta explicar o mundo real.<br />
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Vejamos resumidamente cada um dos seis campos da teoria econômica que consideramos essenciais para a compreensão do pensamento austríaco.<br />
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<b>(a) processo de mercado</b><br />
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A Escola Austríaca não estuda, ao contrário da mainstream economics, mercados em estado de equilíbrio. Nem tampouco utiliza a famosa classificação dos mercados segundo as suas "formas" (concorrência perfeita, oligopólio, concorrência monopolista e monopólio). Ela trabalha com a hipótese de que os mercados são processos que tendem ao equilíbrio (porque os agentes são racionais e aprendem com os erros), mas que, em cada momento distinto do tempo dinâmico, não estão em suas "posições" de equilíbrio.<br />
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Para entender isto, basta mencionarmos os principais elementos da teoria. Em primeiro lugar, os mercados são movimentados pela ação humana de seus participantes, tanto no lado da demanda quanto no da oferta. Em segundo lugar, a ação humana se dá ao longo do tempo dinâmico, em que cada instante é uma oportunidade de aprendizado. Terceiro, as transações nos mercados se realizam sob condições de limitação e de dispersão do conhecimento. Quarto, os mercados são ordens espontâneas, sujeitando-se, portanto, a permanentes mutações. Quinto, a ação humana é subjetiva.<br />
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Como esperar, então, que o mundo real possa apresentar mercados em "equilíbrio"? Este é um dos principais pontos da teoria austríaca. Os mercados são processos de erros e tentativas, um permanente procedimento de descobertas de novas oportunidades, com uma dinâmica que não dá espaço para o equilíbrio.<br />
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<b>(b) função empresarial</b><br />
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A função empresarial é a capacidade individual subjetiva de perceber as possibilidades de ganhos existentes nos mercados. Portanto, ela nada mais é do que uma categoria de ação. Sendo assim, a ação humana pode ser considerada como um fenômeno empresarial, mais especificamente aquela que realça as capacidades perceptiva, criativa e de coordenação do agente.<br />
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Como em qualquer ação humana, a ação empresarial acontece em ambiente de incerteza genuína, dadas as limitações de nosso conhecimento. Requer, por sua vez, criatividade e desprendimento, já que o futuro é incerto e uma ação empreendedora tanto pode dar bons resultados como maus resultados. A ação empresarial é um conjunto de escolhas ao longo do tempo em ambiente de incerteza e, como tal, implica em um conjunto de outras ações alternativas a que se deve forçosamente renunciar e o custo é o valor subjetivo dessas ações a que se renuncia.<br />
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Como os meios sempre são escassos face aos fins, os agentes buscam primeiro os fins aos quais dão maior valor e apenas depois os demais, relativamente menos importantes. Cada ação é motivada pela crença subjetiva de que os fins escolhidos possuem um valor maior do que o valor dos custos da escolha de uma ação e a diferença entre ambos é o lucro, o elemento que explica a ação.<br />
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Para a Escola Austríaca toda ação embute um componente empresarial puro e criativo em sua essência, que não requer qualquer custo e que é exatamente o que permite aproximar o conceito de ação do conceito de função empresarial.<br />
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<b>(c) debate sobre o cálculo econômico</b><br />
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Mises, ainda nos anos 20 do século passado, percebeu claramente que o sistema socialista impossibilita o cálculo econômico. Seu argumento era simples: o cálculo econômico requer que os planejadores conheçam os preços; estes, por sua vez, para que possam ser considerados como preços de fato (e não pseudo-preços) pressupõem a existência do processo de mercado, em que as ações de demandantes e ofertantes possam fluir normalmente; e os mercados, para que possam existir, requerem a propriedade privada. Ora, o socialismo não contempla a propriedade privada; portanto, não faz sentido falar em mercados em num sistema socialista; se não há mercados efetivos, não pode haver preços e, não havendo preços, o cálculo econômico torna-se impossível. Por essa razão, Mises afirmava categoricamente, em seu debate com os economistas socialistas, que o sistema que defendiam guiava-se às cegas e estava, portanto, fadado ao fracasso, pela desorganização social e econômica que embute. A história comprovou — e ainda está comprovando — que Mises estava certo.<br />
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Os órgãos centrais nesses sistemas são formados por pessoas, e não é razoável admitir que por melhores e mais "puras" sejam suas intenções, possuam o dom da onisciência, que lhes permita conhecer e interpretar os conjuntos dispersos de informações individuais, que estão se alterando e renovando ininterruptamente ao longo do tempo.<br />
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Os planejadores nem conseguem saber qual o seu o grau de ignorância sobre as informações necessárias para promover o cálculo correto e a consequente coordenação. E quanto maior o grau de coerção imposto, menores são as possibilidades de realização dos planos, porque a maior repressão tende a aumentar a ausência de coordenação, provocando distorções nos mercados que são progressivamente crescentes com o tempo.<br />
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<b>(d) teoria monetária</b><br />
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Os pontos principais da Escola Austríaca a respeito da teoria monetária podem ser resumidos em cino: o primeiro é que os efeitos das variações do estoque de moeda afetam desigualmente os preços relativos, a estrutura de capital, os padrões de produção da economia e alteram os níveis de emprego dos fatores de produção. Já em 1912, em sua obra monumental Teoria da Moeda e do Crédito, Mises chamava a atenção para o fato de que aumentos na oferta de moeda não produzem benefícios para a sociedade, porque eles não possuem capacidade de alterar os serviços de troca proporcionados pela moeda, apenas reduzem o poder de compra de cada unidade monetária.<br />
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O segundo é que os ciclos econômicos são fenômenos que, embora se manifestem no chamado setor real da economia, têm causas exclusivamente monetárias.<br />
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O terceiro é que a moeda, como qualquer outro bem, tem o seu valor decretado pelo princípio da utilidade marginal, como demonstrou Mises naquela obra, ao resolver o então denominado problema da circularidade austríaco, com o seu famoso teorema da regressão, como veremos no capítulo dedicado à teoria monetária da Escola Austríaca.<br />
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E o quarto é que os austríacos definem a inflação não como um simples "aumento contínuo e generalizados de preços", uma vez que essa, na verdade, é a manifestação da inflação; eles a definem como uma queda permanente no poder de compra da moeda, provocada, em última instância, pela emissão de moeda e pela consequente diminuição de sua utilidade marginal.<br />
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O último ponto é que a moeda, vale dizer, o sistema monetário, é uma ordem espontânea, um fenômeno que passa permanentemente por evoluções que são resultantes da ação humana, mas não de qualquer planejamento.<br />
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<b>(e) teoria do capital</b><br />
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A teoria do capital austríaca, sem dúvida, é um elemento que diferencia essa escola de pensamento de todas as demais, pelo simples fato de que estas não possuem algo que se possa denominar de teoria do capital.<br />
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Quem mais contribuiu para uma concepção austríaca do capital foi, sem dúvida, Böhm-Bawerk, que seguiu a tradição iniciada por Menger. Mises, Hayek e outros austríacos trabalharam fortemente para o seu desenvolvimento.<br />
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Seu ponto central é o conceito de estrutura de capital ou estrutura de produção, que considera que um bem, desde que começa a ser produzido até ficar acabado na forma de um bem final, passa por várias etapas no processo produtivo. Esses diversos estágios correspondem à estrutura de capital da economia. Portanto, o capital não é homogêneo e muto menos constante, como os modelos macroeconômicos o consideram. Ele é essencialmente heterogêneo e varia com os demais fatores de produção ao longo do tempo.<br />
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A heterogeneidade dos bens de capital e o fato de que as economias possuem estruturas de capital levam, entre outras hipóteses (como a do individualoismo metodológico) os economistas austríacos à rejeição da análise macroeconômica.<br />
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<b>(f) teoria dos ciclos econômicos</b><br />
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A ABCT (Austrian Business Cycles Theory) foi desenhada por Mises em seu tratado de 1912, posteriormente desenvolvida por Hayek nos anos 30 e depois aperfeiçoada por outros economistas da tradição de Menger, dos quais o mais criativo é o americano Roger Garrison.<br />
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É, ao mesmo tempo, uma teoria da moeda, do capital e dos ciclos econômicos. Mostra como a emissão de moeda produz o efeito de diminuir a taxa de juros e, inicialmente, enganar os agentes — que, acreditando que se trata de maior poupança, embarcam em investimentos de maturação mais longa, alargando, assim, a estrutura de capital da economia. Posteriormente, quando esses agentes descobrem que na realidade não se tratava de poupança, mas de moeda "fantasiada" de poupança, a taxa de juros sobe e isso leva a um encolhimento da estrutura de produção, fenômeno que produz desemprego (e que ficou conhecido como efeito concertina ou efeito sanfona), que é maior nos setores mais afastados da produção de bens finais, que foram exatamente aqueles setores inicialmente beneficiados pela expansão monetária.<br />
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Assim, a inflação — ou seja, aquela quantidade adicional de moeda que entrou na economia sem lastro — acabará provocando o desemprego de fatores de produção. Como disse Hayek, não há escolha entre comer demais (emitir moeda sem lastro real) e ter indigestão (recessão), porque ambas são inseparáveis, a primeira acarretando a segunda. Essa conclusão — de que o desemprego é a causa natural da inflação — mostra quão equivocadas são as análises keynesianas que ficaram conhecidas como a curva de Phillips, que postulavam a existência de um trade off ou dilema entre inflação e desemprego, de modo que, se algum governo desejasse combater a inflação, teria que aceitar uma taxa de desemprego de mão de obra maior ou, se quisesse reduzir o desemprego, seria forçado a aceitar uma taxa de inflação mais elevada.<br />
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<b>Conclusões</b><br />
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Procuramos neste capítulo resumir a multiplicidade de fatores cujo conjunto constitui a Escola Austríaca de Economia, mostrando a importância de cada um deles na construção do edifício e também como se integram entre si.<br />
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Ao núcleo seminal ou tríade básica, formada pelo conceito de ação humana, pela concepção dinâmica do tempo e pelo reconhecimento de que o conhecimento possui limitações, acrescentou-se o que se pode denominar de elementos de propagação, a saber, a doutrina da utilidade marginal, o subjetivismo e o conceito de ordens espontâneas. É interessante para o leitor parar neste ponto e fazer o exercício de certificar-se de que cada um desses três últimos elementos decorre dos três primeiros, em maior ou menor intensidade, o que permite que sejam denominados de propagadores.<br />
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De posse desse aparato, mostramos suas implicações nos campos da filosofia política, da epistemologia e da economia.<br />
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Ação, tempo e conhecimento: eis o universo fascinante da Escola Austríaca de Economia!<br />
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<b>Ubiratan Jorge Iorio</b> é economista e professor de UERJ. Visite seu <a href="http://www.ubirataniorio.org/">website</a>.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2567792152982859459.post-87273945827507612372011-11-04T09:56:00.000-07:002011-11-04T09:56:56.608-07:00A função social do dinheiro<br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><b><i>por Alceu Garcia </i>(<a href="http://www.olavodecarvalho.org/convidados/0148.htm">publicado originalmente em abril de 2002</a>)</b></span><br />
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<b>Introdução</b><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://www.ok4payday.com/wp-content/uploads/2011/01/paste142_girl_holding_money.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="153" src="http://www.ok4payday.com/wp-content/uploads/2011/01/paste142_girl_holding_money.jpg" width="320" /></a></div>
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O dinheiro é parte importante de nossas preocupações e afazeres cotidianos. No dia-a-dia de cada um, porém, o "vil metal" é apenas mais um dado de realidade; sua natureza última e funções sociais não despertam nenhum interesse. As pessoas contentam-se em conseguir o din-din para pagar suas contas e está muito bom assim. O estudo da moeda em si, assunto mortalmente entendiante para quase todo mundo, é deixado para os especialistas. E é aí onde mora o perigo. Se os especialistas adotam teorias errôneas sobre o dinheiro, que servem posteriormente de esteio intelectual para a ação maliciosa do Estado nesse campo, todos nós somos gravemente afetados e lesados. Talvez não seja de todo inútil, pois, esboçar aqui – muito imperfeitamente - os rudimentos teóricos sobre a natureza e função da moeda, de maneira que os interessados possam municiar-se de conhecimento sobre um aspecto crucial de suas vidas e, com base nele, tentar defender sua propriedade do larápio-mor que, como sempre, é o governo.<br />
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<b>Troca Direta e Troca Indireta</b><br />
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Em toda sociedade cedo se percebe a vantagem da divisão e especialização do trabalho, pois o esforço especializado rende muito mais do quer sua dispersão em múltiplas tarefas concomitantes. Daí decorrem naturalmente as trocas entre produtores de mercadorias específicas. Desse intercâmbio surgem razões de troca entre os diversos produtos, preços de bens em termos de outros bens, conforme as valorações de compradores e vendedores. É a troca direta, ou escambo, que tem a desvantagem óbvia de exigir dupla coincidência de fins entre comprador e vendedor, i.e., aquele que deseja vender bananas para adquirir sapatos, por exemplo, precisa achar alguém que possua sapatos e queira trocá-los por bananas. Com o passar do tempo e com a intensificação dos intercâmbios, aparecem espontaneamente certas mercadorias dotadas de grande aceitação geral, que terminam por adquirir a qualidade de meio comum de troca, ou seja, de moeda. Nasce assim a troca indireta, na qual o aludido produtor de bananas troca sua mercadoria por dinheiro e depois dinheiro por sapatos, o que facilita enormemente o comércio. A história registra os mais variados tipos de mercadoria-moeda, tais como gado (em latim, pecus, donde pecuniário), sal (daí salário), conchas, pedras, anzóis, tabaco etc. No curso do tempo o uso monetário do ouro e da prata prevaleceu, dada a raridade, divisibilidade, homogeneidade, durabilidade e facilidade de transporte e estocagem desses metais.<br />
