segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Amizade colorida


por Daniel Marchi (publicado originalmente no blog da Revista Vila Nova)

Uma das indústrias nacionais mais pujantes nos últimos tempos é a dos “pacotes”. O governo, claro, é o principal responsável por isso. Percebam que toda semana é anunciado um novo modelo desse produto. Pacotes de estímulo ao consumo, de fomento do turismo, de construção de imóveis, de aumento de tarifas de importação, de redução de encargos, de apoio aos produtores de própolis orgânica de Potirendaba, etc etc. Nunca antes… bom, vocês já sabem.

Na última quinta-feira nossos guias de Brasília apresentaram um pacote de desoneração da folha de pagamento para 25 setores (ler notícia aqui), enquanto na semana passada os consumidores brasileiros foram brindados com o aumento das tarifas de importação de 100 produtos (ler notícia aqui). Dentre eles a batata, atividade agrícola a qual muitos políticos e burocratas possuem incrível talento enrustido.

Sem muitas delongas, o fato é que o governo dos trabalhadores descobriu o óbvio. Construiu-se no Brasil, desde tempos imemoriais, um fabuloso sistema de intervencionismo econômico. Todos os setores são alvos dos mais variados tipos de regulações e devem decifrar os bizantinos códigos tributários, contratações e demissões, sempre à mercê de um sistema de leis e tribunais cuja mentalidade anti-capitalista é inegável.

E o mais importante, empresários são seres humanos, e estes não gostam muito de concorrência. No livre mercado, sem essa pletora de normas a cumprir e impostos a pagar, eles tentam minimizar a concorrência pela via da inovação e do bom atendimento. No intervencionismo, é mais fácil contratar meia dúzia de lobbistas e mandá-los à Capital participar de alguma “câmara setorial” ou coisa do gênero, a fim de elaborar o próximo pacote. Qualquer grupo político está incentivado a proceder dessa forma, mas nota-se que o partido oficial aprendeu isso como ninguém. Uma mão lava a outra e as duas se cumprimentam na próxima campanha.

Voltando ao tema inicial, todos esses conjuntos de medidas que o governo vem tomando decorre do fino aprendizado rapidamente descrito acima. Para dirigir a economia, colocar o empresariado sob as rédeas do interesse oficial e, por tabela, beneficiá-los, não é necessário nenhum procedimento extravagante. A receita é simples: bastam alguns procedimentos de cunho “administrativo”, devidamente dourados com os velho lero-lero desenvolvimentista e nacionalista. No plano econômico, os consumidores mal perceberão que as lojas estarão sempre com os mesmos produtos, caros e de qualidade inferior. No plano político, nada terá se alterado com as regras formas do tal estado democrático de direito.

Benito Mussolini, grande mestre do intervencionismo, foi muito feliz ao afirmar que “o fascismo deveria ser justamente chamado corporativismo, porque é a concentração do poder corporativo e governo”. É sob o signo das piores práticas econômicas, sociais e políticas que se desenvolve a amizade colorida entre grandes empresas e governo federal, relacionamento que se fortalecerá com o próximo pacote.

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Daniel Marchi é economista e membro-fundador do Grupo de Estudos da Escola Austríaca de Brasília. E-mail danielmarchi@gmail.com

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