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Essa passagem da troca direta para a indireta, que ocorreu de forma independente em quase todas as civilizações conhecidas, representa um formidável progresso social por incrementar o comércio e a acumulação de capital, que por sua vez elevam o padrão de vida geral. Por outro lado, o caminho inverso, da troca indireta para a direta, significa um retrocesso gravíssimo. O Império Romano é um bom exemplo. Da florescente economia monetária do século II D.C. involuiu para a troca direta na medida em que o governo depreciou o dinheiro para financiar os déficits decorrentes do custo colossal de seu crescente aparato burocrático. Vastos e improdutivos gastos públicos, déficit orçamentário ascendente, tributação extorsiva, inflação e controle de preços. O resultado dessa combinação algo familiar foi a destruição da economia mercantil e monetária antiga. A invasão dos bárbaros e a economia feudal autárquica e estagnada foi um conseqüência natural dessa regressão econômica.<br />
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<b>A Natureza do Dinheiro</b><br />
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Dessa breve introdução pode-se deduzir que o dinheiro é toda mercadoria que adquire a propriedade de meio comum de troca, passando a intermediar os atos de compra e venda. Vale assinalar que esse atributo específico se desprende totalmente da utilidade original da mercadoria-moeda e se torna autônomo. O ouro, por exemplo, quando usado como meio de troca, além de sua qualidade original de insumo utilizado para diversas finalidades industriais (e a própria mística de metal precioso) adquire a qualidade autônoma e específica de moeda. Para visualizar melhor esse fenômeno basta comparar o ouro-moeda com o nosso atual papel-moeda. Este último praticamente não tem valor não-monetário algum, são só tiras de papel pintado. Como dinheiro, contudo, tem a mesma natureza e função que o ouro-moeda. Outra inferência fundamental é que a moeda é uma criação do mercado, ou, o que é a mesma coisa, da livre interação contratual, voluntária e mutuamente benéfica entre os indivíduos. O que equivale a dizer que o dinheiro não é uma invenção maligna de uma classe dominante exploradora ou que decorre de um contrato social político mediado pelo Estado. O controle estatal da moeda, todavia, pode resultar, e invariavelmente tem resultado, em efetiva exploração. Mas isso veremos mais à frente.<br />
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<b>O Cálculo Econômico</b><br />
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A própria existência de moeda, o meio comum de troca, ao permitir que todos os preços sejam expressados em uma única unidade de conta, torna possível o cálculo econômico complexo indispensável ao funcionamento racional de uma economia desenvolvida. Numa comunidade primitiva é possível um cálculo não-monetário rudimentar e empírico por parte dos agentes econômicos. Uma economia complexa, porém, não pode subsistir sem preços em moeda. O trabalho, o capital, a terra, os bens e serviços são heterogêneos. Os diversos tipos de trabalho não são redutíveis a uma "unidade de trabalho" (como o fracasso da teoria do valor-trabalho o demonstra), assim como é impossível somar siderúrgicas e ferrovias, ou ferro e petróleo. Os seus respectivos preços monetários, porém, podem legitimamente ser comparados, somados, multiplicados etc. Desse modo o cálculo aritmético ex-ante e ex-post de lucros e perdas, fundamental para uma economia desenvolvida, pode ser efetuado com eficácia. Não existiria desenvolvimento econômico sem moeda, preços monetários e a moderna contabilidade, conforme acentua Ludwig von Mises. Incidentalmente, vale recordar que sem propriedade privada não existem preços, nem cálculo econômico, nem progresso econômico.<br />
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<b>Dinheiro e Incerteza</b><br />
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A impossibilidade de se conhecer o futuro é um dado de realidade inexorável. Dessa incerteza permanente deflui outra das funções da moeda, que é a de servir como reserva para contingências inesperadas. Os indivíduos tendem na medida do possível a manter saldos monetários disponíveis para emergências, em nível mais ou menos constante. A compreensão desse fenômeno é facilitada quando se contrasta a realidade perpetuamente cambiante com um estado imaginário de coisas em que não ocorrem mudanças, em que o futuro é sempre igual ao passado. Nesse caso, todas as pessoas sabem de antemão como será despendida a sua renda, pelo que não há a necessidade de se manter saldos de reservas monetárias. No mundo real isso não acontece, e as preferências pessoais por reservas de dinheiro constituem um dos pontos principais da determinação do valor da moeda.<br />
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<b>O Valor do Dinheiro</b><br />
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O dinheiro é uma mercadoria sui generis, pois não é bem de consumo nem bem de capital. Demanda-se moeda para trocá-la por bens de consumo ou pelos serviços dos fatores de produção. Outro ponto peculiar é que, ao contrário de quase todos os demais bens, a sociedade não se beneficia de um aumento da quantidade de dinheiro. É um interessante paradoxo esse, pois se para cada indivíduo é em geral benéfico possuir mais dinheiro do que antes, para a comunidade como um todo o crescimento da quantidade de dinheiro é altamente prejudicial. A sociedade vista globalmente ganha se existem cada vez mais batatas, televisões, fábricas etc, uma vez que a elevação da oferta em geral reduz os preços e o poder aquisitivo do dinheiro dos indivíduos aumenta. Se há cada vez mais dinheiro, contudo, não há benefício geral algum (conquanto haja vantagens para grupos particulares em detrimento dos demais) pois isso se traduz na redução progressiva do valor da unidade monetária, bem como na descoordenação das atividades econômicas. Se não detida essa depreciação, o sistema monetário entra em colapso com terríveis repercussões sociais.<br />
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O poder aquisitivo da unidade monetária, que é o seu preço em relação a tudo que é trocado por dinheiro em um dado momento, jamais é fixo ou constante. Ele sempre varia. Os fatores que governam essas variações podem se originar no "lado do dinheiro" ou "no lado dos bens e serviços", ou ainda em ambos simultaneamente. Caso a quantidade de moeda decresça (deflação), e a produção de bens e serviços fique constante, aumente ou decresça menos do que a diminuição do dinheiro, o valor da moeda se eleva. Se a oferta de dinheiro se mantém fixa ao longo do tempo, o desenvolvimento econômico traduzido em maior quantidade de bens e serviços produzidos também acarreta uma elevação do valor da moeda (queda dos preços), que passa a comprar mais produtos do que antes. Se a quantidade de dinheiro aumenta pari passu com o aumento da produção, o "nível geral de preços" tende a permanecer constante. Vale notar, contudo, que esse "nível geral de preços" é um agregado imaginário, uma ficção estatística arbitrária. O que existem são milhões de preços específicos (determinados pela interação de oferta e procura segundo as valorações de compradores e vendedores), que podem ficar acima ou abaixo do "nível geral". No caso da oferta de moeda crescer mais do que produção, o resultado é o declínio do valor da unidade monetária (aumento de preços) que passa a comprar cada vez menos bens e serviços. Esses dois últimos casos se traduzem em inflação, que, ao contrário do que pensa o público (desinformado por legiões de pseudo-economistas), não é um aumento geral e contínuo dos preços. Este pode ocorrer ou não, e, quando ocorre, é sempre o efeito da inflação, que é o aumento da quantidade de dinheiro em relação a um total anterior.<br />
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Outras hipóteses de flutuação do valor da moeda relacionado ao "lado do dinheiro" ocorrem quando os indivíduos elevam ou reduzem seus saldos monetários, ainda que mantido fixo o estoque de moeda. No primeiro caso, em função de circunstâncias conjunturais que engendrem pessimismo e receio, as pessoas reduzem seus gastos correntes e investimentos e deixam mais dinheiro "parado", de modo que o valor da unidade monetária aumenta (os preços caem), pois há menos moeda sendo utilizada na aquisição de bens e serviços. Isso é o que os keynesianos denominam "entesouramento". Na hipótese inversa, as pessoas reduzem o dinheiro em caixa e aumentam seus gastos e investimentos, sendo que mais dinheiro circula e seu valor unitário cai (os preços sobem). Esse último fenômeno pode gerar um tipo curioso e raro de inflação de preços sem aumento da quantidade de dinheiro, que ocorre quando todos os agentes econômicos se apressam em zerar seus saldos monetários a qualquer custo, livrando-se do dinheiro o mais rápido possível em troca de qualquer coisa. Mesmo com um estoque fixo de dinheiro, nesse caso os preços disparam até que simplesmente ninguém aceita mais o dinheiro. Isso aconteceu quando os americanos invadiram as Filipinas em 1944, e os filipinos, prevendo a iminente vitória ianque, se deram conta que a moeda posta em circulação pelos ocupantes japoneses logo perderia totalmente seu valor. Previsivelmente, eles se precipitaram em gastar o dinheiro japonês à toda pressa, o que gerou uma hiperinflação colossal. Esse episódio, aliás, ilustra didaticamente o fato de que o valor do dinheiro, como o de tudo o mais, depende das avaliações subjetivas individuais. A redução do fenômeno monetário à equações matemáticas, como preconizam muitos economistas, é assim inútil pois não há constantes nas ações e valorações humanas que possam se traduzir em relações matemáticas seguras.<br />
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<b>Bancos, Moeda e Crédito</b><br />
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Originariamente os bancos eram casas de depósito de moeda (ouro e prata) que emitiam certificados de depósito à vista para os clientes cobrando uma pequena taxa pelo serviço. Esses certificados passaram a circular mais do que a própria moeda, por razões de segurança e conveniência, e se tornaram substitutos de moeda. Como a moeda (ouro e prata) praticamente não era sacada em quantidades significativas, as casas bancárias ficaram tentadas a emitir certificados além da correspondência exata com a moeda depositada, emprestando a juros esses papéis sem lastro. Assim, se fulano depositava 100 unidades de moeda-ouro no banco x, este emprestava, digamos, 50 a sicrano cobrando juros, abrindo uma conta sujeita à retirada por cheque para sicrano. Desse modo, de 100 unidades de moeda-ouro originárias havia agora 150 unidades de papel-moeda existentes. Se fulano e sicrano decidissem resgatar seus certificados de moeda-ouro ao mesmo tempo, o banco ficaria com um passivo descoberto de 50 unidades de moeda-ouro. Dessa maneira os bancos podem criar moeda via crédito, inflacionando o meio circulante. Trata-se de fraude pura e simples, vez que os bancos e os beneficiários do crédito inflacionário estão ganhando alguma coisa em troca de coisa nenhuma. O dinheiro surge do nada. Trata-se de uma violação do direito de propriedade dos donos do dinheiro-metal. Esse processo pode ser barrado por normas jurídicas baseadas no princípio geral do dever de não causar dano, obrigando-se os bancos a operar com reservas de 100%, i.e., proibindo-os de criar moeda via crédito inflacionário. Ademais, em um mercado desimpedido, o banco que inflaciona logo se vê em dificuldades na medida em que suas emissões além das reservas são depositadas em outros bancos e na compensação a posição descoberta do banco "espertalhão" é revelada. Longe de ser solucionado, contudo, o problema foi agravado pela intervenção estatal no mercado monetário, como se verá a seguir.<br />
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<b>Governo e Moeda</b><br />
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Se o dinheiro é uma antiga criação do mercado, a interferência do estado nesse campo é quase tão antiga quanto. Inicialmente os governos assumiram a tarefa de garantir a pureza do metal e o seu peso, apondo seu selo nas moedas. Os particulares levavam o ouro e a prata puros a uma oficina estatal que as transformava em moedas, cobrando uma pequena taxa pelo serviço (senhoriagem), as devolvia aos proprietários e o dinheiro passava a circular. Porém, não demorou muito para que o aparelho coercitivo estatal fosse posto a serviço dos políticos e seus clientes, em detrimento dos cidadãos comuns. O governo começou a falsificar o dinheiro misturando ouro e prata com metais baratos de um lado (aumentando a quantidade nominal de dinheiro para financiar seus gastos com uma crescente burocracia parasitária) e mantendo o valor nominal das moedas por outro lado, exigindo que o mercado não descontasse a depreciação. É claro que o resultado foi a inflação de preços e a destruição do sistema monetário.<br />
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Nos tempos modernos o mesmo processo se sofisticou bastante, malgrado a finalidade tenha permanecido a mesma: exploração. O aparecimento dos bancos, da moeda-papel e da moeda-escritural (simples magnitudes contábeis) criaram oportunidades para os governos roubarem mais do que nunca. Longe de editar leis que obrigassem os bancos a operar com reservas de 100%, os governos intervieram no mercado financeiro associando-se a (ou criando) certos bancos pseudo-privados, aos quais outorgavam privilégios como monopólios territoriais e de emissões de notas, suspensões de pagamentos, obrigatoriedade dos bancos particulares manterem depositados neles as suas reservas, administração dos fundos públicos etc. Essas instituições privilegiadas, como o Banco da Inglaterra, foram os protótipos dos atuais bancos centrais. O objetivo último desse processo é o de politizar totalmente o dinheiro, retirando do mercado, isto é, de nós, o poder de criar moeda. Para tanto foi necessário destruir o padrão-ouro internacional. Na vigência deste, a moeda mundial era o ouro, sendo as moedas nacionais vinculadas ao metal em uma paridade fixa. As notas bancárias nacionais podiam ser convertidas em ouro a qualquer tempo por qualquer um que assim o desejasse, bastando exigir dos bancos a troca das notas pelo ouro correspondente. Como tudo o que é humano, o padrão-ouro não é perfeito. A quantidade de moeda aumenta na medida em que mais ouro é descoberto e monetizado. Subsiste, pois, inflação que beneficia os mineradores. A grande vantagem, porém, é que a criação da moeda fica fora do alcance dos políticos e seus amigos. O estoque de moeda-ouro aumenta na medida em que os custos de mineração compensam a obtenção do metal, isto é, quando se gasta menos ouro na mineração do que se extrai da terra. Mas se o dinheiro é apenas papel, não há custo quase nenhum na sua impressão, e há menos custo ainda na criação contábil de dinheiro, de maneira que os governos podem inflacionar o meio circulante em escala sem precedentes. Outro ponto positivo era o freio imposto à políticas inflacionárias dos estados nacionais. Se o governo do país x decidisse criar dinheiro além das reservas-ouro, o banco central baixava artificialmente a taxa de juros, criando moeda do nada via depósitos bancários. Em reação, as pessoas convertiam suas notas em ouro e mandavam o metal para o país y, onde os juros eram mais altos; por outro lado, a maior quantidade de dinheiro elevava os preços internos e, com isso, incentivava a importação de similares estrangeiros mais baratos, sendo que os estrangeiros passavam a trocar a moeda por ouro e transferi-la para seus países de origem. A contração das reservas do país x punha todo o seu sistema financeiro em cheque (pois havia cada vez menos ouro em relação a papel), e o seu banco central era obrigado a elevar a taxa de juros para atrair ouro de fora e recompor suas reservas.<br />
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Desde o fim do padrão-ouro internacional em 1914 os governos ficaram cada vez mais livres para inflacionar a moeda, inclusive "teorias" como o keynesianismo foram concebidas e popularizadas como forma de propaganda ideológica para justificar os "benefícios" da moeda gerenciada pelo governo e para pintar o padrão-ouro como velharia ultrapassada, "relíquia bárbara" etc. O monetarismo de Chicago não difere muito nesse aspecto. E os marxistas continuam pensando que o futuro comunismo inaugurará uma era de abundância tamanha que o próprio dinheiro será abolido. Desde então a inflação tornou-se uma praga mundial sem igual na História. O dólar americano desvalorizou-se em mais de 90%, enquanto que moedas de países mais bagunçados como o nosso perderam mais de um quatrilhão % de seu poder de compra. Com a inflação os governos, via cartelização do sistema bancário sob a batuta dos bancos centrais, podem beneficiar seus clientes (o estamento burocrático, empresários privilegiados, bancos etc) à vontade, enquanto surrupiam o poder aquisitivo da maioria da população (sobretudo os mais pobres).<br />
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Para ilustrar o processo pelo qual o governo rouba o povo via manipulação da moeda, imagine o leitor que o seu prédio é um país. Suponhamos que o síndico, o Seu Palhares do 402, é o governo desse país e dispõe do poder de criar dinheiro. Esse síndico-governo logo cede à tentação de criar moeda ex-nihilo para comprar as coisas que os outros moradores do "país" produzem. O "governo" está ganhando alguma coisa em troca de nada. Para criar um ambiente favorável a esse roubo sistematizado, o Seu Palhares alicia outras famílias, distribuindo o dinheiro novo entre eles. Surge um processo de depreciação acelerada do poder de compra da moeda do "país", pois há cada vez mais dinheiro comprando as mesmas coisas de antes, mas nem todo mundo perde ao mesmo tempo. Quem recebe a grana inflacionária primeiro ganha mais do que quem recebe por último, pois para estes os preços já subiram quando a moeda nova circulou. A cereja do bolo é a ideologia legitimadora difundida pelos intelectuais do prédio, todos devidamente inseridos na folha de pagamento do Seu Palhares, a qual garante ao "povo" que o sábio e idôneo governo sabe o que é melhor para seus cidadãos e que a administração da moeda é assunto científico complexo que deve necessariamente ficar à cargo dos especialistas. Quando a coisa começa a dar muito na vista, o síndico e seus intelectuais de aluguel põem a culpa do aumento generalizado de preços na ganância de certos moradores, como a D. Maria do 301, que vende doces e salgados, e decreta um congelamento de preços. Quando o congelamento fracassa, o "governo" então contém um pouco a emissão e impõe o sistema de "metas inflacionárias", que é um roubo generosamente auto-delimitado pelo próprio ladrão. Por outro lado, para financiar a boa vida do síndico e seus amigos e aliados, a taxa de condomínio (ou seja, os impostos) sobe para as alturas. Ninguém reclama, pois é consensual que o produto arrecadado será "investido no social". Deu pra entender?<br />
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Outros fatores desastrosos na inflação são a falsificação da moeda como unidade de conta, com a conseqüente desorganização do sistema produtivo, bem como a descoordenação dos estágios da estrutura de capital, gerando os famigerados ciclos econômicos com suas fases de prosperidade artificial e posterior recessão ou depressão.<br />
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<b>Solução: Despolitizar o Dinheiro</b><br />
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O absoluto controle estatal do dinheiro hoje reinante acarretou desgraças inenarráveis a povos inteiros. A inflação desbragada em nosso país é a principal responsável pela miséria de tantos de nossos compatriotas. Desde Hilferding, os marxistas juram que o "capital financeiro" se apossou do Estado para explorar a sociedade, inclusive o "capital produtivo". A verdade é bem outra: o estado é que se assenhoreou do sistema financeiro em benefício próprio para explorar a sociedade. Enquanto nós, o povo, o mercado, não recuperarmos o nosso legítimo poder sobre o dinheiro, retornando ao padrão-ouro internacional (ou outro padrão qualquer não imposto pelos governos) e bancos com reservas de 100%, a instabilidade econômica global não terá solução e uma grande crise como a dos anos 30 pode sobrevir a qualquer momento. Trata-se antes de tudo de uma questão moral: não é justo (nem conveniente) que um grupo de indivíduos munidos do monopólio da violência e da coerção – ou seja, o Estado – detenha o privilégio socialmente catastrófico de determinar a oferta de moeda. Esse poder sempre será usado para o mal, como a experiência demonstra à saciedade.<br />
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<b>Referências</b><br />
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The Value of Money, de B. Anderson;<br />
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A Desestatização do Dinheiro, de F. Hayek<br />
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From Bretton Woods to World Inflation e The Inflation Crises and How to Resolve it, de H. Hazlitt;<br />
<br />
The Theory of Money and Credit e Ação Humana de L. von Mises.<br />
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Man, Economy and State, Power and Market e What the Government Has Done to Our Money?, de M. Rothbard;<br />
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The Age of Inflation, de H. Seinholz;<br />
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Lectures of Political Economy, vol. II, de K. Wicksell;<br /><br />- - -<br />
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Conforme <a href="http://www.olavodecarvalho.org/convidados/0138.htm">apresentação de Olavo de Carvalho</a> "<b>Alceu Garcia</b> não existe. É o pseudônimo de um cidadão que, cercado de esquerdistas por todos os lados, e já conhecendo o tratamento que eles dão a quem ouse contrariá-los no local de trabalho, tem bons motivos para desejar permanecer incógnito. Camuflado ou não, é um excelente escritor (...)."<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2567792152982859459.post-3648165768705673362011-10-16T18:57:00.000-07:002012-11-06T18:13:07.521-08:00O erro fundamental da regulação de “serviços públicos”<br />
<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><b><i>por Gennady Stolyarov II</i> (<a href="http://mises.org/daily/2028">publicado originalmente em fevereiro de 2006</a>)</b></span><br />
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<a href="http://gs-press.com.au/images/news_articles/utilities.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="196" src="http://gs-press.com.au/images/news_articles/utilities.jpg" width="200" /></a></div>
Com o intuito de evitar “concorrência excessiva” entre serviços públicos em uma determinada área geográfica, os governos têm, frequentemente, outorgado monopólios legais específicos para empresas de fornecimento de água, eletricidade e gás natural – ou, de outra forma, decidem prover os serviços por meio de empresas puramente estatais.<br />
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Firmas competitivas foram legalmente excluídas dos mercados de “serviços públicos”, com resultados desastrosos. Blecautes ocasionais e interrupção no provimento de água são comuns no dia-a-dia de muitos norte-americanos – enquanto em mercados livres, digamos, alimentos, nenhuma escassez digna de nota é verificada. Além disso, os preços para as “utilidades públicas” estão em alta, concomitante à degradação, ao invés de melhoria da qualidade dos serviços.<br />
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Esta tendência não é acidental. Pelo contrário, como argumentado pelo economista Friedrich A. Hayek (1899-1992), tal fenômeno é consequência inevitável da intromissão governamental nos mercados de serviços públicos. O governo restringe a concorrência nestes setores. A competição, por outro lado, é essencial para descobrir a melhor maneira de se prestar serviços de forma a maximizar o lucro e a eficiência. Sem a dinâmica de um mercado totalmente livre, fornecedores de serviços públicos não dispõe de mecanismos para saber se sua forma de provisão é vantajosa para eles e para seus consumidores. Como consequência, a qualidade de vida de todos é afetada.<br />
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Os reguladores das concessionárias de serviços públicos acreditam que os meios adequados de provisão já são conhecidos. Com base nessa suposição, cobram preços ao consumidor fundamentados em abordagens <i>cost plus</i>. O estado determina o preço somando o “custo” do serviço propriamente dito a uma “taxa normal de retorno”, aplicada aos bens de capital empregados pela prestadora.<br />
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Este ponto de vista, é claro, falaciosamente presume que, para um dado serviço, existem custos fixos que podem ser determinados com antecedência – bem como uma “taxa normal de retorno” – que não precisam estar sujeitos às flutuações do mercado. No entanto, como demonstrou Hayek, esta abordagem desconhece completamente a inestimável função desempenhada pelos preços como transmissores de conhecimento sobre o verdadeiro valor – valor que não existe em estado fixo, estático.<br />
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<b>O mercado é um processo, não um estado definido</b><br />
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A visão econômica <i>mainstream</i>, a qual é contestada por Hayek, enxerga os mercados como estados estáticos em vez de processos dinâmicos. A Ciência Econômica predominante concentra-se maciçamente em análises de estados de equilíbrio – raramente verificados na economia real – sem se preocupar com a forma com que os mercados alcançam esse estágio.<br />
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Além disso, a abordagem <i>mainstream </i>frequentemente assume que todos os atores econômicos possuem informação perfeita sobre toda a economia e que sua escala individual de valores reflete a única escala de valores de todos os outros participantes na economia. Os reguladores dos serviços públicos regularmente cometem esse equívoco; acreditam que possuem a sua disposição informações sobre qual deveria ser o preço “ótimo” do serviço.<br />
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Hayek, no entanto, interpretava o mercado como sendo um processo, um sistema no qual necessariamente envolve um elemento empírico: o fato observado que todos os participantes do mercado detêm conhecimento imperfeito e incompleto. Em vez de analisar equilíbrios estáticos perfeitos, para Hayek a questão central da Economia é estudar como o mercado facilita a aquisição e a disseminação do conhecimento. De acordo com Hayek, não há uma escala de valor única na economia de mercado; não existe um objetivo único para o qual tende a economia, cujo alcance se dá num estado de equilíbrio perfeito.<br />
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Nenhum indivíduo apreende todos os fatos; diferentes agentes possuem diferentes habilidades e experiências. Existem discrepâncias nas informações. Aplicado ao mercado de serviços públicos, isso significa que os agentes excluídos pela intervenção governamental detém informações valiosas, as quais os reguladores não possuem. Eles, os excluídos, podem saber como obter eletricidade ou tratar água de forma mais econômica; podem ter conhecimento técnico que permita a construção de melhores redes elétricas ou sistemas de dutos. Podem até mesmo possuir conhecimento tácito ou inarticulável que colabore com o dia-a-dia da gestão do negócio – conhecimento difícil ou impossível de ser expresso em palavras e transmitido a outros.<br />
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Ao invés de apenas confiar em construções matemáticas formais de equilíbrio estático, o economista precisa examinar a realidade empírica e construir, a partir de suas observações, uma teoria capaz de explicar como os mercados coordenam discrepâncias de habilidades de informações, bem como os planos individuais dos agentes econômicos. Dada a diversidade que se apresenta, como o mercado ajuda as pessoas a atender as expectativas umas das outras? Como o mercado corrige expectativas falsas ou erradas da parte de um determinado agente econômico?<br />
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<b>A falácia da “competição perfeita”</b><br />
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Economistas do <i>mainstream </i>frequentemente descrevem o funcionamento “ótimo” de um mercado utilizando uma equação simples: P=CM, onde o preço do produto é igual a seu custo marginal de produção. Essa fórmula, de acordo com os modelos neoclássicos, descreve o estado de “competição perfeita”. Reguladores de serviços públicos constantemente tentam combinar dados obtidos através de modelos de “competição perfeita” e os preços dos serviços.<br />
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Tal abordagem ignora por completo a função da competição. De fato, ela foge da questão crucial que uma teoria de competição deveria responder: como um mercado competitivo tende a harmonizar preços e custos marginais, oferta e demanda? Além disso, todo o propósito e utilidade da competição consiste na capacidade de determinar quais são os custos e preços ótimos para um dado conjunto de bens.<br />
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Não há nenhuma maneira de saber, de antemão, como seriam custos e preços, e então esperar que a concorrência defina-os nos níveis previstos. Pelo contrário, é a competição que leva a descoberta dos preços e custos “ótimos”, sendo que estas informações não podem ser adquiridas antes da concorrência em si. Competição, por definição, não pode ser um estado final ideal. É um processo constante e contínuo para descobrir o modo ideal de produção em uma economia, obtendo-se respostas cada vez melhores para este desafio. Vários agentes econômicos podem ter diferentes informações sobre como melhorar a prestação de serviços públicos. Eles só podem tirar o máximo proveito desse conhecimento, no entanto, se estiver em funcionamento um sistema de preços de livre mercado.<br />
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<b>O indispensável sistema de preços</b><br />
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Na visão de Hayek, a estrutura de preços do livre mercado é uma importante ferramenta para os problemas da imperfeição e “economização” do conhecimento. Os preços fornecem aos consumidores todas as informações que necessitam para ajustar adequadamente suas decisões econômicas – ainda que a maioria dos consumidores nunca venha a conhecer todos os detalhes dos distúrbios mercadológicos que tornaram necessários os ajustes.<br />
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Por exemplo, dutos de gás natural no Canadá podem, inesperadamente, explodir – sem que quase ninguém nos EUA venha a saber. A redução da oferta de gás natural implicará em preços maiores a serem pagos por fornecedores locais de gás. A maioria dos consumidores e provedores provavelmente nunca tomará conhecimento do incidente, no entanto os novos (e mais altos) preços do gás natural os informará acerca da necessidade de economizar o recurso. Os agentes agora comprarão menos gás em comparação com a situação anterior.<br />
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Além disso, aqueles que desejarem comprar mais gás na situação de preços mais altos, terão a quantidade de produto que realmente precisam. Eles expressam essa nova escala comparativa de valores pela disponibilidade de pagar um montante maior pelo gás em relação a outros participantes do mercado. Um único número – o preço do produto – permite aos agentes de um determinado mercado ajustar suas decisões de modo a se beneficiar delas. No livre mercado, ainda que os atores econômicos tivessem pleno conhecimento das causas originais que provocaram a alteração do preço, estes indivíduos não teriam tomado decisões melhores que aqueles guiados unicamente pela mudança do preço.<br />
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Ainda, é a competição que torna os preços indicadores acurados sobre a verdadeira oferta e demanda de um dado produto. “Competição” não pode ser um modelo que incorpora de antemão o perfeito conhecimento dos dados econômicos pelo fato de ser a própria competição o processo de descoberta dos dados. Os resultados e o fim “lógico” da competição não podem ser conhecidos antes que a concorrência se estabeleça. A teoria de Hayek, portanto, exclui a possibilidade de um monopólio governamental (ou regulado) ser capaz de estabelecer “preços competitivos” para seus serviços.<br />
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<b>A coerção está fadada ao fracasso </b><br />
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Dado que o governo é inerentemente um monopólio coercitivo, está imune a competição, tendo ainda a capacidade de barrar os potenciais competidores dos mercados de serviços públicos via ameaça de força. O governo (e agências reguladoras) não podem saber quais são os verdadeiros custos dos produtos ou serviços, uma vez que o processo competitivo para descobri-los não é permitido. E mais, qualquer valor que o estado designe como sendo o “preço” não passará de um número arbitrário.<br />
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Num mercado competitivo, homens de negócio – almejando o lucro – teriam continuamente descoberto melhores forma de prover os serviços públicos regulados. Teriam apresentado formas, até então desconhecidas, de cortar custos, aumentar a produtividade e eliminar desperdícios. O governo, ao restringir a competição, evita que tais descobertas venham à tona, fazendo com que os consumidores paguem mais pelos serviços.<br />
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Friedrich Hayek fornece uma eloquente argumentação para que o mercado realize essa coordenação; qualquer intervenção governamental na estrutura de preços e competição inevitavelmente vai distorcer ambos e impedir o processo de descoberta que o livre mercado permite. Hayek mostra que os maus serviços que acompanham os monopólios regulados (ou estatais) não são mera correlação; são causados, de fato, pela intromissão coercitiva no extraordinário sistema de preços, o qual os reguladores não apreciam ou não entendem.<br />
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<b>G. Stolyarov II</b> já contribuiu com os <i>sites </i>Enter Stage Right, Le Quebecois Libre, Rebirth of Reason, Ludwig von Mises Institute e The Liberal Institute. Seu artigo “The Compatibility of Hoppe’s and Rothbard’s Views on the Action Axiom,” foi publicado no Quarterly Journal of Austrian Economics.<br />
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<i>Tradução de Daniel Marchi</i>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2567792152982859459.post-57489252600126829352011-10-06T07:32:00.000-07:002011-10-06T15:26:06.698-07:00O gênio criador<br />
<i>Homenagem do Grupo de Estudos da Escola Austríaca de Brasília-DF ao grande empreendedor e gênio criador Steve Jobs (1955 - 2011)<br /><br /><span class="Apple-style-span" style="font-style: normal;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><i>por Ludwig von Mises </i>(extraído de <a href="http://www.mises.org.br/EbookChapter.aspx?id=296">Ação Humana, Capítulo VII</a>)</span></b></span></i><br />
<a href="http://pplware.sapo.pt/wp-content/uploads/2011/08/steve_novo.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="305" src="http://pplware.sapo.pt/wp-content/uploads/2011/08/steve_novo.jpg" width="320" /></a><br />
Muito acima dos milhões de indivíduos que nascem e morrem, destacam-se os pioneiros, os homens cujos atos e ideias abriram novos caminhos para a humanidade. Para esses gênios desbravadores, criar é a essência da vida. Viver, para eles, significa criar.<br />
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As atividades desses homens prodigiosos não podem ser inteiramente enquadradas no conceito praxeológico de trabalho. Não são trabalho porque, para o gênio, não são meios, mas fins em si mesmos. Para o gênio, viver é criar e inventar. Para ele, não há lazer, mas apenas intervalos de esterilidade e frustração. Seu estímulo não vem do desejo de obter um resultado, mas do próprio ato de produzi-lo. A realização não o gratifica nem direta nem indiretamente. Não o gratifica indiretamente porque seus semelhantes, na melhor das hipóteses, não manifestam, por sua realização, nenhum interesse e, até mesmo, frequentemente a recebem com escárnio, chacota e perseguição. Muitos gênios poderiam usar seus dons para tornar sua vida agradável e alegre; mas sequer cogitam desta possibilidade e escolhem o seu caminho sem hesitação, mesmo se espinhoso. O gênio quer realizar o que considera sua missão, mesmo sabendo que pode ser conduzido ao seu próprio desastre.<br />
<br />
Tampouco o gênio obtém de sua atividade criativa uma gratificação imediata. Criar, para ele, é uma agonia e um tormento; é uma luta incessante e penosa contra obstáculos internos e externos, que o consome e esgota. O poeta austríaco Grillparzer soube descrever esta situação num poema comovente: "Adeus a Gastein". Podemos supor que, ao escrevê-lo, não pensou somente em suas próprias penas e atribulações, mas também nos sofrimentos ainda piores de um grande homem, Beethoven, com cuja sorte muito se identificava e a quem compreendeu, melhor do que qualquer de seus contemporâneos, graças à sua zelosa afeição e compreensiva admiração pelo grande compositor. Nietzsche se comparava à chama que insaciavelmente se consome e se destrói. Tais agonias são fenômenos que não têm nada em comum com as conotações geralmente atribuídas às noções de trabalho e esforço, de produção e sucesso, de ganhar o pão e gozar a vida.<br />
<br />
As obras do gênio criador, seus pensamentos e teorias, seus poemas, pinturas e composições, não podem ser classificadas, praxeologicamente, como produtos do trabalho. Não são o resultado do emprego de uma capacidade de trabalho que poderia ser usada para produzir outras amenidades, para a "produção" de uma obra-prima de filosofia, arte ou literatura. Pensadores, poetas e artistas são, frequentemente, incapazes de realizar qualquer outro trabalho. Seja como for, o tempo e esforço que devotam às atividades criadoras não é subtraído do que empregariam para outros propósitos. As circunstâncias, às vezes, condenam à esterilidade um homem que teria tido a capacidade de criar coisas inauditas; talvez não lhe deixem alternativa a não ser morrer de fome ou usar todas as suas forças na luta pela simples sobrevivência. Mas, se o gênio consegue alcançar as metas a que se propôs ninguém, além dele, pagará pelos "custos" incorridos. Goethe talvez tenha sido estorvado por suas funções na corte de Weimar. Mas certamente não se teria desincumbido melhor de seus deveres como ministro de Estado, diretor de teatro e administrador de minas, se não tivesse escrito suas peças, poemas e novelas.<br />
<br />
Além do mais, é impossível substituir o trabalho de um gênio criador pelo trabalho de qualquer outra pessoa. Se Dante e Beethoven não tivessem existido, não seria possível produzir a Divina Comédia ou a Nona Sinfonia, atribuindo esta tarefa a outras pessoas. Nem a sociedade nem qualquer indivíduo podem fazer existir um gênio e sua obra. Nem a "demanda", por maior que seja, nem ordens peremptórias de governo produzem o menor efeito. O gênio não produz por encomenda. Os homens não podem aperfeiçoar as condições naturais e sociais de forma a provocar o surgimento do gênio criador e sua obra. É impossível formar gênios pela eugenia, treiná-los nas escolas ou organizar suas atividades. Mas, sem dúvida, a sociedade pode ser organizada de tal maneira que impeça o surgimento de pioneiros e suas descobertas.<br />
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O talento criativo do gênio é, para a praxeologia, um fato irredutível. Aparece na história como um presente do destino. Não é, de forma alguma, o resultado de uma produção no sentido com que a economia emprega este termo.<br />
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<b>Ludwig von Mises</b> foi o reconhecido líder da Escola Austríaca de pensamento econômico, um prodigioso originador na teoria econômica e um autor prolífico. Os escritos e palestras de Mises abarcavam teoria econômica, história, epistemologia, governo e filosofia política. Suas contribuições à teoria econômica incluem elucidações importantes sobre a teoria quantitativa de moeda, a teoria dos ciclos econômicos, a integração da teoria monetária à teoria econômica geral, e uma demonstração de que o socialismo necessariamente é insustentável, pois é incapaz de resolver o problema do cálculo econômico. Mises foi o primeiro estudioso a reconhecer que a economia faz parte de uma ciência maior dentro da ação humana, uma ciência que Mises chamou de "praxeologia".Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2567792152982859459.post-25876509290858422542011-09-30T07:30:00.000-07:002011-09-30T07:32:29.819-07:00Investimentos públicos não lucrativos e subsídios<b><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><i>por Ludwig von Mises</i> (extraído de "<a href="http://www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=32">Intervencionismo, Uma Análise Econômica</a>", capítulo IV)</span></b><br />
<a href="http://api.ning.com/files/lJisq8hOvMCeqKDGxqd-K8rsuq6sDeyrdJjdZJymy7gAENI7-O-iV2Cci-8nQv3--QXpzOt*pQLOf9DrLlhZX88h0wo7EiPT/Ferrovias067.jpg?width=737&height=552" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><span class="Apple-style-span" style="color: black;"><br /></span><img border="0" height="238" src="http://api.ning.com/files/lJisq8hOvMCeqKDGxqd-K8rsuq6sDeyrdJjdZJymy7gAENI7-O-iV2Cci-8nQv3--QXpzOt*pQLOf9DrLlhZX88h0wo7EiPT/Ferrovias067.jpg?width=737&height=552" width="320" /></a><br />
<br />Os empresários só levam adiante projetos que sejam lucrativos. Isso significa que eles usam os meios de produção, que são escassos, de maneira a satisfazer primeiro as necessidades mais urgentes, e que nenhum capital ou mão de obra será utilizada para satisfazer necessidades menos urgentes enquanto houver uma necessidade mais urgente ainda não atendida.<br />
<br />
Quando o governo intervém tornando possível um projeto que, em vez de lucros, gera prejuízos, todos falam das necessidades que serão assim atendidas; ninguém fala das necessidades que deixam de ser atendidas porque o governo desviou para outros fins os recursos disponíveis. Só se considera o benefício proporcionado pela ação do governo, e não o seu custo.<br />
<br />
Não cabe ao economista dizer o que o povo deve preferir e nem como deve usar os seus recursos. Mas é de seu dever chamar a atenção de todos para os custos das decisões do governo. Isso o diferencia do charlatão, que só fala dos benefícios da intervenção sem jamais se referir aos malefícios que ela acarreta.<br />
<br />
Consideremos, por exemplo, um caso que podemos hoje analisar objetivamente porque é um assunto passado, embora não um passado muito distante. Suponhamos que uma estrada de ferro, cuja construção e operação não seriam economicamente viáveis, isto é, não seriam lucrativas, seja viabilizada pela concessão de um subsídio do governo. Costuma-se dizer, em situações como essa, que a estrada de ferro não seria lucrativa no sentido usual do termo e que, portanto, não despertaria o interesse dos empresários e dos capitalistas. Mas contribuiria para o desenvolvimento de toda uma região promovendo o tráfego, o comércio e a agricultura, dando assim uma importante contribuição para o progresso da economia. Tudo isso precisaria ser levado em consideração ao se avaliar, com uma visão maior, a conveniência de se executar a estrada de ferro em vez de se ficar limitado a considerações de lucratividade. Para o interesse privado, a construção da estrada de ferro pode parecer desaconselhável, mas do ponto de vista do interesse público sua construção seria benéfica.<br />
<br />
Esse raciocínio está inteiramente errado. É claro que não se pode negar que a construção da estrada de ferro beneficia os habitantes da região por ela servida. Ou, melhor dizendo, beneficia os proprietários de terras da região e os que fizeram investimentos que não podem ser transferidos sem uma diminuição de seu valor. Alega-se, geralmente, que a estrada irá desenvolver as forças produtivas da região atendida. O economista tem que colocar a questão de forma diferente: o Estado usa o dinheiro dos contribuintes para subsidiar a construção, a manutenção e a operação da linha que, sem esse subsídio, não poderia ser construída e operada. Esses subsídios desviam uma parte da produção de locais cujas condições naturais são mais favoráveis à produção para locais menos adequados a esse propósito. Estará sendo cultivada uma terra que, devido a sua distância dos centros de consumo e devido a sua baixa fertilidade, não possibilitaria a existência de uma agricultura rentável, a não ser que fosse favorecida pelo subsídio dado ao sistema de transporte, para cujo custo não teria condições de contribuir proporcionalmente. Sem dúvida, esses subsídios contribuem para o desenvolvimento econômico da região onde, não fora isso, a produção seria menor. Mas o aumento de produção na região assim favorecida pelo subsídio governamental deve ser contrastado com o ônus imposto sobre a produção e o consumo nas regiões que terão que pagar por essa política do governo. As terras mais pobres, menos férteis e mais distantes estão sendo subsidiadas com a arrecadação de impostos que ou estão onerando a produção de terras melhores ou estão sendo arcados diretamente pelos consumidores. As empresas localizadas em regiões menos adequadas terão condições de aumentar a produção, enquanto as empresas mais bem localizadas terão que restringir a sua produção. Há quem considere isso "justo" ou politicamente correto, mas não devemos nos iludir e acreditar que dessa forma a satisfação geral estará sendo aumentada; na realidade, está sendo diminuída.<br />
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O aumento de produção na região servida pela estrada de ferro subsidiada não deve ser considerado como "benéfico do ponto de vista da prosperidade nacional". Esses benefícios significam apenas que um certo número de empresas estará operando em locais que, não fora o subsídio, seriam considerados inadequados. Os privilégios concedidos pelo Estado a suas empresas, ainda que indiretamente através do subsídio à estrada de ferro, não são diferentes dos privilégios que o Estado concede diretamente a empresas menos eficientes. No final das contas, dá no mesmo o Estado subsidiar ou conceder privilégios a um sapateiro, por exemplo, a fim de habilitá-lo a competir com a indústria de calçados, ou favorecer o proprietário de terras, cuja competitividade é menor em virtude de sua localização, utilizando recursos públicos para pagar parte do custo de transporte de seus produtos.<br />
<br />
Pouco importa se o Estado efetua o investimento improdutivo diretamente ou se ele subsidia uma empresa privada para viabilizar a realização de um projeto antieconômico. O efeito sobre a comunidade é o mesmo, em ambos os casos. Tampouco importa o método usado para conceder o subsídio. Não importa se o produtor menos eficiente é subsidiado para que possa produzir ou aumentar sua produção ou se o produtor mais eficiente é incentivado a não produzir ou reduzir sua produção. Pouco importa se a doação é feita para produzir ou para não produzir, ou se o governo apenas compra as mercadorias e as retira do mercado. Em ambos os casos os cidadãos pagam duas vezes - uma vez como contribuintes, que são os que indiretamente pagam os subsídios, e depois uma vez mais como consumidores, ao ter que pagar preços maiores pelos bens que desejam comprar ou por ter que reduzir seu consumo.<br />
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<b>Altruísmo empresarial </b><br />
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Quando os que se autodenominam "progressistas" usam a palavra lucro, o fazem enfurecidos e raivosos. Para eles o ideal seria que não existisse o lucro. O empresário deveria servir o povo altruisticamente, em vez de tentar obter lucros. Deveria não ter lucro ou se contentar com uma pequena margem sobre os seus custos. Nenhuma objeção é feita se ele tiver que suportar prejuízos.<br />
<br />
Mas a motivação para o lucro da atividade empresarial é precisamente o que dá sentido e significado, orientação e direção à economia de mercado baseada na propriedade privada dos meios de produção. Eliminar a motivação pelo lucro equivale a transformar a economia de mercado numa completa desordem.<br />
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Já examinamos o confisco dos lucros e as consequências de uma tal medida. Examinemos agora a sugestão de limitar os lucros a uma determinada porcentagem dos custos. Se assim fosse, quanto maior o custo, maior o ganho do empresário; o incentivo de se produzir o mais barato possível seria substituído pelo seu oposto. Cada redução no custo de produção reduziria seu ganho; cada aumento no custo de produção aumentaria sua renda. Não é preciso supor que o empresário tenha intenções sinistras; basta entender o que uma redução de custo lhe acarreta. Na maior parte dos casos o empresário pode conseguir reduzir os seus custos de duas maneiras; comprando bem as matérias-primas e os produtos semiacabados, e adotando métodos de produção mais eficientes. Ambos implicam uma boa dose de risco e uma boa dose de inteligência e de experiência. Como em qualquer outra ação empresarial, saber se é hora de comprar ou de se abster de comprar é sempre uma especulação sobre um futuro incerto.<br />
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Um empresário que arque integralmente com os prejuízos, mas só possa ter uma parte dos lucros e que ganhe mais na medida em que aumentem os seus custos é completamente diferente do empresário a quem serão creditados ou debitados a totalidade de seus lucros ou perdas. Sua postura diante dos riscos do mercado será completamente diferente: não terá o mesmo empenho em descobrir onde comprar por preços menores do que o teria um empresário atuando numa economia livre. O mesmo se aplica aos aprimoramentos dos métodos de produção. São iniciativas arriscadas; investimentos adicionais são necessários sem que se possa ter certeza, a priori, de que produzirão resultados. Por que razão iria o empresário correr esse risco se, em caso de sucesso, seria punido com uma redução na sua receita?<br />
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<b>Ludwig von Mises</b> foi o reconhecido líder da Escola Austríaca de pensamento econômico, um prodigioso originador na teoria econômica e um autor prolífico. Os escritos e palestras de Mises abarcavam teoria econômica, história, epistemologia, governo e filosofia política. Suas contribuições à teoria econômica incluem elucidações importantes sobre a teoria quantitativa de moeda, a teoria dos ciclos econômicos, a integração da teoria monetária à teoria econômica geral, e uma demonstração de que o socialismo necessariamente é insustentável, pois é incapaz de resolver o problema do cálculo econômico. Mises foi o primeiro estudioso a reconhecer que a economia faz parte de uma ciência maior dentro da ação humana, uma ciência que Mises chamou de "praxeologia".<br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2567792152982859459.post-40833144385991303722011-08-14T08:25:00.000-07:002011-08-14T08:42:22.493-07:00Competição e função empresarial<i><b><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">por Jesus Huerta de Soto (extraído do capítulo 2 de <a href="http://www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=30">A Escola Austríaca</a>)</span></b></i><br />
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O termo "competição" procede etimologicamente do latim <i>cum petitio</i> (competição simultânea de reivindicações sobre uma mesma coisa que é necessário adjudicar ao seu dono) formado por <i>cum</i>, com, e <i>petere</i>, pedir, atacar, buscar. A competição consiste, portanto, num<i> processo dinâmico de rivalidade</i> e não no denominado "modelo de concorrência perfeita", no qual múltiplos fornecedores atuam da mesma forma e vendem todos ao mesmo preço, ou seja, no qual, paradoxalmente, ninguém compete (Huerta de Soto, 1994: 56-58).<br />
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A função empresarial, pela sua própria natureza e definição, é sempre <i>competitiva</i>. Isto quer dizer que, uma vez que seja descoberta pelo agente uma determinada oportunidade de lucro e que este atue para aproveitá-la, essa oportunidade de lucro tende a desaparecer, de forma que não pode ser detectada e aproveitada por outros agentes. De igual forma, se a oportunidade de lucro apenas é parcialmente descoberta, ou se, tendo sido totalmente descoberta, apenas foi aproveitada parcialmente pelo agente, parte dessa oportunidade ficará latente e passível de ser descoberta e aproveitada por outros agentes. O processo social é, portanto, puramente competitivo, no sentido de que os diferentes agentes <i>rivalizam </i>uns com os outros, de forma consciente e inconsciente, para detectar e aproveitar antes dos demais as oportunidades de lucro.<br />
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Todo o ato empresarial descobre, coordena e elimina desajustamentos sociais e, em função do seu caráter essencialmente competitivo, faz com que esses desajustamentos, uma vez descobertos e coordenados, já não possam voltar a ser detectados e eliminados por nenhum outro empresário. Poderia se pensar erroneamente que o processo social movido pela empresarialidade poderia chegar pela sua própria dinâmica a parar ou desaparecer, assim que a força da empresarialidade tivesse descoberto e esgotado todas as possibilidades de ajuste social existentes. <i>No entanto, o processo empresarial de coordenação social jamais se detém ou esgota</i>. Isto é assim porque o ato coordenador elementar consiste basicamente em criar e transmitir nova informação que deve forçosamente modificar a percepção geral de objetivos e meios de todos os empresários implicados. Este fato, por sua vez, dá lugar à aparição ilimitada de novos desajustamentos que fazem surgir novas oportunidades de lucro empresarial num processo dinâmico que nunca tem fim e que faz avançar a civilização. Ou seja, a função empresarial, não só torna possível a vida em sociedade ao coordenar o comportamento desajustado dos seus membros, como também impulsiona o desenvolvimento da civilização, ao criar continuamente novos objetivos e conhecimentos que se difundem gradualmente por toda a sociedade. Além disso, e isto é muito importante, <i>a função empresarial permite que o processo atrás descrito se desenvolva de forma tão harmoniosa e ajustada quanto seja humanamente possível em cada circunstância histórica</i>, uma vez que os desajustamentos que constantemente se criam à medida que avança a civilização e aparece nova informação empresarial, tendem por sua vez a serem descobertos e eliminados pela própria força empresarial da ação humana. Ou seja, a função empresarial é a força que torna a sociedade coesa e possibilita o seu desenvolvimento harmonioso, já que os desajustamentos que inevitavelmente são produzidos nesse processo de desenvolvimento tendem a ser igualmente coordenados pela mesma.<br />
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O processo empresarial origina, portanto, uma espécie de contínuo big bang social que permite o crescimento <i>ilimitado </i>do conhecimento. Assim, como já vimos, em alternativa ao modelo de equilíbrio geral ou parcial dos neoclássicos, a Escola Austríaca oferece um paradigma baseado num "processo dinâmico geral" ou, se preferirmos "<i>big bang</i> social", em contínua expansão e com tendência para a coordenação. Já se chegou a calcular que o limite máximo de expansão do conhecimento na Terra é de 10 elevado a 64 bits (Barrow e Tipler, 1986: 658-677) pelo que seria possível aumentar em mais de cem bilhões de vezes os limites físicos de crescimento até agora considerados. Os mesmos autores demonstraram matematicamente que uma civilização humana com base espacial poderia expandir o seu conhecimento, riqueza e população sem limite. Ambos se apoiam nas principais contribuições da Escola Austríaca em geral e de Hayek em particular, tendo concluído que foram muitas as incorreções escritas sobre os limites físicos do crescimento econômico por parte de físicos que ignoravam a economia. Uma análise correta dos limites físicos ao crescimento apenas é possível se levarmos em conta a contribuição de Hayek, segundo o qual o que um sistema econômico produz, mais do que objetos materiais, é um conhecimento imaterial (Tipler, 1988: 4-5).<br />
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Abaixo, vídeo com exposição do professor Huerta de Soto sobre competição e função empresarial.<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/jNcRSoMgU2w?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div><br />
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<b>Jesús Huerta de Soto</b>, professor de economia da Universidade Complutense de Madri, é o principal economista austríaco da Espanha. Autor, tradutor, editor e professor, ele também é um dos mais ativos embaixadores do liberalismo clássico no mundo.Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2567792152982859459.post-7576238199097845552011-07-31T08:09:00.000-07:002011-07-31T08:12:53.213-07:00A função social do empresário<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><b><i>por Alceu Garcia (<a href="http://www.olavodecarvalho.org/convidados/0149.htm">publicado originalmente</a> em abril de 2002)</i></b></span><br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://www.loosen.com/wp-content/uploads/2011/02/business-plan.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="155" src="http://www.loosen.com/wp-content/uploads/2011/02/business-plan.jpg" width="200" /></a></div>Resolvi me apropriar, para ilustrar o tema deste artigo, de dois episódios da experiência pessoal do ilustre escritor e jornalista Janer Cristaldo narrados em algumas de suas saborosas crônicas publicadas no site http://www.baguetediario.com.br<br />
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No primeiro episódio, Cristaldo relata a alegria dos habitantes do povoado gaúcho em que nasceu e vivia quando dois mascates de origem turca apareciam por aquelas paragens, montados em bicicletas atulhadas de traquitanas inexistentes na localidade.<br />
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No outro "causo", o escritor conta suas infrutíferas peripécias para conseguir beber cerveja em um movimentado balneário na Romênia comunista. Praia cheia, sol à pino, o sedento Cristaldo dirige-se a um quiosque próximo em busca do precioso líquido para molhar a garganta. O barraqueiro público – pois tudo era estatal na Romênia -, porém, frustra o turista brasileiro ao informar que não dispunha de cerveja. Refrigerante? Não tinha. Água mineral? Também não. Não havia nada para vender e pronto. E o que o sujeito fazia ali então, indagou Cristaldo? O zeloso funcionário público – pois todos eram funcionários públicos na Romênia - respondeu, indignado, que estava cumprindo regularmente seu horário de trabalho. Não era problema dele se não havia mercadorias disponíveis para os banhistas.<br />
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A badalada praia romena, em que não havia nada para comprar, e o obscuro rincão gaúcho, onde havia, simbolizam duas ordens sociais radicalmente diferentes: na primeira, a função empresarial é proscrita; na segunda ela é permitida. Em suma, uma é socialista e a outra é capitalista. O socialismo presume que a atividade empresarial, que se funda na propriedade privada e nas trocas voluntárias, é a priori nefasta e espoliadora. O empresário (ou capitalista burguês, na terminologia de Marx) é um parasita cuja erradicação é um imperativo de justiça social. A supressão da propriedade privada e do motivo do lucro são condições sine qua non para que o egoísmo execrável seja banido da face da Terra e uma nova era de solidariedade e humanismo seja inaugurada. É claro que nada disso aconteceu onde essas idéias "brilhantes" foram levadas às suas últimas consequências, muito pelo contrário. E não havia nada para comprar nas barracas públicas das praias nem em lugar nenhum. Porquê?<br />
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A resposta é simples: onde a função empresarial é proibida, a escassez artificial de tudo está garantida. Mas que raio de função é essa afinal? Malgrado sua importância fundamental pareça instintivamente evidente aos leigos, é lastimável constatar que o que é ensinado sob o rótulo de Economia nas universidades, com raras exceções, raramente ou nunca aborda esse tema. Nas faculdades os alunos trabalham basicamente com dois paradigmas: a microeconomia walrasiana, na qual a figura do empresário é reduzida a uma abstração numérica e metida em equações matemáticas simultâneas tão garbosas quanto cientificamente estéreis; e a macroeconomia keynesiana, onde a função empresarial simplesmente não existe.<br />
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Quem procura embasamento teórico sobre esse assunto vital tem que estudar os obscuros economistas da <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_Austr%C3%ADaca">Escola Austríaca</a>, como L. von Mises, F. Hayek (esse ao menos ganhou o Nobel), M. Rothbard e Israel Kirzner, cujas teorias não são ventiladas nos centros acadêmicos. Mas não é difícil entender o conceito e correlacioná-lo com a realidade circundante. Como vivemos um um mundo imperfeito, em que o futuro é incerto e as nformações de que cada um dispõe sobre o que se passa ao redor são sempre incompletas e fragmentadas, a verdade é que somos todos de certa forma empresários. Isso mesmo, leitor! Se você é socialista, sinto muito; só lhe resta cometer suicídio pelo bem do "proletariado".<br />
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Cada indivíduo traça seus planos à luz de objetivos de qualquer natureza que estipula para si, correndo o risco inafastável de fracasso. Atingir os objetivos, sejam quais forem, significa que o "empresário" teve "lucro".<br />
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Assim é a vida.<br />
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No plano mais restrito da economia, empresário é basicamente aquele que compra barato para vender mais caro, fenômeno denominado no jargão econômico de arbitragem. Isso vale tanto para o comerciante que compra a mercadoria pronta do produtor para revendê-la ao consumidor, quanto para o industrial que adquire os serviços dos fatores de produção (trabalho, capital e recursos naturais) para transformá-los em bens de consumo. Mas isso não seria exploração? Não. O que acontece é que os consumidores raramente sabem onde estão e quanto custam os produtos pelos quais possam vir a se interessar. Em muitos casos, os consumidores ignoram até a própria existência de muitos bens e serviços, daí a função social da propaganda comercial, que é a de prover informação sobre a existência, preço, qualidade e locais onde se pode encontrar isso ou aquilo. Por outro lado, mesmo quando o consumidor sabe o que quer e pode pagar o preço, nem sempre o produto está disponível. É preciso fazer com que ele chegue ao consumidor.<br />
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As oportunidades de obter lucro satisfazendo os desejos dos consumidores estão sempre por aí, no ar, por assim dizer. Descobrir e aproveitar essas oportunidades é o que chamamos de função empresarial. Algumas pessoas possuem mais do que outras o sentido de vigilância e perspicácia para divisar essas ocasiões e a energia para aproveitá-las, ou seja, o talento empresarial, naturalmente correndo o risco do erro de avaliação e do prejuízo monetário. São esses indivíduos os empresários, do camelô da praça até o Roberto Marinho.<br />
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No episódio da infância de Janer Cristaldo, os tais comerciantes turcos, evidentemente empresários natos, carregavam suas bicicletas de mercadorias adquiridas na cidade grande e corriam para os vilarejos para revendê-las, onde encontravam consumidores prontos para comprar seus produtos sem o custo de se deslocar até outros lugares. Alguém explorava alguém? Não, pois as transações eram voluntárias e as partes se davam mutuamente por satisfeitas. Todos obtinham lucro pois, voltando ao jargão, maximizavam suas respectivas utilidades.<br />
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E o que ocorre quando a função empresarial é proibida tout court sob pena de prisão, como nos regimes coletivistas, ou gravemente turbada e obstruída, como em economias mercantilistas tipo a brasileira? Ocorre o que Cristaldo testemunhou na Romênia e o que presenciamos diariamente em nosso país: escassez desnecessária e pobreza. Naquele país comunista, as oportunidades empresariais não podiam ser exploradas. Embora houvesse milhares de consumidores ávidos por uma "loura gelada" na praia, não havia quem se dispusesse a fornecê-las por iniciativa própria. E ai de quem o fizesse! Que contraste com as praias brasileiras, onde a livre iniciativa e a função empresarial são permitidas (até certo ponto)! É uma profusão de vendedores de todo tipo de coisas. E a tradicional cervejinha nunca falta.<br />
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Mas em países como o Brasil a função empresarial é estorvada de mil formas pelo Estado, sobretudo entre os mais pobres, o que resulta em pobreza desnecessária (e, logo, imoral). O economista peruano Hernando de Soto vem pesquisando há anos os processos pelos quais os governos embaraçam os empresários, e os efeitos desastrosos dessas políticas. O resultado desse brilhante trabalho está disponível para o público, leigo inclusive, em dois livros. No primeiro, <i>"El Otro Sendero"</i>, de Soto investiga os fatos em seu próprio país, enquanto que no segundo livro, <i>"<a href="http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=590256&sid=89611173813731431806468032">Los Misterios del Capital</a>"</i> (ambos traduzidos e publicados por aqui) ele amplia sua perspectiva para o mundo todo. No Peru, como no Brasil e alhures, as leis e regulamentos ininteligíveis e contraditórios de um lado e os tributos e encargos "sociais" extorsivos de outro geram obstáculos artificiais quase intransponíveis à atividade empresarial, principalmente entre os empresários humildes, que não têm como pagar os custos de operar legalmente, e ocasionalmente nem as propinas para funcionar ilegalmente. A consequência é a formação de vastos "setores informais" nas economias desses países, nos quais se trabalha e produz à margem da ordem jurídica. Sem esses mercados negros aliás, dezenas de milhões de pessoas simplesmente não teriam como trabalhar e seriam condenados à fome. Os empresários e proprietários pobres ficam impedidos de negociar no mercado formal, abrindo contas bancárias e regularizando suas empresas no registro comercial, por exemplo, pois não possuem títulos de propriedade nem licenças e que tais. Assim, empreendimentos e empresários promissores são mantidos desnecessariamente na clandestinidade e impedidos de produzir, crescer e se desenvolver. Produzindo-se menos, consome-se menos também. E as consequências de ordem moral são terríveis, pois o sentimento difuso de opressão e injustiça resultante só pode produzir uma ordem social viciada e instável. Como a nossa.<br />
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Para variar, é o Estado e os grupos – sobretudo os intelectuais - que se servem dele para explorar os incautos, o culpado por essa situação. O governo é uma espécie de Midas ao avesso, pois onde quer que se meta a atuar na economia, proibindo no todo ou em parte a função empresarial, transforma abundância potencial e maximização da satisfação individual em escassez e insatisfação permanentes. Quem se preocupa sinceramente com a dolorosa pobreza de grande parte dos brasileiros deve lutar para que a função empresarial seja desonerada e libertada das cadeias estatais. Não há outra saída.<br />
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Conforme <a href="http://www.olavodecarvalho.org/convidados/0138.htm">apresentação de Olavo de Carvalho</a> "<b>Alceu Garcia</b> não existe. É o pseudônimo de um cidadão que, cercado de esquerdistas por todos os lados, e já conhecendo o tratamento que eles dão a quem ouse contrariá-los no local de trabalho, tem bons motivos para desejar permanecer incógnito. Camuflado ou não, é um excelente escritor (...)."Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2567792152982859459.post-20871529138087990232011-07-25T13:29:00.000-07:002011-07-25T20:30:34.680-07:00Digressões sobre a definição de dinheiro<b><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><i>por F. A. Hayek (capítulo 10 do livro <a href="http://www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=57">Desestatização do Dinheiro</a>)</i></span></b><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://us.123rf.com/400wm/400/400/gunnar3000/gunnar30001005/gunnar3000100500393/7055919-financial-or-money-art-concept-with-image-frame.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="155" src="http://us.123rf.com/400wm/400/400/gunnar3000/gunnar30001005/gunnar3000100500393/7055919-financial-or-money-art-concept-with-image-frame.jpg" width="200" /></a></div><br />
Costuma-se definir dinheiro como o meio de troca geralmente aceito, mas não há razão para que, dentro de uma determinada comunidade, deva haver apenas um tipo de dinheiro que seja geralmente (ou pelo menos amplamente) aceito. Na cidade austríaca fronteiriça com a Alemanha em que vivo há alguns anos, os comerciantes, bem como a maior parte dos outros empresários, aceitam, com a mesma facilidade, marcos alemães ou xelins austríacos, e é somente a lei que impede que os bancos alemães em Salzburgo efetuem suas transações em marcos alemães, da mesma maneira que o fazem a dez milhas de distância, no lado alemão da fronteira. O mesmo se pode dizer de centenas de outros centros turísticos na Áustria, frequentados principalmente por alemães. Na maioria deles, os dólares serão também aceitos quase que com a mesma facilidade que os marcos alemães. Creio que a situação não é muito diversa em ambos os lados de longos trechos de fronteira entre os Estados Unidos e o Canadá ou México, e provavelmente ao longo de muitas outras fronteiras.<br />
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No entanto, embora em tais regiões todos possam estar dispostos a aceitar várias moedas à taxa de câmbio do dia, indivíduos podem usar diferentes tipos de dinheiro para guardar (como reservas líquidas), visando a contratos de pagamentos futuros, ou para fins contábeis, e a comunidade pode responder da mesma maneira às alterações na quantidade das diferentes moedas.<br />
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Quando falamos em diferentes tipos de dinheiro, temos em mente unidades de diferentes denominações, cujos valores relativos podem oscilar uns em relação aos outros. A oscilação desses valores deve ser enfatizada por não ser a única maneira de distinguir os meios de troca uns dos outros. Também podem, esses valores, ser bastante diferenciados, mesmo quando expressos em termos da mesma unidade, pelo seu grau de aceitação (ou liquidez, isto é, na própria qualidade que os faz serem dinheiro), ou em termos dos grupos de pessoas que prontamente os aceitam. Isso significa que diferentes tipos de dinheiro podem distinguir-se uns dos outros em mais de uma dimensão.<br />
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<b>Não há distinção clara entre dinheiro e não dinheiro</b><br />
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Isso também significa que — embora habitualmente se aceite o fato de que existe uma clara linha divisória entre o que é e o que não é dinheiro, e a lei geralmente tente estabelecer essa distinção —, quando se trata dos efeitos causadores de eventos monetários tal diferença não é tão clara. O que encontramos é, ao contrário, um continuum em que objetos com vários graus de liquidez, ou com valores que podem oscilar independentemente, se confundem um com o outro quanto ao grau em que funcionam como dinheiro.<br />
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Sempre considerei útil explicar a meus alunos que é pena qualificarmos o dinheiro como substantivo, e que seria mais útil para a compreensão dos fenômenos monetários se "dinheiro" fosse um adjetivo descrevendo uma propriedade que diferentes objetos poderiam possuir, em graus variados. "Moeda corrente" é, por esse motivo, uma expressão mais adequada, uma vez que objetos podem ter curso, em graus variáveis, e em diferentes regiões ou setores da população.<br />
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<b>Pseudo-exatidão, medida estatística</b><br />
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Defrontamo-nos, agora, com a dificuldade de explicar os fenômenos da vida econômica que ainda não foram bem definidos. A fim de simplificar nossa explanação, evitando interconexões muito complexas que, de outra forma, se tornariam muito difíceis de acompanhar, introduzimos distinções nítidas entre os atributos dos objetos, atributos esses cujas diferenças, na vida real, não são assim tão nítidas, mas apenas graduais. É o que ocorre quando tentamos estabelecer uma distinção muito clara entre objetos tais como bens e serviços, bens de consumo e bens de capital, bens duráveis e perecíveis, renováveis e não renováveis, específicos e versáteis, substituíveis e não substituíveis. Todas essas distinções são muito importantes, mas podem ser muito enganosas se, na popular luta pela pseudoexatidão, tratarmos essas classes com quantidades mensuráveis. Está aí uma simplificação que talvez seja ocasionalmente necessária, mas que é sempre perigosa e tem favorecido muitos erros em economia. As diferenças, embora sejam importantes, não significam que seja possível separar, claramente e sem ambiguidade, essas coisas em duas ou mais classes distintas. Frequentemente o fazemos e, muitas vezes, talvez, precisemos falar como se essa divisão fosse verdadeira. Mas esse costume pode ser muito ilusório e levar a conclusões totalmente errôneas.<br />
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<b>Ficções legais e teoria econômica deficiente</b><br />
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De maneira semelhante, a ficção legal de que há uma coisa claramente definida chamada "dinheiro" que se pode distinguir inequivocamente de outras coisas, ficção essa introduzida para facilitar o trabalho do advogado ou do juiz, nunca foi nem será verdadeira, na medida em que seja necessário fazer referência a coisas que produzem os efeitos característicos de eventos ligados ao dinheiro. Essa ficção, contudo, causou muito mal, por conduzir à exigência de que, para determinados fins, só se possa empregar o "dinheiro" emitido pelo governo, ou de que deva sempre haver algum tipo de objeto único que possa ser considerado como o "dinheiro" do país. Levou também, como veremos, ao desenvolvimento, na teoria econômica, de uma explicação do valor de unidades monetárias que em nada contribui para solucionar os tipos de problemas que pretendemos examinar aqui, muito embora apresentem pressuposições simplificadas que nos permitem algumas aproximações simples.<br />
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Para podermos prosseguir, será importante ter em mente que diferentes tipos de dinheiro podem diferir um do outro em duas dimensões distintas, embora não totalmente estanques: aceitação (ou liquidez) e o comportamento esperado (estabilidade ou variabilidade) de seu valor. A expectativa de estabilidade evidentemente afetará a liquidez de um tipo particular de dinheiro, mas pode ser que, a curto prazo, a liquidez seja, às vezes, mais importante que a estabilidade, ou que a aceitação de um dinheiro mais estável possa, por algum motivo, ser restrita a círculos bastante limitados.<br />
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<b>Significados e definições</b><br />
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Talvez seja esse o lugar mais conveniente para acrescentar afirmações explícitas sobre as acepções em que usaremos outros termos que ocorrem com frequência. Terá ficado claro que, no presente contexto, é mais prático falar de "moedas correntes" do que de "dinheiros", não só porque é mais fácil usar o primeiro termo no plural, mas também porque, como vimos, o termo "moedas correntes" enfatiza um determinado atributo. Também empregaremos a expressão "moedas correntes", talvez indo um pouco contra a acepção original do termo, de forma a incluir não somente papéis e qualquer outro tipo de dinheiro "que corre de mão em mão", mas também saldos bancários sujeitos a cheque e outros meios de troca que podem ser usados para a maioria dos fins para os quais se usam cheques. Não há, porém, como acabamos de assinalar, qualquer necessidade de uma distinção pronunciada entre o que é e o que não é dinheiro. Será melhor que o leitor permaneça cônscio de que temos de lidar com um conjunto de objetos que tem um grau variado de aceitabilidade, e que se confundem, na faixa inferior, com objetos que claramente não são dinheiro.<br />
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Embora frequentemente façamos referência às instituições que emitem moeda corrente simplesmente como "bancos", isto não quer dizer que todos os bancos deverão emitir dinheiro. O termo "taxa cambial" será usado em todo o texto em relação a taxas de câmbio entre moedas; e o termo "bolsa de moedas correntes" (análogo a bolsa de valores), para o mercado organizado de moedas correntes. Ocasionalmente, falaremos também em "substitutos do dinheiro", quando tivermos que examinar casos limítrofes na escala de liquidez — tais como cheques de viagem, cartões de crédito e saque bancário a descoberto — em relação aos quais seria arbitrário afirmar que são ou não são parte do meio circulante.<br />
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<b>Friedrich A. Hayek</b> (1899-1992) foi um membro fundador do Mises Institute. Ele dividiu seu Prêmio Nobel de Economia, em 1974, com seu rival ideológico Gunnar Myrdal "pelos seus trabalhos pioneiros sobre a teoria da moeda e das flutuações econômicas e por suas análises perspicazes sobre a interdependência dos fenômenos econômicos, sociais e institucionais".Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2567792152982859459.post-41658514870054232492011-07-17T19:00:00.000-07:002011-07-17T19:02:55.038-07:00Mises não era um excêntrico em seu tempo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-ir5lmcYYz64/SvM3HPz4uLI/AAAAAAAAHbs/8qhAz2U34N0/s512/mises%2525203.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="http://4.bp.blogspot.com/-ir5lmcYYz64/SvM3HPz4uLI/AAAAAAAAHbs/8qhAz2U34N0/s200/mises%2525203.jpg" width="181" /></a></div><i>Nota introdutória: </i>Hoje o debate em torno da ciência econômica - encastelado nas universidades ou não - é amplamente dominado pelo referencial metodológico positivista/empirista. Quando os adeptos do <i>mainstream</i> se deparam com argumentos calcados no apriorismo, não exitam em rotular o interlocutor de não-científico, excêntrico, esotérico e até mesmo de "irresponsável".<br />
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O texto abaixo, extraído de <i><a href="http://www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=18">A ciência econômica e o método austríaco</a> </i>(H-H. Hoppe), mostra como Mises simplesmente expressou com outros termos a metodologia amplamente aceita em seu tempo. Ao sistematizar a lógica da ação humana (praxeologia) utilizando o apriorismo, o famoso economista austríaco apenas estava avançando numa trilha iniciada por outros pensadores inseridos numa longa tradição científico-filosófica.<br />
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O que levou Mises a caracterizar a economia como uma ciência a priori? Se levarmos em conta o panorama atual pode parecer surpreendente vir à saber que Mises não considerava que seu conceito estivesse desalinhado com a visão predominante do começo do século XX. Mises não quis prescrever um comportamento aos economistas oposto àquele que eles já tinham. Ao contrário, ele considerou suas realizações como as de um filósofo da ciência econômica, ao sistematizar, e deixar explícito o que a ciência econômica realmente era, e como ela houvera sido implicitamente concebida por praticamente todos aqueles que se consideravam economistas.<br />
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E isto realmente era verdade. Ao dar uma explicação sistemática ao que até então era formalmente apenas implícito e não declarado, Mises introduziu algumas distinções conceituais e terminológicas que antes eram obscuras e desconhecidas, ao menos para o mundo anglófono. Porém, sua posição sobre o status da ciência econômica era em sua essência totalmente compatível com a visão, naquele tempo, ortodoxa sobre o assunto. Eles não empregavam o termo "a priori", mas os economistas da corrente dominante como Jean Baptiste Say, Nassau Senior, e John E. Cairnes, por exemplo, descreviam a ciência econômica de modo muito similar.<br />
<br />
Say escreveu: "Um tratado sobre economia política estará ... confinado a enunciação de uns poucos princípios, que sequer precisam ser sustentados por provas ou ilustrações; pois eles não serão nada além da expressão daquilo que todo mundo conhecerá, organizado de uma forma conveniente para compreendê-los, assim como em seu escopo integral e suas relações". E "a economia política ... sempre que os princípios que constituem suas bases forem as deduções rigorosas de fatos comuns inegáveis, estará baseada sobre uma fundação imóvel".<br />
<br />
De acordo com Nassau Senior, "as premissas [econômicas] consistem de algumas proposições gerais, do resultado de observações, ou da consciência, e dificilmente requerem provas, ou mesmo uma declaração formal, as quais quase todo homem, tão logo ele as escute, reconhece como familiares a seus pensamentos, ou pelo menos como já presentes em seu conhecimento anterior; e suas deduções são praticamente gerais, e, se ele raciocinou direito, tão certas quanto suas premissas". E os economistas deveriam estar "cientes que a ciência depende mais da razão do que da observação, e que sua principal dificuldade não é a averiguação de seus fatos, e sim o uso de seus termos".<br />
<br />
E John E. Cairnes observa que enquanto "a raça humana não possui nenhum conhecimento direto dos princípios físicos definitivos" ... "os economistas já começam com um conhecimento das causas definitivas" ... "Deste modo, no começo de sua pesquisa, pode ser considerado que o economista já conhece aqueles princípios definitivos que regem os fenômenos que constituem o assunto de seu estudo, a descoberta que é a tarefa mais árdua para o inquiridor das investigações físicas". "O ato de presumir [na economia] claramente seria algo sem propósito, visto que possuímos em nossa consciência e no testemunho de nossos sentidos... prova clara e direta daquilo que queremos saber. Conseqüentemente, em Economia Política as hipóteses nunca são usadas como uma ajuda para se chegar a descoberta de causas e leis definitivas."<br />
<br />
As opiniões de Menger, Böhm-Bawerk e Wieser, predecessores de Mises, eram iguais: Eles também definiam a ciência econômica como uma disciplina em que as proposições - em contraste com as das ciências naturais - podem receber alguma justificação definitiva. No entanto, eles novamente fazem isto sem empregar a mesma terminologia usada por Mises.<br />
<br />
E finalmente, a caracterização epistemológica da ciência econômica feita por Mises também foi considerada bastante ortodoxa - e com certeza nada exclusiva, como Blaug a teria considerado - após ter sido explicitamente formulada por Mises. O livro de Lionel Robbins The Nature and Significance of Economic Science, que foi lançado em 1932, nada mais é do que uma versão de certa forma suavizada da descrição que Mises faz da ciência econômica como praxeologia. Não obstante ele foi respeitado pelos economistas profissionais como a estrela guia metodológica por quase vinte anos.<br />
<br />
<b>Extraído de </b><i><b><a href="http://www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=18">A ciência econômica e o método austríaco</a>, pág. 11-13.</b><br />
</i>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2567792152982859459.post-65712012179441947392011-07-11T19:34:00.000-07:002012-02-02T11:29:29.120-08:00Os muitos eufemismos para criação de dinheiro<a href="http://blueridgerealestate.files.wordpress.com/2007/09/cartoon-dollar.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="200" src="http://blueridgerealestate.files.wordpress.com/2007/09/cartoon-dollar.jpg" width="140" /></a><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><i>por Thorsten Polleit (originalmente publicado em <a href="http://mises.org/daily/4965">janeiro de 2011</a></i></span></b><b><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><i>)<br /></i></span></b></span><br />
<div style="font-weight: bold;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Linguagem confusa, pensamento confuso</span></div>
<div style="font-weight: bold;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">De acordo com os ensinamentos do filósofo grego Parmênides, a linguagem ilustra o pensamento humano (e o raciocínio). Linguagem confusa é, portanto, equivalente a pensamento confuso; pensamento confuso, por sua vez, provoca ações não intencionais e resultados não desejados. [1]</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />“Linguagem dupla” (doublespeak) – um termo que ganhou destaque por meio do trabalho de Eric Blair (1903-1950), mais conhecido como <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/George_Orwell">George Orwell</a> – é uma forma notável de linguagem e pensamento confusos. O termo era, na verdade, derivado dos termos “<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Novil%C3%ADngua">novilíngua</a>” (newspeak) e “duplipensamento” (doublethink), os quais Orwell usou em seu romance <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Nineteen_Eighty-Four"><i>1984</i></a>, publicado em 1949 [2]. Enquanto estava sob a instrução supressiva do Partido, a mente do protagonista, Winston Smith,</span><br />
<blockquote class="tr_bq">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><i>mergulhou no mundo labiríntico do duplipensar. Saber e não saber, ter consciência de completa veracidade ao exprimir mentiras cuidadosamente arquitetadas, defender simultaneamente duas opiniões opostas, sabendo-as contraditórias e ainda assim acreditando em ambas; usar a lógica contra a lógica,repudiar a moralidade em nome da moralidade, crer na impossibilidade da democracia e que o Partido era o guardião da democracia; esquecer tudo quanto fosse necessário esquecer, trazê-lo à memória prontamente no momento preciso, e depois torná-lo a esquecer; e acima de tudo, aplicar o próprio processo ao processo. Essa era a sutileza derradeira: induzir conscientemente a inconsciência e então tornar-se inconsciente do ato de hipnose que se acabava de realizar. Até para compreender a palavra “duplipensar” era necessário usar o duplipensar. [</i>3]</span></blockquote>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Um eufemismo é uma forma de linguagem dupla: é um artifício retórico às vezes utilizado intencionalmente e às vezes não – um paliativo linguístico, o que representa uma distorção da verdade – em muitos casos empregado para evitar uma ofensa às pessoas. Na vida real, eufemismos podem ser utilizados por alguns para tentar legitimar ações que vão contra o interesse de outros. Nesse sentido, eufemismos representam uma “manipulação da linguagem” e uma “manipulação por meio da linguagem”.</span><br />
<b style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />Eufemismos na esteira da crise de crédito</b><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />Desde a eclosão da chamada crise internacional dos mercados de crédito, eufemismos têm tido grande destaque. Isso é válido, em particular, para os especialistas em política monetária, que devotam grande esforço para propagandear uma variedade de medidas políticas como sendo de interesse do bem comum, uma vez que elas supostamente combateriam a crise de crédito. Considere os seguintes exemplos:</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">1. A expressão “política monetária não convencional” retrata a ação do banco central a partir de uma perspectiva bastante favorável [4]. O adjetivo “convencional” significa “hereditário” e “obsoleto”, enquanto “não convencional” pode sugerir algo na linha de uma ação “corajosa” e “inovadora”.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">2. Usar a expressão “política monetária agressiva” funciona do mesmo modo [5]. Por exemplo, ela geralmente se refere a um corte drástico nas taxas de juros oficiais em direção a níveis de baixa recorde, ou a uma grande elevação na oferta de moeda à luz de uma recessão que se aproxima, transmitindo a idéia de que os formuladores de política tomam medidas “ousadas” e “corajosas” para o bem comum.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">3. O termo “quantitative easing” faz com que seja muito mais difícil, até mesmo impossível (para o grande público), desvendar o que tal política monetária realmente é – ou seja, uma política de crescimento da oferta monetária (dinheiro criado do nada), a qual, por sua vez, é o mesmo que uma política inflacionista. [6]</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">4. Falar sobre uma “política monetária de juros baixos” escamoteia o fato de que a política monetária empurra a taxa de juros de mercado abaixo da taxa natural de juros (a taxa de preferência intertemporal da sociedade), o que necessariamente leva a maus investimentos, em vez de inaugurar uma recuperação econômica.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">5. “Neutralização do aumento da base monetária” é claramente enganador, já que um crescimento no estoque de dinheiro não é e nunca poderá ser neutro. Ele é necessariamente acompanhado por efeitos redistributivos – independentemente de os receptores da injeção de dinheiro adicional (que foi criado do nada) deterem esses saldos como “reserva legal” ou na forma de, digamos, depósitos a prazo[7].</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">6. Referir-se à "ampla liquidez" (como um fator que contribui para a "crise de crédito") tende a encobrir o fato de que os bancos centrais têm inflacionado a oferta de moeda (por meio da expansão de crédito de circulação bancária).[8] O termo "liquidez" tende a disfarçar o fato de que as condições monetárias desfavoráveis são um resultado da ação dos bancos centrais.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Um bom exemplo de um recente eufemismo no campo da política monetária foi o anúncio feito pelo Conselho Governamental do Banco Central Europeu (BCE), no dia 10 de maio de 2010, dizendo que ele iria:</span><br />
<blockquote class="tr_bq">
<i style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">intervir no mercado mobiliário da dívida pública e privada na zona do euro (Programa de Mercados Mobiliários) para assegurar profundidade e liquidez naqueles seguimentos de mercado que são disfuncionais. O objetivo deste programa é abordar o mau funcionamento do mercado mobiliário e restaurar um mecanismo de transmissão de política monetária apropriado.</i><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> [9]</span></blockquote>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Tal política monetária pode ser vista como um subsídio aos preços dos títulos de alguns governos emitentes na zona do euro – ou seja, aqueles que são cada vez mais vistos como insolventes pelos investidores –, favorecendo, portanto, alguns emitentes (e investidores detentores desses títulos) à custa de outros.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Na prática, essa política será algo semelhante a uma política de preços mínimos para os títulos de alguns governos emitentes quando o banco central fizer compras que mantenham os preços de certos títulos acima daqueles que, de outra forma, teriam prevalecido.</span><br />
<b style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></b><br />
<b style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Linguagem confusa, resultados não desejados</b><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Com os especialistas em política monetária fazendo uso crescente de linguagem confusa, as forças corretivas contra políticas monetárias perniciosas são enormemente reduzidas. Isso acontece porque uma linguagem confusa – e seu resultado, pensamento confuso – faz com que se torne cada vez mais difícil para o público entender as conseqüências a médio e longo prazo das medidas adotadas; e tal entendimento é claramente necessário para resistir às políticas danosas.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">O uso perpétuo de linguagem confusa pode resultar em conseqüências sociais que, na verdade, são desejadas por poucos. Considere o caso de uma progressiva expansão do governo. A razão pela qual o aparato estatal continua crescendo à custa do setor privado é, principalmente, devido à aquisição, por parte do governo, do controle total da produção de dinheiro. Detendo o monopólio da oferta de dinheiro, o governo pode elevar a oferta por meio da expansão de crédito sem base em poupança alguma. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Com a criação de dinheiro, o governo pode aumentar – e realmente o faz – seus gastos muito além do montante que os pagadores de impostos estão preparados para entregar ao estado. Como resultado, mais e mais pessoas tornam-se dependentes dos gastos do governo (algumas até de forma voluntária), seja como servidores públicos, fornecedores do governo, ou destinatários de pensões, saúde, educação e segurança pública.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Cedo ou tarde a dependência da ajuda governamental alcança, e até ultrapassa, um nível crítico. Dessa forma, as pessoas verão uma política monetária de constantes aumentos na oferta de dinheiro como sendo mais favorável do que se o governo decretasse calote em suas dívidas, o que iria extinguir qualquer esperança de receber benefícios do estado no futuro. Em outras palavras, a política inflacionária, ou mesmo hiperinflacionária, será vista como a política do mal menor.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Graças à linguagem dupla dos especialistas em política monetária, a utilização de políticas monetárias que levam a uma alta inflação pode não ser percebida pelo grande público. A política monetária pode, portanto, ser desencadeada de forma que o público não concorde caso seja informado de suas consequências a médio e longo prazo.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Como resultado, há uma forte razão para temer que a confusa linguagem orwelliana e o pensamento confuso que ela produz pavimentem o caminho para a hiperinflação.</span><br />
<b style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></b><br />
<b style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Thorsten Polleit</b><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> é Professor Honorário da Escola de Finanças e Administração de Frankfurt.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Notas:</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">[1] Nota do Editor: as datas de nascimento e morte de Parmênides são objeto de debate. Ele provavelmente escreveu a maior parte de sua obra antes do ano 500 A.C.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">[2] Note que o termo “linguagem dupla” não aparece em nenhum lugar na obra de Orwell, 1984.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">[3] Orwell, G. 1984. Tradução de Wilson Velloso. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005, p. 36-37.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">[4] A expressão pode ser encontrada frequentemente na mídia financeira. De qualquer forma, ela também é utilizada na literatura acadêmica. Veja, por exemplo, Curdia, V., Woodford, M. (2010), Conventional and Unconventional Monetary Policy. In: Federal Reserve of St. Louis Review, jul./ago., 92(4), p. 229–264. Deve-se notar que, no último artigo, os autores não apresentam nenhuma definição do que realmente querem dizer com “política monetária não convencional”. Uma definição de tipos pode ser encontrada em Bini Smaghi, L., Conventional and unconventional monetary policy, conferência principal no International Center for Monetary and Banking Studies (ICMB), Gênova, 28 abr. 2009: “As ferramentas não convencionais incluem uma grande quantidade de medidas destinadas a facilitar as condições de financiamento.” No entanto, tal definição basicamente inclui todos os tipos de medidas políticas:</span><br />
<blockquote class="tr_bq">
<i style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Tendo ao seu dispor essas opções de possíveis medidas políticas– as quais não são mutuamente exclusivas – os formuladores de política monetária têm que definir, de forma clara, os objetivos intermediários de suas políticas não convencionais. Estes podem variar desde o provimento de liquidez adicional do banco central aos bancos ou até mesmo atacar diretamente a escassez de liquidez e spreads de crédito em certos segmentos de mercado. Os formuladores de política, então, têm que selecionar as medidas que melhor se ajustam àqueles objetivos.</i></blockquote>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">[5] Veja, por exemplo, Bank for International Settlement, 80º Relatório Anual, 28 jun. 2010, p. 36.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">[6] "Quantitative easing" é um crescimento na oferta da base monetária, uma política monetária adotada no caso de a taxa de juros oficial atingir zero porcento. O termo se tornou público pelo Banco do Japão, que adotou a política de quantitative easing, de março de 2001 a março de 2006. Veja, por exemplo, Ugai, H., Effects of the Quantitative Easing Policy: A Survey of Empirical Analyses, Série de Documentos do Banco do Japão, n. 6, jul. 2006.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">[7] Por exemplo, o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, disse antes do Comitê de Negócios Econômicos e Monetários do Parlamento Europeu, em 21 de junho de 2010:</span><br />
<blockquote class="tr_bq">
<i style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Como o objetivo do programa não é injetar liquidez adicional no sistema bancário, nós neutralizamos completamente a aquisição de títulos por meio de operações específicas de reabsorção. Como resultado, o nível existente de liquidez e as taxas do mercado monetário não são afetados pelo programa. Em outras palavras, a nossa postura de política monetária não é afetada, e não há riscos inflacionários relacionados a esse programa.</i></blockquote>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">[8] A ampla liquidez tornou-se um termo muito usado. Veja, por exemplo, Bank of France Bulletin Digest, n. 158, fev. 2007, p. 1–2; e também Hirose, Y., Ohyama, S., Taniguchi, K., Identifying the Effect of Bank of Japan's Liquidity Provision on the Year-End Premium: A Structural Approach, Série de Documentos do Banco do Japão, n. 9, E6, dez. 2009.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">[9] Declaração do BCE à imprensa: "BCE decide sobre as medidas para enfrentar graves tensões nos mercados financeiros", 10 de maio de 2010.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">[10] Note que há uma relação reversa entre o preço do título e seu retorno: se a taxa de juros de mercado sobe (cai), o preço do título cai (sobe). Então, uma política de preços mínimos é essencialmente o mesmo que uma política de taxa máxima de juros.</span><br />
<div style="font-weight: bold;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">* *</span></div>
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Tradução de Marcelo Aguiar Cerri e Raysa Sales</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2567792152982859459.post-11466190783173319322011-07-06T09:17:00.000-07:002011-07-06T11:39:35.822-07:00"Trilogia" Alceu GarciaAlguns textos têm a incrível capacidade de concatenar e esclarecer conceitos os quais já conhecíamos mas que estavam um tanto desconexos. Esse é o grande valor dos três artigos abaixo, cuja lavra é de Alceu Garcia (pseudônimo de Pedro Mayall Guilayn). Os trabalhos foram publicados no início da década passada.<br />
<br />
Os créditos dessas valiosas recomendações vão para Lucas Mendes, editor do blog <a href="http://austriaco.blogspot.com/"><b>Austríaco</b></a>. Nossos sinceros agradecimentos.<br />
<br />
<b><a href="https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=explorer&chrome=true&srcid=0B8okAQj4S2bsYWRlMjM5NDAtNzg5OS00NWVhLTk5MWEtY2VmMzkzMGQwZWZl&hl=pt_BR">A teoria econômica de Lord Keynes e a ideologia triunfante do nosso tempo</a></b><br />
<blockquote><i>A obra teórica de Keynes foi na verdade anti-teórica. Seu objetivo era nada mais, nada menos do que demolir a ciência econômica como tal e substituí-la por um simulacro de ciência. Esse fôra o desejo de muitos pensadores socialistas antes de Keynes. Como Arthur Marget observou, Proudhon, Marx, Veblen, Schmoller, Henry George, Hobson e suas respectivas escolas haviam atacado violentamente a economia, mas todos fracassaram sobretudo por serem outsiders. Keynes, ao contrário, estava muito bem situado dentro da cidadela mesma da economia e por isso sua investida foi bem sucedida. Keynes foi um presente de grego dos fabianos para a ciência econômica, um cavalo de tróia introduzido no coração da fortaleza. Seu trabalho subsequente foi o de abrir os portões para as hordas fabianas ocuparem o terreno.</i></blockquote><br />
<b><a href="https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=explorer&chrome=true&srcid=0B8okAQj4S2bsN2UxYWJkMzgtNTMzYS00NGM3LTg0MzktYmViYThiNjYzNzYw&hl=pt_BR">Concorrência, monopólio e estado</a></b><br />
<blockquote><i>Concorrência na economia não é um esporte com jogadores em condições de igualdade; é um processo no qual os ganhadores não são os concorrentes e sim os consumidores. É o interesse destes que deve ser privilegiado, não o dos produtores. Por outro lado, se a entrada num determinado mercado exige recursos vultosos, isso tem o mérito de desencorajar amadores e diletantes, pois entregar recursos escassos a produtores ineficientes significa desperdiçá-los.</i></blockquote><br />
<b><a href="https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=explorer&chrome=true&srcid=0B8okAQj4S2bsOWQ4ZjYwMzItMzEwYS00M2JiLTllMGQtMmE5NmY4MjI5ZTI5&hl=pt_BR">A Escola Austríaca e a refutação cabal do socialismo</a></b><br />
<blockquote><i>Pois um discípulo de Bohm-Bawerk, Ludwig von Mises, foi mais além, atingindo a raiz do problema do socialismo, que é ainda mais profunda do que a complicação dos incentivos permite vislumbrar. Mises descobriu que a atividade econômica em uma economia complexa depende de um cálculo prévio que leve em conta os preços monetários dos fatores de produção. Impossível esse cálculo, impossível a atividade econômica. Ocorre que, numa sociedade socialista pura, todos os fatores de produção pertencem a um único dono: o Estado. Sem propriedade privada os fatores não são trocados e, logo, não têm preço. A escassez relativa dos fatores de produção e seus usos alternativos fica oculta e o planejador central inexoravelmente é levado a agir às cegas.</i></blockquote><br />
Caso queiram salvar os textos em formato PDF executem o comando "CTRL + S" depois de acessarem os respectivos links. Para imprimir, "CTRL + P".Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2567792152982859459.post-86561239535544795102011-06-30T08:21:00.000-07:002011-06-30T08:36:09.243-07:00A revolta contra a razão<span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><b><i>por Ludwig von Mises</i> (extraído de "<a href="http://www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=44">Ação Humana</a>", capítulo 3)</b></span><br />
<br />
Houve, ao longo da história, filósofos que não hesitaram em superestimar a capacidade da razão. Supunham que o homem fosse capaz de descobrir, pelo raciocínio, as causas originais dos eventos cósmicos ou os objetivos que a força criadora do universo, determinante de sua evolução, pretendia alcançar. Discorreram sobre o "absoluto" com a tranquilidade de quem descreve o seu relógio de bolso. Não hesitaram em anunciar valores eternos e absolutos nem em estabelecer códigos morais que deveriam ser respeitados por todos os homens.<br />
<br />
Houve também uma longa série de criadores de utopias. Imaginavam paraísos terrestres onde só prevaleceria a razão pura. Não percebiam que aquilo que consideravam como razões finais ou como verdades manifestas eram tão somente fantasia de suas mentes. Consideravam-se infalíveis e, com toda tranquilidade, defendiam a intolerância e o uso da violência para oprimir dissidentes e heréticos. Preferiam a implantação de um regime ditatorial, ou para si mesmo, ou para aqueles que se dispusesse a executar fielmente os seus planos. Acreditavam que essa era a única forma de salvação para uma humanidade sofredora.<br />
<br />
Houve Hegel. Certamente foi um pensador profundo; suas obras são um rico acervo de ideias estimulantes. Não obstante, escreveu sempre dominado pela ilusão de que Geist, o Absoluto, revelava-se por seu intermédio. Não havia nada no universo que não estivesse ao alcance da sabedoria de Hegel. Pena que sua linguagem fosse tão ambígua, a ponto de ensejar múltiplas interpretações. Os hegelianos de direita entenderam-na como um endosso ao sistema prussiano de governo autocrático, bem como aos dogmas da igreja prussiana. Os hegelianos de esquerda extraíram de suas teorias o ateísmo, o radicalismo revolucionário mais intransigente e doutrinas anarquistas.<br />
<br />
Houve Augusto Comte. Pensava conhecer o futuro que estava reservado para a humanidade. E, portanto, considerava-se o supremo legislador. Pretendia proibir certos estudos astronômicos, por considerá-los inúteis. Planejava substituir o cristianismo por uma nova religião e chegou a escolher uma mulher para ocupar o lugar da Virgem. Comte pode ser desculpado, já que era louco, no sentido mesmo com que a patologia emprega este vocábulo. Mas como desculpar os seus seguidores?<br />
<br />
Muitos outros exemplos deste tipo poderiam ser enumerados. Mas não podem ser usados como argumentos contra a razão, o racionalismo ou a racionalidade. Tais desvarios não têm nada a ver com o problema essencial que consiste em procurar saber se a razão é ou não o instrumento adequado e único de que dispõe o homem para obter tanto conhecimento quanto lhe seja possível. Aqueles que, honesta e conscienciosamente, procuram a verdade jamais pretenderam que a razão e a pesquisa científica possam responder a todas as questões.<br />
<br />
Sempre tiveram plena consciência das limitações da mente humana. Não podem ser responsabilizados pela tosca filosofia de um Haeckel, nem pelo simplismo de diversas escolas materialistas.<br />
<br />
Os filósofos racionalistas sempre estiveram preocupados em mostrar tanto os limites da teoria apriorística quanto os da investigação empírica. David Hume, o fundador da economia política inglesa, os utilitaristas e os pragmatistas americanos não podem ser acusados de haver superestimado a capacidade do homem para alcançar a verdade. Seria mais justificável acusar a filosofia dos últimos duzentos anos de um excesso de agnosticismo e de cepticismo do que de um excesso de confiança no que poderia ser alcançado pela mente humana.<br />
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A revolta contra a razão, atitude mental típica de nossa época, não se origina na falta de modéstia, cautela ou autocrítica por parte dos filósofos. Tampouco pode ser atribuída a falhas na evolução da moderna ciência natural. Ninguém pode ignorar as fantásticas conquistas da tecnologia e da terapêutica. É inútil atacar a ciência moderna, seja do ponto de vista do intuicionismo e do misticismo, seja de qualquer outro ângulo. A revolta contra a razão foi dirigida para outro alvo. Não tinham em mira as ciências naturais, e sim a economia. O ataque às ciências naturais foi uma consequência lógica e natural do ataque à economia. Seria inconcebível impugnar o uso da razão em um determinado campo do conhecimento, sem impugná-lo também nos demais.<br />
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Esta insólita reação teve sua origem na situação existente em meados do século XIX.<br />
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Os economistas já tinham, naquela época, demonstrado cabalmente que as utopias socialistas não passavam de ilusões fantasiosas. Entretanto, as deficiências da ciência econômica clássica os impediram de compreender por que qualquer plano socialista é irrealizável; mas eles já sabiam o suficiente para demonstrar a futilidade dos programas socialistas. As ideias comunistas já estavam derrotadas. Os socialistas não tinham como responder às devastadoras críticas que lhes eram feitas, nem como aduzir qualquer argumento novo em seu favor.Parecia que o socialismo estava liquidado, e para sempre.<br />
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Só havia um caminho para evitar a derrocada: atacar a lógica e a razão e substituir o raciocínio pela intuição mística. Estava reservado a Karl Marx o papel histórico de propor esta solução. Com base no misticismo dialético de Hegel, Marx, tranquilamente, arrogou-se a capacidade de predizer o futuro. Hegel pretendia saber que Geist, ao criar o universo, desejava instaurar a monarquia de Frederico Guilherme III. Mas Marx estava mais bem informado sobre os planos de Geist: havia descoberto que a evolução histórica nos conduziria, inevitavelmente, ao estabelecimento do milênio socialista. O socialismo estava fadado a acontecer "com a inexorabilidade de uma lei da natureza". E como, segundo Hegel, cada fase ulterior da história é melhor e superior do que a que a antecedeu, não cabia nenhuma dúvida de que o socialismo, a etapa final da evolução da humanidade, seria perfeito sob todos os aspectos. Assim sendo, resultava inútil a discussão dos detalhes do funcionamento de uma comunidade socialista. A história, no devido tempo, disporia todas as coisas da melhor maneira; e para isso não necessitava da ajuda dos homens, meros seres mortais.<br />
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Mas havia ainda um obstáculo principal a superar: a crítica devastadora dos economistas. Marx, entretanto, já tinha uma solução para superar este obstáculo. A razão humana, afirmava ele, por sua própria natureza, não tem condições de descobrir a verdade. A estrutura lógica da mente varia segundo as várias classes sociais. Não existe algo que se possa considerar como uma lógica universalmente válida. A mente humana só pode produzir "ideologias", ou seja, segundo a terminologia marxista, um conjunto de ideias destinadas a dissimular os interesses egoístas da classe social de quem as formula. Portanto, a mentalidade "burguesa" dos economistas é absolutamente incapaz de produzir algo que não seja uma apologia ao capitalismo. Os ensinamentos da ciência "burguesa", que são uma consequência da lógica "burguesa", não têm nenhuma validade para o proletariado, a nova classe social que abolirá todas as classes e transformará a Terra num paraíso.<br />
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Mas, evidentemente, a lógica da classe proletária não é apenas a lógica de uma classe. "As ideias que a lógica proletária engendra não são ideias partidárias, mas emanações da lógica mais pura e simples". Mas ainda, em virtude de algum privilégio especial, a lógica de certos burgueses não estava manchada pelo pecado original de sua condição burguesa. Karl Marx, o filho de um próspero advogado, casado com a filha de um nobre prussiano, e seu colaborador Frederick Engels, um rico fabricante de tecidos, se consideravam acima de suas próprias leis e, apesar da origem burguesa, se julgavam dotados da capacidade de descobrir a verdade absoluta.<br />
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Compete à história explicar as condições que fizeram com que essa doutrina tão primária se tornasse tão popular. A tarefa da economia é outra. Compete-lhe analisar o polilogismo marxista, bem como todos os demais tipos de polilogismo formados segundo o mesmo modelo, e demonstrar suas falácias e contradições.<br />
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Para mais informações sobre o polilogismo marxista, acessem os links abaixo.<br />
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<b><a href="http://www.endireitar.org/site/artigos/socialismo-comunismo/106-polilogismo-karl-marx-e-os-nazistas">Polilogismo: Karl Marx e os Nazistas</a> </b>(Ludwig von Mises)<br />
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<a href="http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=283"><b>A falácia do polilogismo</b></a> (Rodrigo Constantino)<br />
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<b><a href="http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=982">Marxismo sem polilogismo - há algo aproveitável em Marx?</a> </b>(Jeffrey Tucker)<br />
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<a href="http://www.youtube.com/watch?v=9SfRr04FE54"><b>El Polilogismo</b></a> (vídeo de Jesus Huerta de Soto)Unknownnoreply@blogger.com0